domingo, 14 de julho de 2013

Woensdagen (2011)

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Woensdagen de Aaron Rookus, que também escreve o argumento, é uma curta-metragem holandesa de ficção e vencedora de uma das edições do início do ano.
Kris (Tyn Hageman) é uma criança de oito anos que todas as quartas-feira acompanha Willem (Viktor Griffioen), um homem de 28 anos, à piscina onde os dois se divertem a nadar, mergulhar e descer pelos inúmeros tubos para dentro de água.
Quando num desses dias de diversão Kris me magoa num pé, Willem sugere-lhe que vão comer umas batatas fritas antes de se irem embora. É quando Kris pensa que passou um dia de diversão e quando estão prestes a abandonar a piscina que Willem o confronta com uma questão que irá abalar para sempre a sua jovem existência.
O argumento de Rookus coloca-nos muito cedo perante uma situação que achamos estranha. Não por seremos confrontados com algo que seja óbvio ou tenebroso, mas pelo facto de existir no conjunto de imagens do jovem "Kris" enquanto se encontra na piscina, um silêncio ensurdecedor que nos faz criar lentamente uma sensação de desconforto e de que algo se esconde por detrás de uma aparente normalidade.
São também estas mesmas imagens destes segmentos que nos mostram uma jovem criança curioso com a anatomia, quer feminina quer masculina, que silenciosamente observa quando ninguém o observa a ele; as pernas desprovidas de rosto dentro da piscina, os adolescentes com as suas pequenas e insinuantes interacções, assim como o corpo feminino que passa no balneário ou até mesmo o de "Willem" enquanto está no duche. A normal "descoberta" feita por alguém que se encontra numa idade em que a curiosidade ganha uma vida própria e lhe interessa saber o porquê das formas femininas diferentes das suas, ou até mesmo as diferenças entre o corpo de alguém mais velho por quem tem uma amizade.
No entanto, não é menos verdade que a sua inocente tentativa de descobrir o "outro" está a ser lentamente observada como se ele se tratasse (e trata) de uma presa inocente que desconhece que o predador está bem mais perto do que ele poderia alguma vez imaginar. Predador esse que lentamente foi ganhando a sua confiança, o seu respeito, a sua amizade e que se preparava para o encurralar num canto de onde ele dificilmente poderia (poderá?) sair, retraindo-se cada vez mais no seu pequeno e indefeso espaço.
O jovem Tyn Hageman tem aqui uma interpretação fundamental e muito bem executada enquanto a jovem e indefesa vítima que vai sendo cercada sem poder ou conseguir oferecer resistência. O seu "Kris" é um jovem pacato, isolado e aparentemente sem grande interacção com outras crianças da idade dele o que o torna vulnerável perante as pequenas descobertas e aventuras que as jovens crianças da idade dele podem ter. Isolado e aparentemente sem amigos, "Kris" está assim sujeito às inúmeras investidas que um predador lhe poderá efectuar sem que, dessa forma, tenha alguém que por ser da sua idade e com ele descobrir também os pequenos mundos que compõem o mundo esteja, ao mesmo tempo, alerta para os pequenos sinais alarmantes que o seu crescimento deveria emitir. A sua inicial inocência que o faz ser igual a tantas outras crianças é subitamente perdida quando se vê confrontado com uma proposta que iria abalar toda a sua zona de conforto e o seu "Kris" é notável na personificação desta inocência que jamais voltará.
Por sua vez Viktor Griffioen é, também ele, perspicaz na sua composição e apesar de percebemos que algo existe de errado no seu "Willem", não é menos verdade que a ausência de uma identificação clara ao longo da curta-metragem graças à câmara de Rookus que lhe esconde a cara quase durante todo o filme, o tornam assim o predador desconhecido que pode ser qualquer um... um amigo, um vizinho, um familiar ou um qualquer estranho que cruza os mesmos espaços que aquela jovem criança sendo possivelmente esta a grande mensagem que esta curta-metragem e seu respectivo argumento entregam para o seu público... o perigo, ou um predador, podem esconder-se por detrás do mais familiar ou inocente rosto... mesmo um que conhecemos.
Toda esta atmosfera é enaltecida pela direcção de fotografia de Robbie van Brussel que nos momentos iniciais capta uma luz quase alva (dentro e fora de água) característica de um ambiente quase etéreo e onde a inocência do jovem "Kris" deve ser inaltecida, transformando-se quase drasticamente num segundo momento da curta onde, depois de confrontado com o Mal, somos apresentados a um ambiente mais fechado, mais escuro e mais claustrofóbico onde o próprio ambiente anteriormente com a presença de alguns raios de luz do Sol, dá lugar a um carregado ambiente cinza onde percebemos que apesar de ainda intocada, a inocência de "Kris" está agora perdida.
Woensdagen é um filme cru, bruto e avassaladoramente forte que nos deixa constantemente desconfortáveis com as imagens a que assistimos pois sentimos a presença de uma "sombra" apesar de algumas delas, as da piscina principalmente, terem presente alguns elementos artísticos que facilmente nos cativam.
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10 / 10
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