WWZ: Guerra Mundial de Marc Forster é possivelmente o filme sensação do ano se considerarmos todo o secretismo e mediatismo em que esteve envolvido, bem como pela participação de Brad Pitt como o protagonista, único e exclusivo, deste filme.
Gerry Lane (Pitt) é um antigo investigador das Nações Unidas que se prepara para uma nova vida com a sua mulher e filhas. Quando tentam sair de Nova York um conjunto de estranhos acontecimentos desencadeiam aquilo que aparenta ser uma pandemia zombie que subitamente transforma todos os que os rodeiam em mortos-vivos, fazendo com que Gerry e a sua família mal escapem ao apocalipse e consigam encontrar refúgio num edifício que tem tanto de sinistro como de perigoso.
É quando os poucos refugiados se concentram num navio de guerra em alto mar que Gerry é desafiado a deixar a sua família em segurança enquanto parte numa viagem pelo mundo em busca das origens e de uma potencial cura que possa travar esta pandemia que ameaça de forma feroz toda a Humanidade... ou o que resta dela.
Tradicionalmente os filmes sobre um potencial apocalipse zombie que tem a sua origem nas mais variadas formas ou locais, concentram-se essencialmente num conjunto de elementos que estão imediatamente inerentes ao género, nomeadamente planos de caracterização dos infectados grotescos quanto baste bem como em segmentos onde os banhos de sangue e as carnificinas sejam o ponto forte mostrando as mais variadas entranhas daqueles que não conseguem escapar. É também habitual assistirmos a um conjunto de factores ou "avisos" sobre a catástrofe que se avizinha e que funcionam como uma certa introdução ao caos e à desordem que se seguem, que podem ir desde um qualquer ataque químico a um descarrilamento de um comboio com material radioactivo, e que uma vez consumada, deparamo-nos com um conjunto de seres lentos, repelentes e dos quais todos com alguma energia e bom senso conseguem escapar. E tudo isto a decorrer numa qualquer localidade perdida e da qual ninguém irá dar pela falta... No entanto, vamos esquecer todas estas premissas pré-fabricadas e às quais estamos habituados em filmes deste calibre e, de mente aberta, preparemo-nos para algo substancialmente diferente.
Os argumentistas Matthew Michael Carnahan, Drew Goddard, Damon Lindehof e J. Michael Straczynski centrados no romance homónimo de Max Brooks elevaram o género em questão a algo relativamente inovador não pela trama inicial que se mantém fiel ao espírito pretendido com um muito intenso ataque inicial capaz de nos fazer cortar a respiração, mas sim pela forma como a transportam para uma realidade que, bem analisada, é mais presente do que uma simples história de mortos-vivos e que nos dá um contexto não só social e político como também o faz através de um interessante enquadramento geográfico.
Analisemos os factos e comecemos por fazer denotar que este vírus, e mais tarde pandemia, tem início num qualquer local mais ou menos exótico que se encontra relativamente afastado de locais devidamente preparados para o conter. Se por um lado podemos analisar esta questão como um mero vírus que aqui se pretende retratar, não é menos verdade que esta abordagem pode também claramente equiparar-se às inúmeras epidemias que surgem nos diversos pontos do globo e que são, também elas, de difícil contenção e que aos poucos vão eliminando milhares de pessoas de cada vez que "atacam". Se continuarmos nesta análise, podemos ainda abordar a forma como o vírus se espalhou... pelo ar. Não pela forma tradicional onde respirar um qualquer ar "infectado" torna os cidadãos contaminados mas sim pela forma como nos nossos dias é tão fácil transportar e contaminar inconscientemente qualquer outro território graças às inúmeras viagens aéreas que são diariamente realizadas pelos quatro cantos do globo e que fazem movimentar milhões de passageiros potenciais "portadores" de inúmeros vírus.
Dito isto este World War Z está para além de uma qualquer história de mortos-vivos mas retrata sim o facto como um qualquer vírus mais ou menos desconhecido se pode propagar por qualquer território do globo terrestre infectando indiscriminadamente todos aqueles com quem mantém contacto, e como aquilo que pode ser uma "simples" epidemia se pode transformar numa pandemia global.
