O Primeiro Verão de Adriano Mendes é uma longa-metragem portuguesa de ficção que teve a sua estreia na secção Novíssimos do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente, que decorre pela capital até ao próximo dia 4 de Maio.
Isabel (Anabela Caetano) e Miguel (Adriano Mendes) são dois adolescentes que se conhecem na escola de condução. Após uma empatia inicial solidificada com o passar do tempo e a companhia de Cmyk, o cão de Miguel, os dois acabam por passar o Verão juntos e algo mais nasce entre ambos.
No entanto, chega o Outono e Miguel tem de visitar a família enquanto Isabel fica a cuidar de Cmyk. Quando Miguel regressa algo acontece que irá colocar a cumplicidade de ambos em risco e que os fará pensar se o seu amor será realmente tão forte quanto aquilo que o Verão viu nascer.
Esta que é a primeira longa-metragem de Adriano Mendes, que quer queira quer não acaba por ser o verdadeiro motor da execução deste filme ao assumir-se ainda como argumentista e principal intérprete, assume-se como uma obra frágil mas que, ainda assim, ostenta uma naturalidade e simplicidade que nos faz esquecer todos aqueles momentos que, noutro filme, seriam de apontar.
Esqueçamos o facto de ter um passo relativamente lento que o faz custar a "arrancar" com o desenvolvimento quer da história quer das suas personagens, e lancemo-nos naquilo que realmente o torna especial principalmente se considerarmos que estamos perante uma obra independente, que é como quem diz feita com poucos recursos e muita dedicação por parte daqueles que dela tomaram parte.
O Primeiro Verão torna-se assim interessante por vários aspectos sendo o primeiro deles a capacidade que tem em nos remeter para um mais ou menos ido, parafraseando, primeiro verão onde a vida de todos nós começa e onde experienciamos todos aqueles momentos que independentemente de terem ou não algo de verdadeiramente especial irão ficar registados nas nossas memórias... Aquele Verão em que deixamos a escola, em que tiramos a carta de condução e onde disfrutamos da época estival pensando que "sim... aquele será o último sem preocupações". É nesta perspectiva que temos de abraçar este filme e pensar que tal como nessa época... nada é perfeito. Tudo é vivido ao sabor do momento tendo apenas em mente que o próximo irá ser trabalhado, mais custoso mas ao mesmo tempo com mais entrega e igual dedicação.
Para este Verão muito contribui a química entre a dupla protagonista, Anabela Caetano na qual se centra grande parte da primeira metade do filme, na sua vida e nas suas tarefas ao auxiliar a mãe, interpretada pela própria mãe da actriz que muito naturalmente se posiciona como uma das figuras mais positivamente caricatas de O Primeiro Verão pela forma simples e, de facto real com que interpreta a sua "personagem", e do próprio Adriano Mendes que na sua sentida ingenuidade (que me pareceu ser um retrato de si mesmo graças à forma elegante, sentida e descomplexada com que apresentou a sua obra) ganha confiança à medida que a acção decorre. Se inicialmente notamos algum desconforto no "frente a frente" entre os dois, não é menos verdade que aos poucos a naturalidade surge de forma espontânea e ambos lidam com o comportamento que mutuamente entregam à história e crescem nas personagens que encarnam. E se Anabela Caetano tem a personagem central e dominante ao longo de todo o filme, não é menos verdade afirmar que aos poucos Adriano Mendes torna-se cada vez mais central e ocupa o espaço que lhe pertence com naturalidade.
A dinâmica entre os dois surge e sente-se. Percebemos que as suas personagens estão intimamente ligadas e que nada poderia existir naquele filme se não fosse um em função do outro mas, no entanto, ao escrever este comentário não posso deixar de referir aquele que assume um papel centralizador do filme, ou não fosse ele o "motivo" pelo qual "Isabel" e "Miguel" trocam as primeiras palavras... Cmyk, o cão. Não sei, nem tão pouco interessa, que treino teve para se manter sempre tão presente e "disciplinado", mas é um facto que Cmyk não só consegue "trabalhar" nos momentos indicados para aumentar a dinâmica do filme como ainda é o protagonista de alguns dos momentos mais hilariantes de toda a história e o centro de um dos momentos mais significativos e emocionantes de toda a história quando o jovem "Miguel" recorda em flashback todo o percurso que percorrera com ele.
No campo das personagens, há ainda que deixar uma marca pessoal à jovem de espírito avó de "Isabel" que não só se assume como o elemento cómico da história como, na suanão experiência na área consegue inserir-se como peixe na água e tornar os seus momentos como verdadeiros "ice breakers" do argumento, numa aposta claramente ganha por parte de Adriano Mendes enquanto realizador.
Tecnicamente falando deixo ainda uma marca positiva à direcção de fotografia novamente numa clara referência ao trabalho de Adriano Mendes mas desta vez em parceria com Rui Mendes, o produtor do filme, que nos remete para um verão experienciado no norte do país onde as cores quentes da época se misturam com as paisagens verdejantes e sem nunca esquecer os enquadramentos das tradicionais festas locais que recebem os inúmeros emigrantes que regressam ao país.
Se O Primeiro Verão é um filme que ficará na história é algo que ninguém poderá afirmar. Talvez sim para aqueles que se tornem fãs e que queiram ver este jovem realizador crescer ou talvez não pela sua fragilidade técnica enquanto obra per si. No entanto avaliando este filme como um trabalho dedicado e em que os intervenientes mostraram uma clara entrega àquilo que quiseram fazer e apresentar ao público, dessa aposta sai uma obra claramente vitoriosa e que para Adriano Mendes se torna numa prova que conseguiu superar não pelos conhecimentos técnicos que lhe (tentou) aplicar mas sim pela genuinidade e entrega com que o fez.
