Ao Telefone com Deus de Vera Casaca é uma curta-metragem portuguesa de ficção presente na secção competitiva - e hoje exibida - da vigésima-terceira edição do Caminhos do Cinema Português que decorre em Coimbra até ao próximo dia 3 de Dezembro.
Bartolomeu (Ivo Canelas) quer casar com Adélia (Sara Matos) e está disposto a oferecer a sua égua Pestana a Romeiro (Pedro Monteiro), seu pai. Mas, quando Pestana desaparece e Bartolomeu encontra Severino (Luís Vicente) que fala com Deus... tudo irá tomar um estranho caminho...
Esta curta-metragem cujo argumento também da autoria da realizadora pretende inserir-se naquele domínio do absurdo e do surreal promete entregar uma história de comédia que provoque alguma boa disposição no espectador mas, no entanto, o absurdo fica descontrolado e todos os comportamentos destas bizarras personagens que parecem encontrar-se num qualquer farwest e não necessariamente ali numa qualquer planície alentejana ficam fora dos carris e sem qualquer controlo. Se a planície é alentejana ou não... pouco importa. Aquilo que prende instantaneamente a atenção do espectador é o total exagero dos comportamentos das personagens a cargo de um conjunto de actores reconhecíveis do grande público que tentam salvar esta história não conseguindo, no entanto, dar qualquer credibilidade àqueles que pretendem representar.
Com um conjunto de instantes dignos de qualquer episódio d'Os Malucos do Riso - e não necessariamente pelos melhores motivos -, Ao Telefone com Deus parece tentar não só ridicularizar o típico camponês que deseja um bom casamento como inclusive, os povos nómadas que fazem da caminhada o seu fado e de uma vida sem rumo o seu destino. Como a trapaça parece implícita nas suas acções, não só se quer manter o dote como enganar o pobre desgraçado que tenta uma vida honesta mas que, pelo infortúnio do seu pobre pensamento, se deixa levar pelo coração e não pela razão "trocando" (literalmente) a sua fiel amiga por alguém que nunca terá por ele qualquer sentimento.
De Ivo Canelas a Luís Vicente ilustrativos de duas grandes gerações de actores de volta ao grande ecrã sem esquecer a sempre graciosa presença de uma Sara Matos que já não precisa provar os seus dotes dramáticos, Ao Telefone com Deus perde-se não só na pouco esperada ridicularização da personagem como principalmente dos actores que lhe tentam dar alguma alma. Porque o humor é difícil, mais ainda do que qualquer drama, o mesmo é esperado com nobreza ou total libertinagem... mas sempre pertinente, "sério" e pouco ridicularizado... Porque fazer rir é retirar da alma para criar empatia com o "outro" e não desdenhá-lo na esperança de fazer "graça".... Ao Telefone com Deus tenta a comédia mas choca com o absurdo não só não conseguindo falar com esse "deus" como menos ainda comunicar com o público.
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3 / 10
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Olá Paulo, daqui Vera Casaca a realizadora e argumentista do filme "Ao Telefone com Deus". Queria agradecer a tua crítica sobre o filme, tanto acerca da sua narrativa, pretensões, prestações dos actores, conteúdo das persongens e comparaçāo com Malucos do Riso por más razões. É muito agradável confirmar que nāo gostamos todos do mesmo tipo de filmes e diferentes temos percepções sobre filmes/arte e objectivos. Um grande bem haja e continuaçāo do teu bom trabalho! :) Vera
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