Mas a actualidade de World War Z está também para além desta referida pandemia e ultrapassa mesmo os limites geográficos e políticos como poderemos aos poucos constatar, sendo estes que estão aqui também retratados de forma pouco súbtil. Referências geográficas que passam por alguns dos chamados "pontos quentes" do globo desde a Coreia do Norte, passando pela Índia e rumo a Israel onde um enorme muro isola o país de todos os territórios exteriores e, como tal, dos próprios mortos-vivos que o rodeiam sem ali conseguirem entrar apesar das suas inúmeras tentativas. Muro esse que resiste independentemente da persistência daqueles que ali querem entrar até ao dia em que essa persistência seja mais forte e ameaçando assim toda uma ilusão de segurança que até então tinha sido conquistada. Demasiado real ou um mero retrato caricaturado da realidade política dos nossos tempos?
No entanto World War Z consegue ser também um "simples" filme de mortos-vivos, e os elementos fundamentais encontram-se por toda a sua história, começando pelo seu intenso segmento inicial que nos retira de uma qualquer pacata povoação do interior colocando-nos no centro de uma movimentada cidade onde aparentemente não existem escapatórias possíveis. Sem um claro vislumbre dos referidos mortos-vivos, que aliás pouco destaque têm ao longo de todo até já bem perto do seu final, o filme mantendo o factor suspense presente mas ao mesmo tempo afastado de uma clara visualização, consegue criar ainda alguns momentos de pura tensão nomeadamente no claustrofóbico edifício onde "Gerry" se refugia com a sua família, no centro de investigação em Inglaterra onde têm de escapar dos mortos-vivos por entre labirínticos corredores ou principalmente dentro do avião quando todos os presentes pensam ter escapado à praga que devastou Israel, tornando-se assim numa obra com segmentos violentos e asfixiantes sem recorrer necessariamente a um cenário mais gore tão típico dos inúmeros filmes deste género.
Com um elenco onde se destaca obviamente Brad Pitt num papel atípico da sua já extensa carreira, mas que o revitaliza assim para outros géneros por si pouco explorados mas que, no entanto, mantém elementos já familiares das suas interpretações nomeadamente o homem de família preocupado com o bem-estar dos seus entes mais próximos mas que ainda assim consegue ver o lado maior dos problemas e antever que a segurança ou é global ou não o será de todo para ninguém. No entanto não é menos verdade que a atenção do espectador não está tão centrada na sua interpretação mas sim no facto de esperar a qualquer momento ver uma das inúmeras investidas deste grupo de infectados que possui, também ele, características pouco "humanas" transformando-se em seres capazes de um conjunto de acrobacias e velocidade extrema que nos deixam literalmente de cabeça virada ao contrário, algo contraditório com aquilo a que estamos tradicionalmente habituados em filmes do género, e que nos fazem esquecer em diversas ocasiões a participação da super-estrela de Hollywood, bem como um vasto conjunto de actores que aqui participam em desempenhos mais secundários ou meramente figurativos como por exemplo David Morse, Matthew Fox, Pierfrancesco Favino, Moritz Bleibtreu ou Mireille Enos como "Karin" a mulher de "Gerry".
Assim Marc Forster, um realizador que tão boas histórias sobre a dimensão humana e o espírito de sacrifício existente dentro de cada um de nós tem contado, e que inicialmente estranhei como o realizador escolhido para este filme sobre "mortos-vivos", volta a superar-se e dentro do género consegue dirigir uma história onde esse espírito de sacrifício e de entrega a causas, privadas ou colectivas, está presente em todos os momentos. Na vontade de salvaguardar a segurança dos que nos são próximos ou de uma insuspeita vítima que se conhece pelo caminho. No altruísmo presente em sacrificar a sua própria segurança por um bem maior da Humanidade, ou do que resta dela, e principalmente quando num momento dito "final" se é capaz de colocar em risco a própria existência na esperança de que as suas escolhas individuais e feitas no momento não tendo outra alternativa, sejam aquelas que na altura certa podem salvar toda a existência humana como sempre a conhecemos, e apesar de ser um filme imediatamente diferente de obras maiores como Monster's Ball ou Finding Neverland, não é menos verdade que este World War Z é um intenso filme sobre a sobrevivência do "eu" face à destruição do colectivo que esse mesmo "eu" também compõe.
