Las Séxicas de César Marí Soucase é uma curta-metragem espanhola que decorre no início dos anos 80 do século passado, e que nos apresenta a Amanda (Esther Sánchez) e a Lola (Javier Chisvert), duas transsexuais já nos seus trinta anos que além de se conhecerem há muito tempo partilham dois objectivos. O primeiro é manter o seu ginásio em Valência e o segundo é participar com uma girls-band no Festival Eurovisão da Canção.
Quando colocam um anúncio no jornal conhecem Carmen Totala (Carles Montoliu), uma cabeleireira de Múrcia, e Yurinka (Marino Muñoz) uma imigrante peruana que pretende efectivar toda a sua transformação. No entanto, é quando Carmen Totala morre que embarcam numa viagem onde conhecem Palomares (Rafa Alarcón) um polícia com uma história muito particular, e onde na cidade natal de Totala conhecem a família que esta havia abandonado e por quem foi repudiado, descobrindo assim que os seus sonhos falam mais alto do que qualquer conceito pré-concebido sobre elas próprias.
O simpático e por vezes emotivo argumento de César Marí Soucase consegue por um lado criar toda uma história que tem mais de extravagante e alucinado do que real mas, no entanto, capta também um lado humano das personagens que cria que nos permite perceber que ali sim reside alguma dessa humanidade julgada desaparecida. A excentricidade é assim a única forma que alguns têm para poder encarar o mundo e principalmente o julgamento e o dedo recriminador de outros que não querendo olhar o diferente o preferem marginalizar e, dessa forma, os excêntricos e diferentes vivem o mundo da sua própria maneira através de uma liberdade que lhes é auto-conferida. Soucase consegue assim captar este lado através de uma componente cómica que sentimos presente desde o início desta curta-metragem e que através do fim de alguns estereótipos e ideias pré-concebidas nos cativa e nos faz render àquelas tão peculiares personagens.
Ao mesmo tempo existe um lado mais sério, dramático e que nos faz descer à Terra e pensar que nem tudo, ou pelo menos não a todo o momento, é tão ligeiro e sonhador. Existe sim um lado real, por vezes cru e duro demais para equacionarmos que a "nós" não nos afecta e, doseado na perfeição, consegue equilibrar a fasquia e transformar esta original curta-metragem numa história com uma mensagem mais complexa, e ao mesmo tempo mais humana, do que inicialmente poderíamos pensar.
Se as quatro originais amigas conseguem ser o espírito desta curta-metragem e fascinarem o espectador ao mesmo tempo que desejamos que este filme pudesse ter um pouco mais de duração, não é menos verdade que as personagens mais intrigantes e cómicas, e que revelam ao mesmo tempo uma certa revolução nos preconceitos que todos temos, ficam a cargo de "Yurinka" e "Palomares", e ambos exactamente pelo facto de desafiarem e contrariarem aquilo que deles esperamos logo desde o primeiro instante, e que muito se deve às alucinantes interpretações dos dois muito inspirados Marino Muñoz e Rafa Alarcón que sem terem à partida as principais personagens desta curta, são aqueles dois que mais nos fazem rir captando assim a nossa atenção.
Javier Chisvert através da sua música original e Celia Riera com a sua direcção de fotografia inserem-nos nos muito característicos anos 80 do século passado, e graças à caracterização de Meri Esposito e José Tellez bem como ao igualmente inspirado guarda-roupa de Cristina Pérez, Laura Bernal, Maria Angeles Camacho e Candi Abellán sentimo-nos como se estivessemos presentes num qualquer ambiente também ele alucinado mas repleto de símbolos que caracterizam acima de tudo o resto, a personalidade efervescente de cada uma destas personagens repletas de vida.
Uma curta-metragem obrigatória pela sua animação, pelas barreiras que quebra e sobretudo pelas personagens humanas e com sonhos que decidem marcar a sua presença, naquele que é um claro triunfo do realizador César Marí Soucase.
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"Ser feliz es lo que quiero ser!"
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8 / 10
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