quarta-feira, 1 de maio de 2013

Renaissance (2006)

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Renascimento de Christian Volckman é uma interessante longa-metragem de animação não tanto pelo argumento em si (apesar de bem estruturado), mas pela qualidade artística e fílmica com que se apresenta.
Paris no ano de 2054. Ilona Tasuiev (Romola Garai) é uma brilhante e promissora jovem cientista da empresa Avalon cujos cartazes e publicidade sobre saúde, beleza e longevidade dominam a cidade, que é misteriosamente raptada. A Avalon quer desesperadamente que Ilona seja reencontrada e o agente Karas (Daniel Craig) é encarregue de a descobrir com o apoio de Bislane (Catherine McCormack), irmã de Ilona, naquela que se torna numa luta contra uma estranha conspiração de há longos anso, e fuga daqueles que não pretendem que a verdade se descubra, podendo esta abalar as estruturas da própria sociedade, recentemente saída de uma guerra.
Pelo meio deparamos com um conjunto de não menos importantes personagens secundárias que, ao seu jeito, dão o seu contributo para desmistificar uma sociedade futurista mas que, na sua essência, se revela bem mais reservada e oprimida do que aquela com a qual se iniciou o século XXI, que esconde quem será a sua verdadeira vítima.
O argumento de Alexandre de La Patellière, Matthieu Delaporte, Jean-Bernard Pouy e Patrick Raynal consegue estabelecer uma interessante relação entre um passado decadente e um futuro recuperado de uma guerra que ultrapassou todas as fronteiras daquilo que em tempos se havia conhecido como "Direitos". Esta nova sociedade austera, corrupta e que vive na sombra os segredos e as experiências para com elas poder controlar todos os seus cidadãos. A sociedade, e a própria cidade de Paris, encontram-se num ponto de evolução que realmente nos remete para esse futuro mas, no entanto, essa mesma evolução é acompanhada por uma falta de liberdades e de condições sociais "digna" da austeridade que os tempos de guerra (nunca esclarecida ou explicada) fizeram sentir.
Assim, em tons de uma sinistra banda-desenhada é recriado um igualmente sinistro (sub)mundo onde o crime, o mistério e as teorias da conspiração são uma constante presença onde todo o ambiente envolvente recriado num look noir onde a presença de sombras é dominante bem como toda a animação se apresenta com linhas rectas e poucas formas fazendo-nos realmente crer que não nos encontramos num mundo nada perfeito ao contrário daquilo que a publicidade da empresa Avalon, central neste filme, nos quer fazer crer.
Renascimento não é o típico filme de animação onde existe uma qualquer moral que reconcilie dois opostos numa qualquer conclusão que consciencialize o espectador para os valores nobres da amizade, da família ou da solidariedade. Pelo contrário, Renascimento é aquele filme de animação que apenas retrata de uma forma igualmente obscura tudo aquilo que o típico filme de ficção pode pretender mostrar... uma sociedade corrupta onde qualquer tipo de valores já fora perdido, onde não se procura uma busca por redenção nem tão pouco existe uma preocupação social para que os problemas do passado não voltem a aparecer. Aqui pretende-se uma perpetuação da vida que se quer opulenta, afastada das dificuldades e onde uma pequena elite subsista às agruras daqueles que, com o tempo, foram colocados à prova. Um mundo eternamente dividido entre essa pequena elite detentora de todo o poder económico e que consiga uma vida eterna, afastada daqueles que subsistem num submundo de crime e de miséria quase autómatos e que não representem qualquer tipo de oposição para os outros, vivendo num estado de mera subsitência.
Toda esta ambiente é perfeitamente recriado através do design de Christian Volckman que dá a tal atmosfera negra e sombria à cidade apenas nos permitindo ver um pouco do próprio espaço em que nos encontramos ao mesmo tempo que se percebe a evolução temporal do espaço que nos remete para o futuro, e também graças a uma banda-sonora original de Nicholas Dodd que exponencia os elementos de film noir deste Renascimento com o acentuar de pequenos sons naturais (da água, da cidade, da mecânica das pessoas), transformando-o num filme frio e desprovido de uma qualquer sensibilidade o que, por um lado mostra a sua excelência na recriação desse ambiente mas que, ao mesmo tempo também não nos permite recriar uma empatia com o mesmo para o considerarmos "aquele" grande filme do género.
Renascimento é um filme interessante pelo ambiente recriado que se afasta do tradicional filme de animação e pelo estilo filmico que apresenta mas, ao mesmo tempo, não alcança todo este potencial para se tornar num filme de referência apesar de estilisticamente ser um achado.
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5 / 10
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