terça-feira, 14 de novembro de 2017

Murder on the Orient Express (2017)

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Um Crime no Expresso do Oriente de Kenneth Branagh é a mais recente longa-metragem realizada pelo actor britânico e o remake da obra de Sidney Lumet de 1974 que deu o Oscar de Actriz Secundária a Ingrid Bergman.
Hercule Poirot (Branagh) é o maior detective do mundo e parte numa viagem a partir de Istambul no Expresso do Oriente. Depois de uma avalanche, o comboio em que seguem é forçado a parar e um assassinato é consumado. Conseguirá Poirot descobrir quem, entre os escassos passageiros, será o assassino?!
Michael Green adapta o célebre policial de Agatha Christie conferindo-lhe Branagh uma ilustre direcção de actores e um cenário opulento e quanto baste excêntrico. A história não é novidade... pelo menos não para aqueles que já conhecem a versão dos anos '70 interpretada por Albert Finney, Lauren Bacall entre outros. Aqui, Judi Dench, Michelle Pfeiffer, Johnny Depp, Willem Dafoe, Penélope Cruz e Olivia Colman dão corpo a alguns dos passageiros que durante largas horas consomem os instintos de "Poirot" que encontra um dos seus mais intensos casos por descobrir.
Deste conto de pessoas que "viajam de um lado para o outro sem nada em comum" destaca-se um elemento fundamental... todos são suspeitos dos acontecimentos que vitimaram mortalmente "Edward Ratchett" (Depp) e as conclusões de "Poirot" cedo irão desvendar o verdadeiro assassino ainda que estas suspeitas... possam induzir o espectador a qualquer um dos passageiros. Numa viagem em que estranhos sem vontade de comunicação entre si se vêem forçados a partilhar um espaço que está cada vez mais condicionado pelas suspeitas que todos assumem sobre todos, este Expresso do Oriente transforma-se lentamente numa claustrofóbica prisão da qual dificilmente irão escapar. Mas será esta vontade de anonimato e distanciamento coerente? Poderão eles começar a empatizar com a presumível inocência ou, por sua vez, recear a provável culpabilidade?!
Quando todas as perguntas começam a ser feitas e todos aparentam recear que se descubra quem são na realidade e o que os levou até àquele local, vítima incluída, o espectador descobre que dentro daquele comboio não existem vítimas conforme se pode deduzir pela respectiva designação mas sim um conjunto de segredos que escondem uma verdade passada maior envolvendo o próprio "Poirot". Será o ou os culpados verdadeiramente culpados? Será a vítima um verdadeiro inocente? As perguntas acumulam-se e só os instantes finais poderão responder a todas elas.
O elemento mais desejado deste filme fora, à parte da óbvia reconstituição de época, o conjunto de actores que fazia o seu nome sonar... Da nobreza de Judi Dench ao rigor de Branagh sem esquecer o ressurgimento de uma sempre desejada Pfeiffer, Murder on the Orient Express resulta se o espectador equacionar a todo o momento a empatia que nutre por alguns destes actores deixando-se, por outro lado, deslumbrar por todo o aparente luxo que o cenário (não) natural deixa transparecer. Tido essencialmente como um filme de actores onde o maior trunfo reside nas suas interpretações e na aparente transparência com que se apresentam ao espectador, a realidade é que apenas Michelle Pfeiffer consegue ter um breve tour de force com este filme mantendo-se, no entanto, como uma entre muitos que tenta agarrar o seu momento destacando-se apenas pela sua fragilidade final que a revelam como uma mulher marcada pela desgraça, desgastada pelo tempo e frágil pela derrota emocional e sentimental com que teve de viver durante muitos e largos anos.
Anunciado como um dos filmes mais aguardados do ano pela sua história - ainda que já conhecida -, pelo seu conjunto de actores mas sobretudo pela qualidade da sua reconstituição histórica onde, na realidade, residem os trunfos maiores desta longa-metragem, Murder on the Orient Express não consegue alcançar o condão dramático que a obra de Sidney Lumet alcançou na década de '70 e, há excepção da já referida Pfeiffer, todas as demais interpretações remetem-se para um plano regular e difíceis de recordar - pelo que aqui defendo... se existir campanha para Pfeiffer para os Oscars... Mother! é a aposta segura - deixando os elementos de referência para o guarda-roupa de Alexandra Byrne, caracterização, música de Patrick Doyle e eventual direcção artística.
Entusiasmante quando tudo se começa finalmente a desvendar e pela sua componente de filme de viagem, Murder on the Orient Express atinge dois momentos que o espectador poderá pontualmente considerar como os seus clímax... o primeiro na já referida revelação de "Caroline Hubbard" (Pfeiffer) e finalmente nos instantes finais onde a culpa é assumida e parece residir em mais do que um dos tripulantes do Expresso. E quando o espectador pensa que "Poirot" não tem também os seus segredos... eis que um caso do passado atormenta a sua própria existência e a memória daquilo que ficou por fazer.
Simpático e com momentos de interpretação que apelam ao mistério, Murder on the Orient Express está, no entanto, longe de ser aquele filme de intriga e conspiração palaciana que se fazia anunciar por um trailer bem montado que explorava o mistério e alguma sedução. Aqui, permanece apenas a tal hora e meia de entretenimento que nunca chegam a fazer vibrar pelas inuendos e reviravoltas a que o argumento se predispõe. Mantendo-se sempre num registo morno que contrasta com o tal frio "lá fora"... apenas Pfeiffer seduz o espectador e, ainda assim, não o suficiente para aqui a recordarmos com uma das suas interpretações maiores.
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"Poirot: Where does conscious die?"
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6 / 10
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