Nunca Te Esqueças de Mentir de Marian Marzynski é um documentário para a televisão norte-americana a que este realizador polaco deu vida, naquela que é mais uma importante e comovente obra sobre o Holocausto.
Neste documentário Marzynski regressa à sua Polónia natal e numa revisitação ao seu passado explora não só a imagem do país nos anos 30 do século XX onde muita da sua população era judia como principalmente os dias da ocupação nazi através dos olhos daqueles que à altura eram, tal como ele, pequenas crianças.
Assim, Marzynski tenta não só dar o habitual testemunho sobre a Polónia mártir como principalmente evocar algumas das memórias e dos sentimentos reprimidos de um conjunto de pessoas agora com mais de setenta anos, muitos dos quais com poucas recordações dessa época devido à sua jovem idade, bem como outros que as ocultaram durante décadas quer por serem difíceis demais quer por eles próprios sentirem alguma "culpa" por terem sido abençoados com a sobrevivência a um dos maiores conflitos que assolarem o continente Europeu durante o século passado, tal como referiu o Embaixador Polaco em Lisboa presente na apresentação deste documentário.
Um dos factos que aqui ficamos a conhecer é o importante desempenho que a Igreja Católica teve ao esconder muitas destas crianças que ou sem pais ou abandonadas pelos mesmos para conseguirem sobreviver, os acolheu escondendo-os e ocultando a sua verdadeira identidade, dando-lhes assim uma oportunidade de ultrapassar todo o conflito sem serem denunciadas por um qualquer colaborador do regime que ocupava o país. São alguns destes intervenientes que Marzynski revisita, como forma de expiar os seus próprios sentimentos e memórias de uma época sobre a qual resolveu não voltar a pensar, ao mesmo tempo que se estabelece uma relação muito próxima entre os princípios morais correctos e a impossibilidade de os manter numa época onde a sobrevivência é o sentimento único, e a relação estabelecida entre o título deste documentário assume uma importância vital para a prossecução do mesmo.
Numa altura em que pouco resta do complexo habitacional do antigo guetto de Varsóvia prestes a transformar-se num dos condomínios de luxo que proliferam pela cidade em (re)construção, torna-se importante não só recontar a História antes que parte dela seja "eliminada", como principalmente fazê-lo através das memórias daqueles que dela e nela tiveram um lugar de destaque para poder assim perceber as suas próprias experiências e transformá-las num legado e num todo social que permaneça para as gerações futuras, para que não se perca e principalmente para que, sem esquecer, se possa dar lugar a um renascimento do país, da cidade e também das gerações futuras que neles venham a habitar.
Para sobreviver é preciso, tal como uma das intervenientes diz, "tornarmo-nos tão selvagens quanto a situação em que nos encontramos é", isto se considerarmos que, dadas as circunstâncias, esquecer pode ser selvagem. No entanto não é menos verdade que é precisa uma humanidade extrema para que, décadas depois, se consiga recordar com uma igualmente extrema sensibilidade e emotividade, episódios que modificaram estas pessoas para toda a restante vida. Os seus testemunhos são, além de comoventes, arrasadores. É impossível testemunharmos este sentido documentário sem que as histórias contadas não nos gelem a alma, e percebemos que não houve nada de "selvagem" nestas histórias, mas sim um profundo e sentido desejo de viver não só por parte destas crianças mas principalmente por parte dos seus pais que tudo fizeram e arriscaram para que eles pudessem hoje ser testemunhos vivos da maior barbárie do século passado.
O trauma que permaneceu nas memórias destes sobreviventes foi, durante anos, o principal "responsável" pela sua incapacidade de lidar com as memórias que, de uma ou outra forma, preferiram esquecer. Percebemos serem dolorosas e violentas demais ainda hoje, e constatamo-lo através do seu regresso aos seus espaços natais e através da possibilidade de reverem os locais onde, em crianças, viveram com as suas famílias. Mesmo sem uma memória marcada dos mesmos, o simples facto de voltarem a pisar esses espaços reacende neles um drama que nunca será ultrapassado mas sim, de certa forma, "pacificado" por perceberem que para o futuro irão ficar as marcas da sua (e dos seus) passagem.
Com uma música original de Mason Daring e John E. Low, este documentário atinge um elevado nível de emotividade que ultrapassa o simples relato por parte dos intervenientes e coloca o espectador no espaço onde se sente marcadamente a violência de um passado que se encontra presente mas que se tenta ultrapassar e reconciliar uma sociedade que está, ainda hoje, marcada pelo seu legado, e Marzynski consegue não só transportar as histórias de outros sobreviventes para o relato, como também expiar a sua própria consciência e memória fazendo de todas estas experiências uma experiência única.
Este é um documentário imperdível e que deveria ter um maior destaque e promoção de forma a poder alcançar um público mais vasto pois a sua importância histórica e humana são de tal forma grandes que não deveria estar só ao alcance de um público específico.
.Para sobreviver é preciso, tal como uma das intervenientes diz, "tornarmo-nos tão selvagens quanto a situação em que nos encontramos é", isto se considerarmos que, dadas as circunstâncias, esquecer pode ser selvagem. No entanto não é menos verdade que é precisa uma humanidade extrema para que, décadas depois, se consiga recordar com uma igualmente extrema sensibilidade e emotividade, episódios que modificaram estas pessoas para toda a restante vida. Os seus testemunhos são, além de comoventes, arrasadores. É impossível testemunharmos este sentido documentário sem que as histórias contadas não nos gelem a alma, e percebemos que não houve nada de "selvagem" nestas histórias, mas sim um profundo e sentido desejo de viver não só por parte destas crianças mas principalmente por parte dos seus pais que tudo fizeram e arriscaram para que eles pudessem hoje ser testemunhos vivos da maior barbárie do século passado.
O trauma que permaneceu nas memórias destes sobreviventes foi, durante anos, o principal "responsável" pela sua incapacidade de lidar com as memórias que, de uma ou outra forma, preferiram esquecer. Percebemos serem dolorosas e violentas demais ainda hoje, e constatamo-lo através do seu regresso aos seus espaços natais e através da possibilidade de reverem os locais onde, em crianças, viveram com as suas famílias. Mesmo sem uma memória marcada dos mesmos, o simples facto de voltarem a pisar esses espaços reacende neles um drama que nunca será ultrapassado mas sim, de certa forma, "pacificado" por perceberem que para o futuro irão ficar as marcas da sua (e dos seus) passagem.
Com uma música original de Mason Daring e John E. Low, este documentário atinge um elevado nível de emotividade que ultrapassa o simples relato por parte dos intervenientes e coloca o espectador no espaço onde se sente marcadamente a violência de um passado que se encontra presente mas que se tenta ultrapassar e reconciliar uma sociedade que está, ainda hoje, marcada pelo seu legado, e Marzynski consegue não só transportar as histórias de outros sobreviventes para o relato, como também expiar a sua própria consciência e memória fazendo de todas estas experiências uma experiência única.
Este é um documentário imperdível e que deveria ter um maior destaque e promoção de forma a poder alcançar um público mais vasto pois a sua importância histórica e humana são de tal forma grandes que não deveria estar só ao alcance de um público específico.
9 / 10
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