quarta-feira, 29 de maio de 2013

Videoclub (2012)

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Videoclub de Robert Domínguez, Jorge Manzaneque e MacGregor é uma divertida, intensa e magnífica curta-metragem espanhola que não só reúne diversos estilos cinematográficos naquela que poderá ser uma sentida e bem estruturada homenagem à Sétima Arte como além disso consegue ser um excelente dinamizador das atenções do espectador mais desatento.
Tudo começa quando Roman (Joan Alamar) inicia uma luta desesperada por uma boleia que parece não chegar. Daqui passamos para um sinistro clube de vídeo onde Goyi (Julian López) entra timidamente na esperança de entregar o filme que alugou sem passar por grandes problemas.
No entanto, como nem tudo é perfeito, Dimitri (Mauro Muñiz), o ainda mais sinistro funcionário do clube de vídeo, surge como o anjo exterminador que tem como única missão infernizar a vida do inocente Goyi, e nele depositar todas as suas frustrações. E é ali que, em breves instantes, todo o inferno se vai libertar...
Esta curta-metragem cujo argumento foi assinado por Robert Domínguez e Jorge Manzaneque é, sem qualquer reserva, um puro delírio. É possível mencionar logo à partida as inúmeras referências que faz aos mais diversos estilos cinematográficos. Feita num registo de comédia, esta curta consegue exponenciar facilmente diversos momentos dramáticos e de acção, sem esquecer uma certa batalha à la western no sentido confronto entre "Goyi" e "Dimitri". Os planos feitos aos seus olhares e à forma como herói e anti-herói se degladiam é original no género, mas uma clara marca aos duelos do velho Oeste, e aqui um claro sinal que nos faz ter simpatia por ambos, cada um à sua própria maneira.
Se por um lado o argumento desta curta é genial, não é menos verdade dizer que o conjunto de actores que lhe dão vida é um dos seus mais fortes elementos. Estamos num clube de vídeo onde dentro de um variado conjunto de filmes podemos escolher aqueles com cujas temáticas nos identificamos e, por esse motivo, encontramos naquele espaço os nossos próprios locais e recantos. Dito isto, encontramos aqueles clientes bem tipificados e que de certa forma nós próprios enquanto clientes de um clube de vídeo, já encontrámos nos espaços que frequentamos. Assim, temos o habitual cliente das comédias, o que procura os dramas de autor e aquele que vive e respira os mais diversos títulos de cinema hardcore que, não variando na história, varia apenas de título. E temos claro o inocente... aquele que a receio explora títulos pouco habituais e que por esse mesmo motivo quase receia entrar no espaço e revelar quais os títulos e temas que lhe interessam. Este é Gregorio Ximénez, "Goyi" para os amigos, interpretação a cargo de um brilhante Julian López que se manifesta inicialmente como o tipo tímido e reservado, quase apagado dos olhares alheios, mas que com o desenrolar dos acontecimentos se assume como o mais improvável herói de acção.
No seu oposto temos o "Dimitri" de Mauro Muñiz, naquela que é uma intensa e brilhante interpretação como o funcionário vilão que tem a sua própria "agenda" económica que pretende saldar (e escapar dos perigosos coreanos), além de querer desesperadamente massacrar os seus clientes mais ou menos respeitadores e, para isso, impõe um clima de terror do qual todos querem avidamente escapar.
Os dois constituem a força motora de toda a curta-metragem e uma dupla de peso que dinamiza sem reservas toda a dinâmica que a própria história já consegue sustentar e que, entre a acção e a comédia, nos deliciam e nos faz desejar por muito mais.
No campo das interpretações é ainda de destacar a presença de Christopher Thomas como o pregador pela paz que, a seu tempo, tem a sua própria e inesperada linha de defesa pessoal de tão vítima já ter sido pelas mãos dos seus "parceiros" reféns, e que constitui também ele uma interessante linha cómica.
Se por um lado é certo que esta história tem um princípio, meio e fim, não é menos verdade que nesse final qualquer espectador fã do género, acaba por desejar que ela se prolongasse por muito mais tempo, pois qualquer um de nós fica hipnotizado pelo clima recriado dentro daquele sinistro clube de vídeo, muito graças também à fotografia de MacGregor como também pelas características daquele conjunto de personagens que, muito provavelmente representam muitos dos clientes dos espaços que qualquer um de nós pode frequentar e com os quais nos poderemos cruzar.
Dito isto, esta é uma das mais geniais curta-metragens que vi até à data (do género e não só), e que facilmente se assume como um dos mais fortes filmes do ano... e longe de mim contrariar este pensamento pois... pode estar um "Dimitri" à espreita em qualquer lugar.
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10 / 10
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