Chama-me pelo Teu Nome de Luca Guadagninoé uma longa-metragem de co-produção entre Itália, França, Estados Unidos e Brasil presente na competição oficial da décima-primeira edição do Lisbon & Sintra Film Festival que decorre até ao próximo dia 26 de Novembro e que hoje foi exibida no Centro Cultural Olga de Cadaval, em Sintra.
No norte de Itália no Verão de 1983, Elio (Timothée Chalamet) de dezassete anos passa os dias na propriedade da família enquanto se dedica às actividades de um jovem da sua idade... escuta e toca música, insinua-se a Marzia (Esther Garrel) e vive uma aparentemente estável existência com os pais (Michael Stuhlbarg e Amira Casar) com quem celebra uma relação próxima e que lhe proporcionam uma formação académica "não oficial" que fazem dele um jovem com um conhecimento cultural acima da média.
No entanto, é quando Oliver (Armie Hammer), assistente do pai de Elio, chega à propriedade que ele irá finalmente compreender o que sente o seu coração, desenvolver a sua sexualidade e compreender o que é o amor e a perda.
Depois de Io Sono l'Amore (2009) e A Bigger Splash (2015), Luca Guadagnino chega com a adaptação da obra de André Aciman cujo argumento escrito por James Ivory leva o espectador a uma intensa viagem pelo início da década de '80 em Itália. Mas esta não é uma viagem qualquer... nem para as personagens de uma classe alta italiana nem tão pouco para o espectador preso a um ideal de amor "estabelecido" e aceite. Os instantes iniciais de Call Me by Your Name apresentam ao espectador uma tradicional história estival... da despreocupação natural da época aos serões passados em família e a receber amigos sem esquecer uma habitual preparação (parental) para um novo ano lectivo, todas as personagens desta história vivem tempos tranquilos naquele que pode ser considerado um paraíso perdido... um espaço idílico que celebra o convívio, uma certa adoração pela arte e pela cultura - não estivéssemos nós perante uma história que decorre em Itália, um "túmulo" vivo da própria História - que florescem no seio de uma despreocupação aparente. No entanto, tudo iria subitamente ser alterado com a chegada de uma nova (e esperada) personagem.
"Oliver" (Armie Hammer) é aqui o elemento da mudança. Essencialmente um promissor académico que vem não só disfrutar do espaço como auxiliar o "Prof. Pearlman" (Stuhlbarg), "Oliver" tem para com o espaço e aqueles que com ele co-habitam uma relação de indiferente apatia. O seu intuito é profissional e, podendo, aproveitar as maravilhas de uma região que é idílica. Se inicialmente o espectador o considera como alguém indiferente ou até mesmo frio e apático com o espaço e com as pessoas, cedo também surgem os pequenos sinais que o parecem fazer querer estar mais naquele espaço do que apenas por motivos profissionais. Os constantes passeios - desconhecidos em certa medida para o espectador - e a convivência com os nativos transformam-no (para o espectador uma vez mais) em alguém que não será, afinal, tão indiferente quanto as suas acções o parecem querer fazer. É então que surge a dinâmica com "Elio"...
Tanto "Elio" como "Oliver" estão essencialmente no chamado "início de vida"... Se para um os prazeres da dita já se começaram a provar, para um ainda jovem "Elio" que se encontra no tal "despertar" emocional, sexual e até sentimental, todos os comportamentos que lhe são naturais ou, até mesmo, aqueles que adquire por convivência e reprodução são uma novidade e a presença de "Oliver" por e para quem se mostra um interessado fazem do jovem "Elio" um curioso relativamente preparado para a experiência que lhe trará este Verão. Se a dinâmica entre ambos parece inicialmente condenada a residir apenas no campo da indiferença e de um certo desdém que, compreendemos mais tarde ser o resultado de uma frustração proveniente de um interesse mútuo não manifestado, acaba por ser a paixão pela cultura e pela arte - das ruínas das civilizações antigas de Itália à música que ambos admiram - que os aproxima e os faz olharem-se não como meros companheiros de casa mas sim como aquele alguém que irá manifestamente alterar as suas vidas fazendo daquilo que não se pode confessar o motivo para que troquem todas as confidências e sentimentos até então reprimidos.
