domingo, 22 de maio de 2016

O Guardador (2015)

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O Guardador de Rodrigo Areias é uma curta-metragem portuguesa de ficção que nos conta a história de Constantino (Valdemar Santos), um homem pacato que guarda um rebanho de ovelhas durante o dia e durante a noite serve de segurança num museu. Metido com os seus próprios pensamentos, Constantino é abordado por Aurora (Carmo Teixeira) que tanta, após alguma contemplação, saber um pouco mais daquele homem.
Sem um lugar certo ao qual chamar de "lar" - ou pelo menos de "casa" - "Constantino" é o espelho de uma certa camada populacional que parece não ter origens. Sem família, posses ou espaço que lhes sejam (re)conhecidos, vive toda uma existência isolado do mundo nos seus próprios pensamentos como se de um fantasma se tratasse. Ninguém o vê... ninguém sabe que ele existe... E as suas próprias funções mais não são do que aquelas tidas na solidão dos seus actos quando ninguém está por perto.
Tem todo o tempo do mundo para pensar... Acto este que é, aliás, aquele que predomina todo O Guardador e que está não só implícito n'O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeira (heterónimo de Fernando Pessoa), livro que lhe é emprestado por "Aurora", como na tarefa principal das ocupações que executa. O pensamento - fruto do silêncio - acabam por ser os "hobbies" de um homem que pouco ou nada parece ter e apenas estes são o testemunho não verbal da sua passagem pela Terra.
"O prazer do trabalho aperfeiçoa a obra" - frase impressa na parede por cima do local onde "Constantino" faz a sua refeição, poderia ser no fundo o resumo da sua existência. Ele trabalho, pois a sua subsistência tem de provir de alguma parte mas, ao mesmo tempo, executa as suas tarefas com rigor e uma qualidade que lhe são reconhecidos por "Aurora" que decide - provavelmente também pelo fruto da sua própria solidão - "conhecer" um pouco mais daquele homem que todos os dias encontra à sua frente sem sequer saber quem ele é. A obra - que poderá também ser ele próprio - aperfeiçoa-se lentamente, primeiro pela troca de conhecimentos e depois por uma mudança de visual que (ele) pensa poder ser atractivo para aquela com quem troca as primeiras palavras em muito tempo. Só o tempo - desconhecido para o espectador - poderá revelar os segredos e os  momentos que lhe estão reservados para lá - ou não - da sua própria solidão.
Com uma intensa interpretação de um sempre empático Valdemar Santos, Rodrigo Areias cria uma obra que apenas "falha" pela incerteza do futuro de um "Constantino", homem num mundo que parece desconhecer a sua presença mas que confirma que tem muito mais para dar do que aquilo que o seu silêncio revela.
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6 / 10
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