Divergente de Neil Burger é um dos filmes mais antecipados deste ano e que junta no ecrã Shailene Woodley, uma das novas sensações de Hollywood com nomes confirmados como Kate Winslet ou Ashley Judd.
Num mundo futurista a sociedade encontra-se dividida em várias facções que dividem a população de acordo com a sua capacidade psicológica, empática ou física representando assim as virtudes consideradas ideais para que tudo funcione de forma perfeita os ainda adolescentes têm de enfrentar um teste e posterior escolha da facção que irão integrar tendo então de cortar todos os laços que possuiam até então.
É neste mundo dividido que vamos encontrar Tris (Woodley) uma jovem pertencente à facção dos altruístas que anseia mais para a sua vida e que no seu teste descobre possuir características de várias facções, ou seja, Divergente... os que são renegados pela sociedade por poderem questionar cada uma delas não obedecendo assim às ordens impostas, mas que opta por se juntar à facção dos corajosos que têm como missão protegere e defender toda a sociedade. É aqui que Tris conhece Four (Theo James) por quem estabelece uma atracção física e afectiva imediata para descobrir que tal como ela, também ele tem os seus próprios segredos a esconder de Jeanine (Kate Winslet), poderosa lider dos eruditos e sedenta de conquistar o poder pela força.
O argumento de Vanessa Taylor e Evan Daugherty adaptado do romance homónimo de Verónica Roth é não só estranhamente actual, ainda que um retrato de uma sociedade futurista pós-apocalíptica onde a tirania e a falta de liberdades são os denominadores comuns para a instauração de uma ordem que tem tudo menos o ser consensual. Esqueçamos por momentos o facto de o espectador ser levado para um mundo e para uma sociedade que mais não é do que o trágico resultado de um conflito de grandes proporções que dizimou uma boa parte da população e que ainda se encontra em reconstrução décadas depois para nos concentrarmos na triste realidade em que a sua população vive não só pelo facto de se encontrarem numa comunidade isolada e fechada ao exterior mas também por todos os seus habitantes serem forçados a encontrar um grupo, ou micro-comunidade, onde se inserirem tendo depois obrigatoriamente de cortar todos os laços que os identificavam, e no fundo nos quais construíram a sua própria identidade, para se tornarem em cidadãos de uma qualquer elite que funciona única e exclusivamente em seu próprio benefício e com as suas próprias funções.
O tal ideal de paz que assim se pretende passar ao longo desta história mais não é então do que uma reflexão sobre os perigos da privação forçada de liberdade, da autodescoberta de um enquanto indivíduo e cidadão e, acima de tudo o demais, a falta de limites que são colocados ao Estado (ou à noção que dele existe) na intervenção das ligações sociais que cada um estabelece ou pretende estabelecer. Numa sociedade onde tudo é controlado, programado e devidamente decidido por outros que não o "eu", até onde existe realmente paz, tolerância, harmonia e igualdade? E mesmo que todos estes elementos existissem nessa nova sociedade existe ainda uma questão a colocar que se prende com uma questão essencial e bem simples, tal como nos é bem representado no filme e deduzo que seja um elemento a explorar nas respectivas sequelas, o que acontece com aqueles que não se inserem em nenhuma das facções previamente estabelecidas ou que revelam indicadores de poderem pertencer a várias e não a uma única em concreto? Vários são os factores que determinam e caracterizam cada um de nós logo o que aconteceria se para "pertencermos" tivermos de abdicar a grande parte deles em nome de um ideal que é, por si só, já bastante dúbio?
Divergent é assim à semelhança do que já acontece com a saga The Hunger Games, um filme que para além de reflectir sobre um mundo e uma sociedade marcados pelos traumas de uma guerra devastadora, equaciona também os malefícios da ditadura, da obrigatoriedade de pertencer a padrões pré-definidos, do fascismo, da ordem austera e de certa forma sobre a "morte do eu" individual que podendo ter inúmeras características menos positivas não deixam de criar a personalidade e a psique de cada um de nós.
