domingo, 15 de maio de 2016

Miranda (2002)

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Mistérios de uma Mulher de Marc Munden é uma longa-metragem britânica com a interpretação de Christina Ricci enquanto a misteriosa protagonista.
Frank (John Simm) é um pacato bibliotecário que se apaixona por uma misteriosa mulher (Ricci) que conhece na biblioteca. No entanto, quando ela desaparece misteriosamente ele viaja para Londres onde descobre que ela se esconde por detrás de várias identidades... Bailarina, vigarista e dominatrix, Miranda é uma mulher por descobrir.
Com argumento da autoria de Rob Young, Marc Munden dirige esta história que é - eventualmente - o desempenho mais forte e carismático de uma Christina Ricci que se tem mantido à margem do protagonismo que lhe é devido... e merecido. Aqui, numa história que terá passado muito "ao lado" do espectador mais distraído, Ricci dá corpo a uma mulher que se esconde de si, do mundo e de um passado ao qual teve de dar alma para sobreviver num mundo que não espera ou perdoa ninguém.
Adaptando-se a todas as realidades com que se cruza e encarnando uma personalidade sedutora para aqueles com quem é obrigada a conviver, "Miranda" é uma mulher cujo único propósito é a sua própria sobrevivência. Não sendo vilã, mas sim uma sobrevivente, nem todos os seus métodos de estar ou agir para com o mundo que a rodeia são - ou podem parecer - os mais correctos mas convivendo numa sociedade que espera pelo primeiro passo em falso, ela teve de justamente adaptar-se àquilo que lhe iria surgindo. Acima de qualquer trapaça ou esquema menos digno que teve de efectuar, aquilo pelo qual "Miranda" nunca esperava era encontrar alguém no mundo que a olhasse e admirasse tal como ela é.
A complementá-la está portanto "Frank", um tipo a quem a vida também não tendo sorrido a nível sentimental mas que, ao contrário dela, se tem deixado levar pela ideia de que existe no mundo alguém com um bom coração como o dele disposta a amar e a entregar-se de corpo... e a tal alma que parece faltar a "Miranda". De esquema em esquema e de desilusão em desilusão, os dois parecem ter esquecido que a vida lhes pode sorrir mas, ao mesmo tempo, desejam fervorosamente acreditar que essa possibilidade ainda existe, transformando a luta pela paixão - ainda algo dissimulada - num eterno caminho a ser perseguido.
Com alguns secundários de peso como o "Christian" de John Hurt - o homem que inicialmente lhe deu a mão para sobreviver - e ainda o "Nailor" de Kyle MacLachlan - aquele que tem uma obsessão sexualmente doentia por ela - Miranda - filme e personagem - deixa-se levar pelos tremidos caminhos de uma comédia dramática que não se quer assumir ou vincular a nenhuma das duas classificações deixando-se ficar no limbo de ambos os géneros. No entanto, se Miranda enquanto filme não se destaca das demais histórias do género, é também justo afirmar que Christina Ricci tem aqui uma das suas mais sólidas interpretações mas que infelizmente, não conseguiu repetir com o mesmo sucesso. Se pensarmos que já lá vão quatorze anos desde que Miranda estreou... então o caso tornasse ainda mais preocupante pois percebemos que assistimos a uma actriz com um enorme potencial mas que, no entanto, parece não receber a atenção e o protagonismo que lhe são devidos - Monster à parte no qual divide protagonismo.
Miranda tenta - e por vezes consegue - falar e ser sobre o amor. O amor que se procura, aquele que se pensa existir, aquele no qual já não se acredita mas sobretudo aquele que se deseja com mais força do que aquela com que se vive. Secretamente todas estas personagens o interpretam como algo que ou já tiveram e viveram ou simplesmente imaginam o que deve ser. Quer seja o ajudar alguém que desesperava ou até mesmo sexo selvagem e animalesco onde a dominação é raínha, sem esquecer todos os pequenos momentos como um pôr-do-sol ou um passear no jardim, nos diversos actos destas personagens está implícita a sua noção de amor, de amar e de ser amado... por mais incompreendida que seja aos olhos dos demais, todos eles têm a sua própria noção do que esperar - e de como o obter - do amor.
Desta forma, Miranda é assim um filme sobre esse ideal, mais ou menos real, verdadeiro ou distorcido que, no entanto, escapa à maioria dos espectadores. Primeiramente pelo relativamente fraco destaque que esta longa-metragem teve e finalmente por não se conseguir enquadrar facilmente numa categoria - se o amor alguma vez se insere nalguma!!! - que o defina e que dele dê indicações sobre o que esperar. Miranda tem, de facto, alguns momentos divertidos e algumas personagens que poderiam ser interessantes caso a sua dinâmica fosse melhor explorada ou, quem sabe, conseguisse impôr mais do seu dinamismo e da sua "personalidade" pois, no final, aquilo que aqui é apresentado ao espectador é uma história que acaba por revelar muito cedo como irá terminar... aquilo que esperar dos seus intervenientes e, principalmente, a velha noção do que todas as vítimas do amor conseguem - um dia - encontrar o seu lugar ao sol... mesmo que para isso tenham de passar por um conjunto de lugares comuns e noções já muito "fabricadas" de que para cada panela... existe uma tampa.
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4 / 10
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