Não será à partida um filme que irá estar presente na temporada de prémios (pelo menos não nos ditos "maiores"), apesar de ainda assim ter aspectos técnicos interessantes nomeadamente a música original composta por Marco Beltrami, a óbvia caracterização dos mortos-vivos e o já referido argumento que, apesar de interessante do ponto de vista social, será francamente "inconveniente" do ponto de vista de quem atribui prémios. Talvez a sequela... que certamente será anunciada pois o potencial e a "porta aberta"... ficaram lá.
.Os argumentistas Matthew Michael Carnahan, Drew Goddard, Damon Lindehof e J. Michael Straczynski centrados no romance homónimo de Max Brooks elevaram o género em questão a algo relativamente inovador não pela trama inicial que se mantém fiel ao espírito pretendido com um muito intenso ataque inicial capaz de nos fazer cortar a respiração, mas sim pela forma como a transportam para uma realidade que, bem analisada, é mais presente do que uma simples história de mortos-vivos e que nos dá um contexto não só social e político como também o faz através de um interessante enquadramento geográfico.
Analisemos os factos e comecemos por fazer denotar que este vírus, e mais tarde pandemia, tem início num qualquer local mais ou menos exótico que se encontra relativamente afastado de locais devidamente preparados para o conter. Se por um lado podemos analisar esta questão como um mero vírus que aqui se pretende retratar, não é menos verdade que esta abordagem pode também claramente equiparar-se às inúmeras epidemias que surgem nos diversos pontos do globo e que são, também elas, de difícil contenção e que aos poucos vão eliminando milhares de pessoas de cada vez que "atacam". Se continuarmos nesta análise, podemos ainda abordar a forma como o vírus se espalhou... pelo ar. Não pela forma tradicional onde respirar um qualquer ar "infectado" torna os cidadãos contaminados mas sim pela forma como nos nossos dias é tão fácil transportar e contaminar inconscientemente qualquer outro território graças às inúmeras viagens aéreas que são diariamente realizadas pelos quatro cantos do globo e que fazem movimentar milhões de passageiros potenciais "portadores" de inúmeros vírus.
Dito isto este World War Z está para além de uma qualquer história de mortos-vivos mas retrata sim o facto como um qualquer vírus mais ou menos desconhecido se pode propagar por qualquer território do globo terrestre infectando indiscriminadamente todos aqueles com quem mantém contacto, e como aquilo que pode ser uma "simples" epidemia se pode transformar numa pandemia global.
Mas a actualidade de World War Z está também para além desta referida pandemia e ultrapassa mesmo os limites geográficos e políticos como poderemos aos poucos constatar, sendo estes que estão aqui também retratados de forma pouco súbtil. Referências geográficas que passam por alguns dos chamados "pontos quentes" do globo desde a Coreia do Norte, passando pela Índia e rumo a Israel onde um enorme muro isola o país de todos os territórios exteriores e, como tal, dos próprios mortos-vivos que o rodeiam sem ali conseguirem entrar apesar das suas inúmeras tentativas. Muro esse que resiste independentemente da persistência daqueles que ali querem entrar até ao dia em que essa persistência seja mais forte e ameaçando assim toda uma ilusão de segurança que até então tinha sido conquistada. Demasiado real ou um mero retrato caricaturado da realidade política dos nossos tempos?