Se o primeiro momento de Call Me by Your Name se dedicou quase exclusivamente a "Elio" como um jovem relativamente apático para quem tudo e nada são preocupações, é agora a sua dinâmica com "Oliver" que se transforma no elemento central desta história que - espera o espectador - terá tudo ou para resultar ou falhar sem barreiras. Da descoberta a uma aparente indiferença - qual jogo de dança com avanços e retrocessos -, "Elio" e "Oliver" aproximam-se e distanciam-se conforme as possibilidades que (pensam) surgem entre eles. Da Itália profundamente tradicional e onde persistem os valores de outros tempos à dinâmica de todo um novo mundo que se avizinha no seu futuro - ainda que este se mantenha distante - os dois cruzam uma etapa das suas vidas em que o amor (ou o seu despoletar) tem tanto de proibido como de apetecível e se para um este se traduz no despertar de um traço da sua personalidade que desconhecia ou, pelo menos, que tardava em reconhecer, para o outro é a confirmação de um sentimento nobre, talvez já há muito não sentido, e que agora está ali ao seu lado prestes a tudo experimentar, tudo sentir e possibilitando que tudo se proporcione.
Mas, se da dinâmica entre os dois se trata, no fundo, toda a história de Call Me by Your Name, é certo que o maior crescimento emocional se encontra do lado do "Elio" de Timothée Chalamet não só pela forma como o actor retrata não só o inicial conflito emocional que o divide entre "Marzia" e de seguida para com "Oliver" mas principalmente pelo seu ritual de descoberta e pela silenciosa dinâmica que mantém com os seus pais conhecedores da sua transformação emocional mas que o acompanham passo a passo incentivando e promovendo esse crescimento sem um julgamento ou condenação. Aliás, se toda esta longa-metragem mostra essa mesma evolução sentimental de "Elio", são os minutos finais junto do seu pai que lhe conferem toda um poder dramático capaz de fazer valer todo um filme que, já de si, se afirma como um dos emocionalmente mais intensos do ano.
Call Me by Your Name é assim uma história de descoberta sentimental, do tal primeiro e verdadeiro amor que, independentemente de poder terminar ou não da melhor forma, se assume como aquele detentor de todo um poder transformador que perdurará na memória e que assumirá a responsabilidade pelas mais profundas marcas emocionais e sentimentais. Aquele que irá perdurar como o que deixou as referências de um sentimento difícil de se poder reencontrar mas que possibilitou a experiência de o reconhecer quando e se alguma vez se voltar a repetir. Mas, ao mesmo tempo, Call Me by Your Name é ainda a confirmação não de uma história onde a homossexualidade é fruto de uma qualquer relação amargurada ou rodeada de todo um conjunto de regras nocturnas de um qualquer submundo mas sim uma história firmada no seio de uma família onde reina a confiança, o amor, a entrega e a partilha de todo um conjunto de sentimentos que, independentemente de não serem proferidos são sentidos como uma presença constante. "Elio" incapaz de proferir os seus reais sentimentos no seu seio familiar sente que, sem o confirmar, tem o apoio dos seus pais que implicitamente com uma presença ou uma conversa mais franca onde tudo se esclarece, estão do seu lado prontos para amá-lo e ampará-lo quando e se o necessitar. Call Me by Your Name, sem recorrer ao gratuito ou a um qualquer submundo, confirma que as histórias de amor no cinema não estão apenas direccionadas para um público heterossexual mas também para o público homossexual, com histórias e finais (mais ou menos) felizes e capaz de agradar a todo um grande público afirmando-se sim, como um dos grandes filmes do ano.
