Bruxis de Christian Bastias é uma curta-metragem chilena cujo argumento, também escrito por Bastias, é inspirado no conto de Edgar Allen Poe, The Tell-Tale Heart.
Victor (Alex Rivera) trabalha numa morgue e naquela noite específica percebemos que está impaciente. Eduardo (Ignacio Balarí) é o seu animado colega que leva a vida tranquila mas que faz denotar uma certa ironia no trato com Victor. Existe uma óbvia animosidade entre os dois que já é um facto recorrente.
Mas a noite é longa e o tempo parece ser cada vez mais difícil de passar, e principalmente de suportar, fazendo com que os ódios de estimação que cada um nutre pelo outro seja quase impossível de esconder. Será que a autópsia que têm de efectuar antes da chegada do polícia (Álex Hofmann) irá finalmente revelar a verdadeira natureza de cada um deles?
Bastias consegue escrever um argumento para uma curta-metragem que se torna viciante logo nos minutos iniciais, e que apesar de nos fazer prever um desfecho assumidamente mau para as respectivas personagens, não deixa de nos surpreender pelo quão bem corre apesar de não ser (aparentemente) planeado pelas mesmas.
E é Alex Rivera que com o seu "Victor" mais contribui para a tensão que se sente ao longo desta curta-metragem. É ele que percebe que o ambiente em que se encontra já é complicado por natureza pois é ele que lida invariavelmente com cadáveres todos os dias e com aspectos mais melindrosos que os levaram até àquele local e, como se isso não bastasse, ainda se vê confrontado com as piadas ofensivas e sem limites que o seu colega insiste em dizer. Rivera faz-nos perceber que pode explodir a qualquer momento e que aquela sala começa a ficar pequena para que lá estejam dois corpos com vida. Sentimos a sua impaciência, a sua percepção de um tempo que insiste em não passar assim como uma certa noção de claustrofobia que aparenta fazê-lo sentir-se enclausurado. E percebemos também que ele não irá aguentar durante muito mais tempo sem reagir às provocações que ignorou durante muito tempo.
Desorganizado ao eliminar os vestígios dos seus actos, o seu "Victor" consegue ainda assim ser meticuloso e surpreendentemente preparado para em situações de crise e de emergência sair por cima e sem aparentes problemas quando involuntariamente interpelado pela polícia e principalmente curioso o facto da sua personagem conseguir criar laços de simpatia com o espectador apesar de ter cometido um acto hediondo que qualquer um de nós iria recriminar.
Destaco ainda dois elementos fundamentais para o agravar da tensão da história e que em comunhão funcionam perfeitamente para a sensação de clausura sentida por "Victor"... a música de Alexander Muñoz que nos faz antever o clímax e a direcção de fotografia de Vladimir Escobar que graças à presença de uma luz de tonalidades azuis que é assumidamente escassa, permite-nos sentir que o espaço em que se encontram pode ser grande mas que, na prática, nunca será o suficiente para que aqueles dois homens possam conviver sem se atropelar.
Um filme intenso muito bem dirigido e interpretado que nos cativa e surpreende.
8 / 10
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