The Fall de Kristof Hoornaert é uma curta-metragem belga de ficção e sem grandes reservas afirma-se como um dos mais fortes filmes curtos que vi nos últimos tempos.
Steve (Geert Van Rampelberg) e Anne (Natali Broods) são um casal a gozar as suas férias num tranquilo passeio de carro por uma floresta praticamente deserta. Se por um lado os seus silêncios revelam uma tranquilidade e descontração naturais para quem viaja, não é menos verdade que os mesmos nos fazem sentir a aproximação de um qualquer momento que os irá transformar irremediavelmente.
E nesse mesmo instante ele chega confirmando que mesmo no meio de um ambiente tranquilo e posivelmente idílico para aquele jovem casal, pode surgir o momento em que são obrigados a confrontar-se com a sua própria Humanidade... ou falta dela.
Hoornaert, que também escreveu este argumento, faz-nos reflectir sobre a consciência e a culpa individual e da forma como ambas nos podem separar dos restantes animais ao atribuir-nos uma responsabilidade eterna sobre a prática dos nossos actos, ou seja, dotados de uma forma racional de pensar somos obrigados a perceber os dois lados de uma mesma questão tentando dessa forma encontrar a melhor resposta para um qualquer problema. Assim, quando optamos por acartar com as responsabilidade dos nossos actos pomos em prática o lado que aceita as consequências sobre o que fizemos, ou vimos e, não nos ausentando da mesma, percebemos que existimos ainda como uma parte integrante de uma sociedade e, acima disso, dotados daquilo que nos separa de um total estado selvagem... a nossa Humanidade.
Como consequência directa, Hoornaert define também um importante traço desta magnífica curta-metragem ao estabelecer o retrato do comportamento das suas personagens face a um momento de crise e de provação. Enquanto um "Steve" se mostra mais preocupado com as consequências, reais ou não, de confirmar o seu acto involuntário, "Anne" mostra-se mais concentrada no facto de não o confessar, vivendo assim num dilema sobre que caminho seguir tendo apenas uma certeza que reside no facto de depois daquele momento, tomem que decisão tomarem, nada irá permanecer como até então.
Interessante é também o facto de nos primeiros instantes desta curta-metragem sermos inseridos num ambiente familiar bastante pacífico e que nos deixa num estado de tranquilidade absoluta para, de repente e sem anteciparmos como ou o quê, sermos completamente abalados com um acontecimento trágico e violento que abala as nossas próprias certezas e convicções sobre o potencial, ou falta dele, da já referida Humanidade de cada um de nós, e sentimos que toda aquela floresta é, também ela, parte bem integrante de toda a acção e que muito rapidamente nos parece não um qualquer ambiente natural mas sim o purgatório onde cada um será julgado pelos actos que tomou.
The Fall poderá assim ser definida por várias palavras-chave sendo que todas elas são, no essencial, significado de excelência e que fazem de Kristof Hoornaert, já nomeado a um Urso de Ouro do Festival Internacional de Cinema de Berlim com a curta-metragem Kain, um valor seguro do cinema europeu e do qual, tenho completa certeza, teremos ainda muitos e muito bons filmes para ver no futuro.
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9 / 10
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