Da Itália tradicional - ou tradicionalista - onde ainda persistiam as inúmeras referências aos valores familiares "correctos" instaurados pelo regime pré-guerra, Call Me by Your Name transporta o amor como o valor primordial e essencial nas relações humanas. Seja o amor familiar, aquele que perdurará entre amigos que partilham todo um conjunto de momento cúmplices ou até mesmo entre o tal primeiro - e talvez único - grande amor, esta história vai para lá de qualquer estigma permitindo ao espectador observar esse conto sobre o amor... O amor que inicialmente se estranha, que depois até se repele mas com o qual finalmente não se consegue passar sem ele. O amor que os faz (re)conhecer-se, que os impele a passar todo o seu tempo juntos e no qual se depositam todas as mais íntimas confidências sabendo que não existirá no seu seio qualquer tipo de julgamento. Call Me by Your Name é assim uma verdadeiro celebração ao mais nobre de todos os sentimentos.
Para lá de toda uma reconstituição história de época irrepreensível graças ao magnífico toque de um dos mais intensos realizadores italianos do momento, Call Me by Your Name é também a confirmação de um notável conjunto de actores entre os quais se destacam, obviamente, Timothée Chalamet, Armie Hammer e Michael Stuhlbarg. Se a dinâmica sentimental entre os dois primeiros é aquela esperada de uma relação afectiva que se descobre, desenvolve e cimenta, é aquela sentida entre o "Elio" de Chalamet e o seu pai interpretado por Stuhlbarg que se destaca. Nestas histórias centradas na confirmação de um amor homossexual, o espectador está tradicionalmente habituado a assistir aos inúmeros conflitos familiares que passam desde o repúdio ao abandono encontrando, no entanto, aqui uma história de profunda e extrema dedicação entre os dois. A descoberta de "Elio" e a certeza do seu pai de que independentemente de qualquer sentimento que ele manifestasse estaria sempre ao seu lado disposto a apoiar o filho em todas as suas cruzadas é, no mínimo, desarmante e talvez o momento que mais facilmente puxa pela lágrima do espectador.
Call Me by Your Name é assim a confirmação de uma das mais intensas histórias dramáticas e de amor do ano. Uma história capaz de impulsionar o género romântico afastando o drama mais fácil e esperado confirmando que o amor - primeiro e verdadeiro - pode permanecer para sempre na vida daqueles que arriscam experimentá-lo e por ele se deixar guiar independentemente das consequências que chegam àqueles que o quiseram sentir. Sem querer recorrer ao lugar comum que é, no entanto, aqui imprescindível mas... Call Me by Your Name é um clássico confirmado e intemporal.
Mas, se da dinâmica entre os dois se trata, no fundo, toda a história de Call Me by Your Name, é certo que o maior crescimento emocional se encontra do lado do "Elio" de Timothée Chalamet não só pela forma como o actor retrata não só o inicial conflito emocional que o divide entre "Marzia" e de seguida para com "Oliver" mas principalmente pelo seu ritual de descoberta e pela silenciosa dinâmica que mantém com os seus pais conhecedores da sua transformação emocional mas que o acompanham passo a passo incentivando e promovendo esse crescimento sem um julgamento ou condenação. Aliás, se toda esta longa-metragem mostra essa mesma evolução sentimental de "Elio", são os minutos finais junto do seu pai que lhe conferem toda um poder dramático capaz de fazer valer todo um filme que, já de si, se afirma como um dos emocionalmente mais intensos do ano.
