El Despertar de Jaume de João Filipe Silva é uma curta-metragem luso-espanhola que de uma forma muito simples e inspiradora reflete sobre os tempos complicados que a sociedade actual, muito em concreto a europeia, atravessa.
Jaume (Santi Fuentemilla) é um jovem espanhol já na casa dos trinta anos mas que ainda vive com o pai. Desempregado e sem os sonhos que teve no passado deambula de um trabalho temporário para o outro à espera de encontrar o seu lugar.
Um dia conhece Clara (Carla Lopes), uma jovem jornalista que se prepara para entrevistar um grupo que faz um concerto em Barcelona. Depois de uma conversa inicial combinam voltar a encontrar-se e quando o fazem, Clara fora assaltada e a sua vida profissional parece encontrar um inesperado contratempo.
João Filipe Silva esteve presente com esta sua nova curta-metragem na última edição dos Caminhos do Cinema Português em Coimbra e depois da sua intensa reflexão com a curta Purgatório, uma das referidas na última edição dos CinEuphoria em Janeiro último, volta aqui a fazer uma reflexão não sobre um potencial fim, mas sobre a potencialidade de um novo e por vezes diferente início que está tão actual nos dias que agora tomam forma, como referi, nesta nova Europa em que estamos inseridos, onde a incerteza sobre o "amanhã" pode por um lado deixar-nos ora inseguros ora expectantes sobre o que poderemos vir a encontrar.
O lento mas muito bem estruturado ritmo que esta curta-metragem apresenta é não só um reflexo do impasse em que toda uma jovem geração atravessa e que aqui é encarnada por duas sólidas, emotivas e muito bem conseguidas interpretações a cargo de Santiago Fuentemilla como "Jaume", o rosto dessa mesma geração cujos sonhos e esperanças foram subitamente hipotecados ou até mesmo terminados, e também por Carla Lopes como "Clara", que se vê subitamente metida num problema que lhe pode custar o seu trabalho numa época em que tê-lo é por si só já um "privilégio" que poucos vão tendo.
Tecnicamente destaco não só a sentida, suave e por vezes emotiva banda-sonora que no momento final quase que funciona como uma forma de despedida rumo a um futuro incerto, tendo reavivado na minha memória os instantes finais do filme A Paixão de Shakespeare, e a fotografia de Joaquim Calixto que transforma uma cidade tão viva como Barcelona num lugar quase desprovido de esperança como, de certa forma, refletem as personagens que dão vida a esta magnífica curta-metragem.
Um trabalho forte, emotivo quanto baste e que merecia ser uma longa-metragem para podermos receber mais destas interessantes, e ricas em conteúdo, personagens que mostram claramente poder ser símbolos dos tempos que vivemos.
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9 / 10
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