Shailene Woodley tem aqui a sua prova de fogo. Não só Divergent é o filme que irá colocar o seu rosto nos ecrãs nos próximos três anos numa saga da qual já se espera a próxima entrega, como também confirma que não só consegue ter um rosto frágil e com o qual o espectador sente uma empatia imediata como também se revela capaz para comandar um filme enquanto protagonista sem que precise do suporte de um actor já consagrada (que apenas se encontram presentes em desempenhos secundários) ou de um protagonista masculino para contrabalançar com a sua personagem. A sua "Tris" vive assim um protagonismo imediato fazendo com que o espectador deseje conhecer as suas origens, o seu passado, as suas ânsias, medos, inseguranças e principalmente a determinação com que tudo encara, agarrando o filme desde o primeiro instante e fazendo das aparentes debilidades o motor com que prende a sua convicção de que se ultrapassar um obstáculo irá com certeza ser bem sucedida nos demais que irão surgir.
Obstáculos esses que irão com toda a certeza abordar a sua relação ainda algo "tímida" com "Four" interpretado por Theo James, alguém que tal como a sua "Tris" também tem mais mundos onde se integrar para além daquele que lhe está previamente destinado.
Não menos importante, ainda que aparentemente não seja para continuar nas sequelas, a personagem de Kate Winslet caiu-lhe na perfeição. Tradicionalmente detentora de personagens com as quais o espectador cria uma empatia imediata não só pela sua eterna jovialidade como também pela franqueza com que as abraça, Winslet detém aqui a personagem que se assume de forma igualmente natural como a vilã de serviço. Aquela que pretende conquistar o poder de qualquer forma mesmo que para isso tenha de instaurar um regime onde as liberdades são apenas uma lembrança quase esquecida de um passado que ninguém quer repetir. Calma, até quase no seu limite, mordaz e com um rosto pacificamente assustador, Winslet confirma que é mais do que a "miúda" simpática que todos querem ter por perto.
Apontamentos positivos a destacar são também a direcção de fotografia de Alwin H. Küchler que recria a idealização de uma sociedade futurista no seio de um mundo destruído e potencialmente à beira da extinção onde as variações de cor e de luz estão presentes de acordo com as facções e os mundos individuais que nos são apresentados ao longo deste mesmo relato, variações estas que também encontramos na direcção musical de Junkie XL que compõe de forma eficaz os "ambientes" de cada uma dessas mesmas facções.
Andy Nicholson conseguiu ainda recriar um design de produção muito característico deste mundo "novo" e das características tanto físicas como dos espaços e que entregam ao espectador a imagem ideal da formação da personalidade de cada um deles através dos locais em que se encontram.
Divergent é o filme do momento ainda que talvez não tenha recebido a devida atenção mas que irá certamente conquistar um público cada vez maior e mais interessado nas histórias sobre um futuro que tem tudo menos de pacífico ainda que não seja necessariamente militarizado.
.É neste mundo dividido que vamos encontrar Tris (Woodley) uma jovem pertencente à facção dos altruístas que anseia mais para a sua vida e que no seu teste descobre possuir características de várias facções, ou seja, Divergente... os que são renegados pela sociedade por poderem questionar cada uma delas não obedecendo assim às ordens impostas, mas que opta por se juntar à facção dos corajosos que têm como missão protegere e defender toda a sociedade. É aqui que Tris conhece Four (Theo James) por quem estabelece uma atracção física e afectiva imediata para descobrir que tal como ela, também ele tem os seus próprios segredos a esconder de Jeanine (Kate Winslet), poderosa lider dos eruditos e sedenta de conquistar o poder pela força.
O argumento de Vanessa Taylor e Evan Daugherty adaptado do romance homónimo de Verónica Roth é não só estranhamente actual, ainda que um retrato de uma sociedade futurista pós-apocalíptica onde a tirania e a falta de liberdades são os denominadores comuns para a instauração de uma ordem que tem tudo menos o ser consensual. Esqueçamos por momentos o facto de o espectador ser levado para um mundo e para uma sociedade que mais não é do que o trágico resultado de um conflito de grandes proporções que dizimou uma boa parte da população e que ainda se encontra em reconstrução décadas depois para nos concentrarmos na triste realidade em que a sua população vive não só pelo facto de se encontrarem numa comunidade isolada e fechada ao exterior mas também por todos os seus habitantes serem forçados a encontrar um grupo, ou micro-comunidade, onde se inserirem tendo depois obrigatoriamente de cortar todos os laços que os identificavam, e no fundo nos quais construíram a sua própria identidade, para se tornarem em cidadãos de uma qualquer elite que funciona única e exclusivamente em seu próprio benefício e com as suas próprias funções.
