Freelancer de Francisco Lacerda e Francisco A. Lopes é uma curta-metragem portuguesa de ficção presente na edição deste ano do Caminhos do Cinema Português, a decorrer em Coimbra.
Jorge (Francisco Afonso Lopes) é um operador de câmera freelancer que, depois de uma série de infortúnios profissionais - e não só -, se prepara para encontra o maior pesadelo da sua vida num inesperado "último" trabalho.
Na boa e "velha" tradição das obras que o celebrizaram - Dentes e Garras! (2014) e Dentes e Garras! 2 (2016) - Francisco Lacerda (em parceria na realização e no argumento) regressa com este Freelancer para entregar a mesma fórmula (inovada) distanciando-se de um universo mais estival para esta história sobre a luta profissional de um jovem sem contrato que está disposto a literalmente tudo para se livrar da forca a que se auto-condenou. Por outras palavras, aqui a dinâmica - ou analogia - está próxima da realidade de tantos que lutam não só pelo (seu) sonho profissional como pela dignidade do processo até o alcançarem. Num mundo sedento por passar a perna ao mais desatento, este Freelancer é a prova de que muito trabalho (e alguma brincadeira) até podem, de facto, compensar.
No entanto, se na saga Dentes e Garras! a dinâmica era sobre o surgimento de um monstro capaz de dizimar os mais distraídos, aqui estamos perante uma história que potencializa todos os seus momentos mais "vagos" numa sangrenta e desenfreada orgia sexual onde sangue, suor, vómito e muitas lágrimas se mesclam com uma sonoridade muito próxima da - também ela - saga Halloween e abrilhantadas com uma direcção de fotografia de Hugo França que capta o melhor de um ambiente psicadélico onde vale literalmente tudo.
A dupla de Francisco's - Lopes e Lacerda - consegue dar a uma continuidade de terror muito próprio que facilmente se insere na dinâmica do gore ao criar esta história próxima do já referido Dentes e Garras!, inovando os cenários onde estas improváveis histórias se desenrolam e criando, ao mesmo tempo, toda uma vertente de crítica social (ou profissional) capaz de através do ser terror, e principalmente do seu humor corrosivo, chegar ao espectador que encontra, apesar do exagero, várias referências que também ele identifica neste mundo cão.
Enérgico desde o primeiro instante, Freelancer anuncia-se como aquele tipo de filme que terá o seu próprio nicho de mercado junto dos apreciadores do género e frequentadores dos mais diversos festivais de cinema dedicados ao mesmo, sem esquecer que por detrás de uma boa e sangrenta história com muito para dar pelas suas não tão pequenas nuances, se encontra uma ainda mais mordaz crítica ao estado do mundo em que nos encontramos onde, para vencer e fazer crescer o sonho de toda uma vida... muitos são os monstros que se preparam para cruzar o nosso caminho e aproveitar-se de todos os "bons" corações que por ele se atravessam... até um dia! Dia esse, em que o sacrifício pode, afinal, ser a chave de acesso a que tudo finalmente se concretize.
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6 / 10
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