No entanto World War Z consegue ser também um "simples" filme de mortos-vivos, e os elementos fundamentais encontram-se por toda a sua história, começando pelo seu intenso segmento inicial que nos retira de uma qualquer pacata povoação do interior colocando-nos no centro de uma movimentada cidade onde aparentemente não existem escapatórias possíveis. Sem um claro vislumbre dos referidos mortos-vivos, que aliás pouco destaque têm ao longo de todo até já bem perto do seu final, o filme mantendo o factor suspense presente mas ao mesmo tempo afastado de uma clara visualização, consegue criar ainda alguns momentos de pura tensão nomeadamente no claustrofóbico edifício onde "Gerry" se refugia com a sua família, no centro de investigação em Inglaterra onde têm de escapar dos mortos-vivos por entre labirínticos corredores ou principalmente dentro do avião quando todos os presentes pensam ter escapado à praga que devastou Israel, tornando-se assim numa obra com segmentos violentos e asfixiantes sem recorrer necessariamente a um cenário mais gore tão típico dos inúmeros filmes deste género.
Com um elenco onde se destaca obviamente Brad Pitt num papel atípico da sua já extensa carreira, mas que o revitaliza assim para outros géneros por si pouco explorados mas que, no entanto, mantém elementos já familiares das suas interpretações nomeadamente o homem de família preocupado com o bem-estar dos seus entes mais próximos mas que ainda assim consegue ver o lado maior dos problemas e antever que a segurança ou é global ou não o será de todo para ninguém. No entanto não é menos verdade que a atenção do espectador não está tão centrada na sua interpretação mas sim no facto de esperar a qualquer momento ver uma das inúmeras investidas deste grupo de infectados que possui, também ele, características pouco "humanas" transformando-se em seres capazes de um conjunto de acrobacias e velocidade extrema que nos deixam literalmente de cabeça virada ao contrário, algo contraditório com aquilo a que estamos tradicionalmente habituados em filmes do género, e que nos fazem esquecer em diversas ocasiões a participação da super-estrela de Hollywood, bem como um vasto conjunto de actores que aqui participam em desempenhos mais secundários ou meramente figurativos como por exemplo David Morse, Matthew Fox, Pierfrancesco Favino, Moritz Bleibtreu ou Mireille Enos como "Karin" a mulher de "Gerry".
Assim Marc Forster, um realizador que tão boas histórias sobre a dimensão humana e o espírito de sacrifício existente dentro de cada um de nós tem contado, e que inicialmente estranhei como o realizador escolhido para este filme sobre "mortos-vivos", volta a superar-se e dentro do género consegue dirigir uma história onde esse espírito de sacrifício e de entrega a causas, privadas ou colectivas, está presente em todos os momentos. Na vontade de salvaguardar a segurança dos que nos são próximos ou de uma insuspeita vítima que se conhece pelo caminho. No altruísmo presente em sacrificar a sua própria segurança por um bem maior da Humanidade, ou do que resta dela, e principalmente quando num momento dito "final" se é capaz de colocar em risco a própria existência na esperança de que as suas escolhas individuais e feitas no momento não tendo outra alternativa, sejam aquelas que na altura certa podem salvar toda a existência humana como sempre a conhecemos, e apesar de ser um filme imediatamente diferente de obras maiores como Monster's Ball ou Finding Neverland, não é menos verdade que este World War Z é um intenso filme sobre a sobrevivência do "eu" face à destruição do colectivo que esse mesmo "eu" também compõe.
Não será à partida um filme que irá estar presente na temporada de prémios (pelo menos não nos ditos "maiores"), apesar de ainda assim ter aspectos técnicos interessantes nomeadamente a música original composta por Marco Beltrami, a óbvia caracterização dos mortos-vivos e o já referido argumento que, apesar de interessante do ponto de vista social, será francamente "inconveniente" do ponto de vista de quem atribui prémios. Talvez a sequela... que certamente será anunciada pois o potencial e a "porta aberta"... ficaram lá.
"Andrew Fassbach:
Mother Nature is a serial killer. She wants to get caught, she leaves
bread crumbs, she leaves clues... Mother nature knows how to disguise
her weakness as strength."
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8 / 10
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