O tal ideal de paz que assim se pretende passar ao longo desta história mais não é então do que uma reflexão sobre os perigos da privação forçada de liberdade, da autodescoberta de um enquanto indivíduo e cidadão e, acima de tudo o demais, a falta de limites que são colocados ao Estado (ou à noção que dele existe) na intervenção das ligações sociais que cada um estabelece ou pretende estabelecer. Numa sociedade onde tudo é controlado, programado e devidamente decidido por outros que não o "eu", até onde existe realmente paz, tolerância, harmonia e igualdade? E mesmo que todos estes elementos existissem nessa nova sociedade existe ainda uma questão a colocar que se prende com uma questão essencial e bem simples, tal como nos é bem representado no filme e deduzo que seja um elemento a explorar nas respectivas sequelas, o que acontece com aqueles que não se inserem em nenhuma das facções previamente estabelecidas ou que revelam indicadores de poderem pertencer a várias e não a uma única em concreto? Vários são os factores que determinam e caracterizam cada um de nós logo o que aconteceria se para "pertencermos" tivermos de abdicar a grande parte deles em nome de um ideal que é, por si só, já bastante dúbio?
Divergent é assim à semelhança do que já acontece com a saga The Hunger Games, um filme que para além de reflectir sobre um mundo e uma sociedade marcados pelos traumas de uma guerra devastadora, equaciona também os malefícios da ditadura, da obrigatoriedade de pertencer a padrões pré-definidos, do fascismo, da ordem austera e de certa forma sobre a "morte do eu" individual que podendo ter inúmeras características menos positivas não deixam de criar a personalidade e a psique de cada um de nós.
Shailene Woodley tem aqui a sua prova de fogo. Não só Divergent é o filme que irá colocar o seu rosto nos ecrãs nos próximos três anos numa saga da qual já se espera a próxima entrega, como também confirma que não só consegue ter um rosto frágil e com o qual o espectador sente uma empatia imediata como também se revela capaz para comandar um filme enquanto protagonista sem que precise do suporte de um actor já consagrada (que apenas se encontram presentes em desempenhos secundários) ou de um protagonista masculino para contrabalançar com a sua personagem. A sua "Tris" vive assim um protagonismo imediato fazendo com que o espectador deseje conhecer as suas origens, o seu passado, as suas ânsias, medos, inseguranças e principalmente a determinação com que tudo encara, agarrando o filme desde o primeiro instante e fazendo das aparentes debilidades o motor com que prende a sua convicção de que se ultrapassar um obstáculo irá com certeza ser bem sucedida nos demais que irão surgir.
Obstáculos esses que irão com toda a certeza abordar a sua relação ainda algo "tímida" com "Four" interpretado por Theo James, alguém que tal como a sua "Tris" também tem mais mundos onde se integrar para além daquele que lhe está previamente destinado.
Não menos importante, ainda que aparentemente não seja para continuar nas sequelas, a personagem de Kate Winslet caiu-lhe na perfeição. Tradicionalmente detentora de personagens com as quais o espectador cria uma empatia imediata não só pela sua eterna jovialidade como também pela franqueza com que as abraça, Winslet detém aqui a personagem que se assume de forma igualmente natural como a vilã de serviço. Aquela que pretende conquistar o poder de qualquer forma mesmo que para isso tenha de instaurar um regime onde as liberdades são apenas uma lembrança quase esquecida de um passado que ninguém quer repetir. Calma, até quase no seu limite, mordaz e com um rosto pacificamente assustador, Winslet confirma que é mais do que a "miúda" simpática que todos querem ter por perto.
Apontamentos positivos a destacar são também a direcção de fotografia de Alwin H. Küchler que recria a idealização de uma sociedade futurista no seio de um mundo destruído e potencialmente à beira da extinção onde as variações de cor e de luz estão presentes de acordo com as facções e os mundos individuais que nos são apresentados ao longo deste mesmo relato, variações estas que também encontramos na direcção musical de Junkie XL que compõe de forma eficaz os "ambientes" de cada uma dessas mesmas facções.
Andy Nicholson conseguiu ainda recriar um design de produção muito característico deste mundo "novo" e das características tanto físicas como dos espaços e que entregam ao espectador a imagem ideal da formação da personalidade de cada um deles através dos locais em que se encontram.
Divergent é o filme do momento ainda que talvez não tenha recebido a devida atenção mas que irá certamente conquistar um público cada vez maior e mais interessado nas histórias sobre um futuro que tem tudo menos de pacífico ainda que não seja necessariamente militarizado.
"Jeanine Matthews: The system removes the threat of anyone exercising their independent will. Divergents threaten that system. It won't be safe until they're removed."
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8 / 10
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