Call Me by Your Name é assim uma história de descoberta sentimental, do tal primeiro e verdadeiro amor que, independentemente de poder terminar ou não da melhor forma, se assume como aquele detentor de todo um poder transformador que perdurará na memória e que assumirá a responsabilidade pelas mais profundas marcas emocionais e sentimentais. Aquele que irá perdurar como o que deixou as referências de um sentimento difícil de se poder reencontrar mas que possibilitou a experiência de o reconhecer quando e se alguma vez se voltar a repetir. Mas, ao mesmo tempo, Call Me by Your Name é ainda a confirmação não de uma história onde a homossexualidade é fruto de uma qualquer relação amargurada ou rodeada de todo um conjunto de regras nocturnas de um qualquer submundo mas sim uma história firmada no seio de uma família onde reina a confiança, o amor, a entrega e a partilha de todo um conjunto de sentimentos que, independentemente de não serem proferidos são sentidos como uma presença constante. "Elio" incapaz de proferir os seus reais sentimentos no seu seio familiar sente que, sem o confirmar, tem o apoio dos seus pais que implicitamente com uma presença ou uma conversa mais franca onde tudo se esclarece, estão do seu lado prontos para amá-lo e ampará-lo quando e se o necessitar. Call Me by Your Name, sem recorrer ao gratuito ou a um qualquer submundo, confirma que as histórias de amor no cinema não estão apenas direccionadas para um público heterossexual mas também para o público homossexual, com histórias e finais (mais ou menos) felizes e capaz de agradar a todo um grande público afirmando-se sim, como um dos grandes filmes do ano.
Da Itália tradicional - ou tradicionalista - onde ainda persistiam as inúmeras referências aos valores familiares "correctos" instaurados pelo regime pré-guerra, Call Me by Your Name transporta o amor como o valor primordial e essencial nas relações humanas. Seja o amor familiar, aquele que perdurará entre amigos que partilham todo um conjunto de momento cúmplices ou até mesmo entre o tal primeiro - e talvez único - grande amor, esta história vai para lá de qualquer estigma permitindo ao espectador observar esse conto sobre o amor... O amor que inicialmente se estranha, que depois até se repele mas com o qual finalmente não se consegue passar sem ele. O amor que os faz (re)conhecer-se, que os impele a passar todo o seu tempo juntos e no qual se depositam todas as mais íntimas confidências sabendo que não existirá no seu seio qualquer tipo de julgamento. Call Me by Your Name é assim uma verdadeiro celebração ao mais nobre de todos os sentimentos.
Para lá de toda uma reconstituição história de época irrepreensível graças ao magnífico toque de um dos mais intensos realizadores italianos do momento, Call Me by Your Name é também a confirmação de um notável conjunto de actores entre os quais se destacam, obviamente, Timothée Chalamet, Armie Hammer e Michael Stuhlbarg. Se a dinâmica sentimental entre os dois primeiros é aquela esperada de uma relação afectiva que se descobre, desenvolve e cimenta, é aquela sentida entre o "Elio" de Chalamet e o seu pai interpretado por Stuhlbarg que se destaca. Nestas histórias centradas na confirmação de um amor homossexual, o espectador está tradicionalmente habituado a assistir aos inúmeros conflitos familiares que passam desde o repúdio ao abandono encontrando, no entanto, aqui uma história de profunda e extrema dedicação entre os dois. A descoberta de "Elio" e a certeza do seu pai de que independentemente de qualquer sentimento que ele manifestasse estaria sempre ao seu lado disposto a apoiar o filho em todas as suas cruzadas é, no mínimo, desarmante e talvez o momento que mais facilmente puxa pela lágrima do espectador.
Call Me by Your Name é assim a confirmação de uma das mais intensas histórias dramáticas e de amor do ano. Uma história capaz de impulsionar o género romântico afastando o drama mais fácil e esperado confirmando que o amor - primeiro e verdadeiro - pode permanecer para sempre na vida daqueles que arriscam experimentá-lo e por ele se deixar guiar independentemente das consequências que chegam àqueles que o quiseram sentir. Sem querer recorrer ao lugar comum que é, no entanto, aqui imprescindível mas... Call Me by Your Name é um clássico confirmado e intemporal.
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"Mr. Perlman:
We rip out so much of ourselves to be cured of things faster than we
should that we go bankrupt by the age of thirty and have less to offer
each time we start with someone new. But to feel nothing so as not to
feel anything - what a waste!"
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