quinta-feira, 3 de abril de 2014

Uma Vida Feita de Outras (2012)

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Uma Vida Feita de Outras de Denise Marchi é uma curta-metragem brasileira presente na secção competetivia do FESTin - Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa que decorre pela quinto ano no Cinema São Jorge, em Lisboa que nos conta a história de "Eric".
Eric (Lizandro Belloto) é um homem solitário. Sem amizades aparentes dedica-se a observar os outros. Qualquer um que o fascine e desperte a atenção num local onde se encontre é alvo de toda a sua atenção e dedicação por breves instantes. Nunca repete o "alvo" com medo de ser desmascarado e, como tal, todos os dias tem um novo objectivo.
Enquanto persegue anonimamente todos aqueles indivíduos Eric imagina as suas vidas, os seus afazeres e, ao mesmo tempo, reflecte sobre a sua própria condição... a solidão. Até ao dia em que aparece Camila (Fernanda Petit) que o obriga a reconsiderar toda a sua vida.
Denise Marchi e Daniel Laimer assinam um argumento que poderia ter tudo de bizarro mas que, na realidade, mais não é do que um retrato original e bem delineado sobre os dias pelos quais todos numa sociedade dita moderna atravessam. Ao mesmo tempo que as formas de comunicarmos com os demais evoluem aproximando-nos de destinos outrora impensáveis, não é menos verdade que as distâncias entre os indivíduos aumentaram acentuando os fossos que os separam e criando uma cada vez menor interacção entre os mesmos.
É esta inadaptação no trato social, na convivência e também na comunicação verba que Uma Vida Feita de Outras acaba por nos relatar. Na prática não sabemos bem os porquês desta inadaptação de "Eric", para além daquilo que de pouco nos revela; nunca seguir a mesma pessoa, nunca conviver com os poucos que conhece e especialmente nunca criar laços afectivos com ninguém. Os poucos que tem, se é que se podem considerar como tal, são aqueles que durante um dia (no seu máximo) cria com a "vítima" seleccionada tornando-o num perfeito voyeur que se "alimenta" do pouco que o ocasional estranho lhe transmite. No entanto, é quando aquela estranha "Camila" surge no seu percurso que, de repente, toda a sua vida começa inexplicavelmente a modificar-se. Estabelece os primeiros laços, quebra as suas rotinas e sente uma necessidade quase inconsciente de se ligar, de conhecer e de se dar a conhecer àqueles que estando perto de si eram, na prática, mais desconhecidos do que os que ele seguia.
Assim Uma Vida Feita de Outras torna-se num relato não só da solidão na sociedade moderna como também um estudo sobre o Homem que cria inevitavelmente ligações que mais não são do que testemunhos sobre a sua passagem por um mundo que poucos, se é que alguns, registos guarda da nossa própria existência. Se não através daqueles com quem nos cruzamos, qual seria a "prova" de que alguma vez por cá andámos?!
Com um desfecho algo inesperado mas eficaz e uma grande e sólida interpretação de Lizandro Belloto que se inicia fria e distante mas que caminha para sentida e até algo emotiva, Uma Vida Feita de Outras é uma simpática e sentida forma de relatar como, no fundo, todos procuram um espaço onde se integrar e pessoas que gostem genuinamente de "nós".
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8 / 10
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