.Isabel (Anabela Caetano) e Miguel (Adriano Mendes) são dois adolescentes que se conhecem na escola de condução. Após uma empatia inicial solidificada com o passar do tempo e a companhia de Cmyk, o cão de Miguel, os dois acabam por passar o Verão juntos e algo mais nasce entre ambos.
No entanto, chega o Outono e Miguel tem de visitar a família enquanto Isabel fica a cuidar de Cmyk. Quando Miguel regressa algo acontece que irá colocar a cumplicidade de ambos em risco e que os fará pensar se o seu amor será realmente tão forte quanto aquilo que o Verão viu nascer.
Esta que é a primeira longa-metragem de Adriano Mendes, que quer queira quer não acaba por ser o verdadeiro motor da execução deste filme ao assumir-se ainda como argumentista e principal intérprete, assume-se como uma obra frágil mas que, ainda assim, ostenta uma naturalidade e simplicidade que nos faz esquecer todos aqueles momentos que, noutro filme, seriam de apontar.
Esqueçamos o facto de ter um passo relativamente lento que o faz custar a "arrancar" com o desenvolvimento quer da história quer das suas personagens, e lancemo-nos naquilo que realmente o torna especial principalmente se considerarmos que estamos perante uma obra independente, que é como quem diz feita com poucos recursos e muita dedicação por parte daqueles que dela tomaram parte.
O Primeiro Verão torna-se assim interessante por vários aspectos sendo o primeiro deles a capacidade que tem em nos remeter para um mais ou menos ido, parafraseando, primeiro verão onde a vida de todos nós começa e onde experienciamos todos aqueles momentos que independentemente de terem ou não algo de verdadeiramente especial irão ficar registados nas nossas memórias... Aquele Verão em que deixamos a escola, em que tiramos a carta de condução e onde disfrutamos da época estival pensando que "sim... aquele será o último sem preocupações". É nesta perspectiva que temos de abraçar este filme e pensar que tal como nessa época... nada é perfeito. Tudo é vivido ao sabor do momento tendo apenas em mente que o próximo irá ser trabalhado, mais custoso mas ao mesmo tempo com mais entrega e igual dedicação.
Para este Verão muito contribui a química entre a dupla protagonista, Anabela Caetano na qual se centra grande parte da primeira metade do filme, na sua vida e nas suas tarefas ao auxiliar a mãe, interpretada pela própria mãe da actriz que muito naturalmente se posiciona como uma das figuras mais positivamente caricatas de O Primeiro Verão pela forma simples e, de facto real com que interpreta a sua "personagem", e do próprio Adriano Mendes que na sua sentida ingenuidade (que me pareceu ser um retrato de si mesmo graças à forma elegante, sentida e descomplexada com que apresentou a sua obra) ganha confiança à medida que a acção decorre. Se inicialmente notamos algum desconforto no "frente a frente" entre os dois, não é menos verdade que aos poucos a naturalidade surge de forma espontânea e ambos lidam com o comportamento que mutuamente entregam à história e crescem nas personagens que encarnam. E se Anabela Caetano tem a personagem central e dominante ao longo de todo o filme, não é menos verdade afirmar que aos poucos Adriano Mendes torna-se cada vez mais central e ocupa o espaço que lhe pertence com naturalidade.
A dinâmica entre os dois surge e sente-se. Percebemos que as suas personagens estão intimamente ligadas e que nada poderia existir naquele filme se não fosse um em função do outro mas, no entanto, ao escrever este comentário não posso deixar de referir aquele que assume um papel centralizador do filme, ou não fosse ele o "motivo" pelo qual "Isabel" e "Miguel" trocam as primeiras palavras... Cmyk, o cão. Não sei, nem tão pouco interessa, que treino teve para se manter sempre tão presente e "disciplinado", mas é um facto que Cmyk não só consegue "trabalhar" nos momentos indicados para aumentar a dinâmica do filme como ainda é o protagonista de alguns dos momentos mais hilariantes de toda a história e o centro de um dos momentos mais significativos e emocionantes de toda a história quando o jovem "Miguel" recorda em flashback todo o percurso que percorrera com ele.
No campo das personagens, há ainda que deixar uma marca pessoal à jovem de espírito avó de "Isabel" que não só se assume como o elemento cómico da história como, na suanão experiência na área consegue inserir-se como peixe na água e tornar os seus momentos como verdadeiros "ice breakers" do argumento, numa aposta claramente ganha por parte de Adriano Mendes enquanto realizador.
Tecnicamente falando deixo ainda uma marca positiva à direcção de fotografia novamente numa clara referência ao trabalho de Adriano Mendes mas desta vez em parceria com Rui Mendes, o produtor do filme, que nos remete para um verão experienciado no norte do país onde as cores quentes da época se misturam com as paisagens verdejantes e sem nunca esquecer os enquadramentos das tradicionais festas locais que recebem os inúmeros emigrantes que regressam ao país.
Se O Primeiro Verão é um filme que ficará na história é algo que ninguém poderá afirmar. Talvez sim para aqueles que se tornem fãs e que queiram ver este jovem realizador crescer ou talvez não pela sua fragilidade técnica enquanto obra per si. No entanto avaliando este filme como um trabalho dedicado e em que os intervenientes mostraram uma clara entrega àquilo que quiseram fazer e apresentar ao público, dessa aposta sai uma obra claramente vitoriosa e que para Adriano Mendes se torna numa prova que conseguiu superar não pelos conhecimentos técnicos que lhe (tentou) aplicar mas sim pela genuinidade e entrega com que o fez.
7 / 10
.
Sem comentários:
Enviar um comentário