quinta-feira, 5 de maio de 2016

Paradigma (2015)

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Paradigma de Valentino R. Sandoli é uma curta-metragem espanhola de ficção presente na secção LGBT da sétima edição do Piélagos en Corto - Festival Internacional de Cortometrajes de Ficción a decorrer na Cantábria, em Espanha, entre os dias 2 e 7 de Maio.
Guille (Kuba Tarasiewicz) vive há meses secretamente apaixonado pelo melhor amigo. No entanto, consciente também dos preconceitos da sociedade, Guille não revela os seus sentimentos. Numa espiral de novas experiências que condicionam os seus verdadeiros desejos, Guille inicia uma vida à qual, até então, tinha sido estranho na esperança de um dia poder assumir os reais sentimentos.
Com argumento de Ignacio Campón e de Valentino Sandoli, Paradigma é o espelho de um despertar adolescente para uma vida onde os sentimentos e a sexualidade se misturam e confundem ao ponto de tudo querer fazer e experimentar para validar uma presença no mundo que, até àquele dia, havia passado - na mente do protagonista - pela sombra da indiferença e do anonimato. No fundo, a grande questão que é aqui levantada é apenas uma... o que fazer quando aquele alguém de quem se gosta não só não dá pela nossa presença como também ignora os sentimentos por si nutridos? No desespero de uma aceitação que nunca chega, "Guille" é então o jovem que embarca numa viagem que se inicia pela auto-descoberta e pela sexualidade a funcionar como mandante de toda uma relação interpessoal que, a seu tempo, poderá ser destrutiva se não fôr encarada apenas e só como uma "passagem".
Desde a experimentação virtual onde rostos anónimos se cruzam numa eventual - ou não - reciprocidade até às viagem por um submundo onde o prazer se confunde com a droga, com a relação com múltiplos parceiros - nem sempre com protecção - e com a presença de todo um conjunto de riscos de saúde e segurança que pairam no ar, Paradigma é portanto a imagem de um suposto modelo social e comportamental numa adolescência tão habituada a comunicar com tudo e todos que se esquece de conhecer e partilhar reais relações afectivas e de grupo com aqueles que pensa conhecer.
Com um retrato perspicaz de uma geração do século XXI com todos os meios ao seu dispôr para conhecer o mundo não retirando dele, no entanto, aquilo que de melhor tem isolando-se e refugiando-se na proximidade que a virtualidade lhes proporciona, Paradigma é ainda sustentada por uma interpretação estruturada e rica em emoções de Kuba Tarasiewicz no qual, aliás, reside uma importante parte da mensagem que a dupla de argumentistas e realizador pretendem mostrar sobre as (não tão) novas formas de expressar a afectividade neste - também ele -  já não tão novo século.
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8 / 10
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