Escola de Criminosos de Steve Buscemi consegue reunir um conjunto interessante e bem dinâmico de actores entre os quais se destacam Willem Dafoe, Mickey Rourke, Edward Furlong, Tom Arnold, John Heard e Danny Trejo, numa história cujo argumento de John Steppling e Edward Bunker baseado no romance homónimo deste último, nos insere no submundo do crime dentro de uma prisão.
Ron (Furlong) é um jovem vindo de boas famílias sentenciado para cumprir pena de prisão por posse e consumo de marijuana, e que logo de início da sua estada na mesma consegue despertar a simpatia e atenção de Earl (Dafoe), um veterano que mantém a sua influência dentro do estabelecimento e que assim o protege.
Este argumento explora assim aos poucos aspectos como o racismo e a violência prisional, os abusos e as tentativas de violação bem como a propagação de droga dentro da prisão que, aos poucos, parece ter tanto do controle dos guardas como dos próprios detidos que se movimentam sem darem qualquer conhecimento do seu paradeiro àqueles que supostamente controlam o espaço. No final, a questão que nos é colocada prende-se com "Ron" e sobre a possibilidade deste sobreviver aos perigos que espreitam de cada cela ou tornar-se-à ele num animal pelo excesso de violência a que é sujeito e com a qual é forçado a conviver?
Não sendo propriamente um filme inovador no género, não é menos verdade que este nos cativa graças ao seu elenco que tem alguns intensos actores cujas passadas interpretações falam por si. Começando por Willem Dafoe que é um carismático actor que consegue retirar o melhor de cada vilão que interpreta, aqui surpreende-nos com o desempenho de "Earl", um homem que controla a prisão e estabelece uma intensa rede de conhecimentos que lhe permitem gozar de alguma tranquilidade que em liberdade jamais conhecera. A prisão é a sua verdadeira casa e é por ali que pensa poder ficar pois é onde encontra os seus mais leais amigos e um lugar a que pode realmente chamar "seu". É então que "Earl" conhece "Ron", e não só desenvolve por ele uma estranha e invulgar empatia que tem um misto de paternal como de sentimental, assumindo-se assim logo de imediato o seu protector.
É então que temos o "Ron" interpretado por Edward Furlong e que revela uma maior transformação ao longo deste filme. Por um lado começa como o mimado jovem que vindo de uma família abonada teve os seus pequenos e talvez insignificantes devaneios mas que, no momento errado à hora errada, o levam para aquelas inesperadas paragens. De um jovem aparentemente indefeso e inconstante que facilmente seria uma presa nas teias de corrupção prisional, passa a um tipo experiente e com desejos de vingança que ultrapassam a compreensão daqueles que ali vivem há anos e que aos poucos se transformaram no próprio "sistema". E será também "Ron" aquele que com o tempo aparenta estar mais ligado e cúmplice desse mesmo sistema dentro do qual esteve inicialmente perdido. Assim, coloca-se a questão principal e que faz girar muito do filme... até que ponto pode o sistema transformar aqueles que nele vivem ao ponto de transformar o mais insuspeito dos homens num comum lacaio ao seu serviço, desprovido de uma consciência do eu, dos outros e dos limites ou consequências que as suas acções podem, ou não, ter?
Finalmente no domínio das interpretações há que realçar a mais surpreendente de todas composta por um insuspeito Mickey Rourke que aqui dá vida, e muita alma, a "Jan" um homossexual que alegra os seus parceiros de prisão das mais variadas formas, numa composição deste actor que está longe de ser uma das suas habituais.
Se é verdade que este filme nos faz pensar sobre a forma como o sistema, independentemente das suas especificidades, transforma o Homem ao ponto de fazer dele um ser irracional, não é menos verdade que na sua generalidade vive de momentos feitos muito tipificados em filmes deste género não contribuindo de uma forma significativa para a composição de uma obra nova, moderna e com um factor surpresa que consiga realmente impressionar pela positiva. Assim, e exceptuando um ou outro segmento mais intenso, aquilo que aqui nos é apresentado é uma interessante composição a cargo deste conjunto de actores que, no seu conjunto, conseguem compôr um filme que não é intenso mas que denota alguma sensibilidade, ou consequente falta dela, das personagens que apresenta tendo estas, no entanto, muito mais de si por explorar.
Vale pelo segmentos intensos que ainda consegue criar e pelas personagens que apresenta mas não consegue, no entanto, descolar-se do tradicional filme de prisão a que já estamos habituados, mesmo que nos chegue pelas mãos de um carismático actor como Steve Buscemi e que aqui denota um pouco das também suas excêntricas personagens.
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6 / 10
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