sábado, 21 de maio de 2016

Gasolina (2015)

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Gasolina de João Teixeira é uma curta-metragem portuguesa de ficção e uma das participante na última edição do Prémio MOTELx de Melhor Curta-Metragem Portuguesa de Terror.
Um homem (Marco Trindade) percorre um caminho deserto em busca de auxílio. Um outro homem (Ruben Garcia) persegue-o sem motivo aparente. Ao chegar a uma casa habitada por um homem mais velho (Carlos Santos), o fugitivo ensanguentado explica-lhe a situação e pede-lhe ajuda.
O argumento de António Nascimento e João Teixeira é, para lá de uma banal história de terror, uma sobre a dimensão e qualidade humana nos momentos de crise e de tensão. Considerando que temos aqui uma situação de perigo e de vida ou morte - a de Joana Ribeiro - de alguém que sucumbe lentamente a um ferimento após uma agressão, então o espectador perde-se nos meandros de uma relação que ultrapassa o auxílio entrando em campo uma bizarra transacção comercial.
O que aconteceria quando, numa situação de perigo, aquele que pode prestar auxílio cobra pelos seus "serviços"? Quando um telefone se torna inexistente perante o perigo... ou um litro de gasolina tem de ser paga a peso de ouro... e mesmo o próprio auxílio médico tem um preço?
"Quando há sangue nas ruas... compra propriedades", frase vulgarmente atribuída ao Barão de Rothschild pode aqui ser facilmente atribuída na medida em que é quando um indivíduo se encontra numa situação de carência ou necessidade que se conhecem as verdadeiras dimensões e carácter daqueles que os rodeiam.
Numa parábola que o espectador pode retirar de Gasolina - intencional ou não - consideremos o jovem fugitivo como um Portugal em crise... e um idoso abastado como uma Alemanha que impõe regras. Quem precisa é forçado a pagar elevados preços pelos bens que lhe poderão conferir segurança e conforto... ou então ceder às amarguras de uma vida e de um perigo eminente.  Tendo isto em mente, Gasolina tem uma última grande questão... até que ponto se torna maleável a consciência humana perante uma situação de emergência tido por outrem?
É no momento em que esta questão assola a mente do espectador que finalmente se assiste ao reverso da medalha e, inesperadamente, o agressor se transforma numa "vítima" provando um pouco do remédio que tinha aplicado e... num receptáculo de uma nova... e assustadora proposta.
Engenhoso pelo seu argumento e equilibrado pelo ambiente em que ocorre toda a trama, Gasolina não será tanto um filme de terror visual mas sim de um terror psicológico que se aproveita da mente, do receio e das necessidades dos indivíduos colocando-os no centro de um dilema no - e pelo - qual terá de encontrar o "lado" onde se sente mais presente.
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7 / 10
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