segunda-feira, 20 de novembro de 2017

How to Talk to Girls at Parties (2017)

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How to Talk to Girls at Parties de John Cameron Mitchell é uma longa-metragem de co-produção norte-americana e britânica e a mais recente obra do realizador de Hedwig and the Angry Inch (2001) e Rabbit Hole (2010).
No submundo punk da Londres do final da década de '70, Enn (Alex Sharp) e os amigos tentam encontrar uma festa organizada por Queen Boadicea (Nicole Kidman). Ao chegarem a uma casa onde um grupo de alienigenas se reúne para uma festa de despedida do planeta Terra, Enn conhece Zan (Elle Fanning) por quem sente uma química imediata. No entanto, Enn está longe de imaginar que este grupo de estranhos "estudantes americanos" se prepara para um misterioso rito de passagem...
A expectativa de reencontrar uma colaboração entre Cameron Mitchell e Nicole Kidman era grande. Grande ao ponto de esperar desta obra cujo argumento é assinado pelo próprio realizador e por Philippa Goslett baseado no conto da autoria de Neil Gaiman e com uma abordagem a um período sempre fascinante da História contemporânea britânica se transformasse numa das referências deste ano. No entanto se a temática oscila entre o enigmático e a comédia podendo facultar ao espectador uma experiência cinematográfica diferente... aquilo que no final se regista é que esta comédia o é... mas não pelos melhores motivos.
How to Talk to Girls at Parties dá início à sua odisseia - mesmo que desastrosa - com um pequeno espectáculo digital onde os efeitos especiais reinam. Se o espectador pensa que este poderá vir a ser um dos trunfos desta longa-metragem, cedo compreende que eles mais não são do que uma amostragem dos pequenos clãs extraterrestres que irão brindar o ecrã com a sua presença. Dos seus clãs que mais tarde descobriremos serem representações de qualidade mais ou menos humanas (afinal todos têm um pouco de inteligência, motivação, etc etc etc...), saberemos também que nenhum deles apresenta o coração que falta à sua expedição inter-galáctica. Da satisfação das mais básicas necessidades não humanas à celebração de uma humanização da diferença, How to Talk to Girls at Parties tenta criar a "raça" perfeita ao criar a primeira relação entre espécies em Terra e comprovar que a diferença - dentro ou fora do planeta - deve ser celebrada e não repudiada ou antagonizada.
É então que chegamos ao momento punk... ou pelo menos àquele que aqui seria tentado. Se é certo que a longa-metragem de John Cameron Mitchell tenta explorar um pouco desta temática apresentando nas suas personagens um certo descontentamento pela sociedade actual - da altura - em que a juventude dos '70 se tentava demarcar não só da ordem imposto como moralmente correcta como também dos idos '60 em que o optimismo hippie não resultou enquanto "fundador" de uma nova sociedade, é também certo que How to Talk to Girls at Parties falha na medida em que ridiculariza os objectivos de toda uma geração que aqui são praticamente - senão totalmente - inexistentes. Ainda que exista alguma necessidade de explorar o lado violento (ou desobediente) da juventude - qual delas não o é?! - e que a expressão ou interacção entre as personagens seja essencialmente feita à base de um código de indiferença, ridicularização e até mesmo pelo uso dessa esperada violência, How to Talk to Girls at Parties tudo transforma num conjunto de momentos pré-fabricados onde esse desprezo pelo imposto está presente mas, no entanto, aqueles que lhe desobedecem caem não só nas manhas de um conjunto de sentimentos pacifistas - o amor, a comunhão ou até mesmo a cumplicidade - que são essencialmente esperados pela dita "ordem" que tanto juram repudiar.
Se isto não fosse suficiente para classificar esta longa-metragem como uma obra tão estranha como as suas personagens o são, é a excessiva semelhança a Hedwig and the Angry Inch (2001) que o transforma numa (não) sequela transferida de Berlim para Londres onde apenas escapa a componente de recriação de época. As personagens estão estereotipadas, os valores adulterados e a esperança num mundo melhor... nunca mais chega. Se "Enn" e os seus amigos mais não são do que um conjunto de adolescentes iguais àqueles de uma qualquer outra época, justo será dizer que os pouco icónicos extraterrestres conseguem consumar o nível de absurdo de toda esta história... Dos seus aspectos aos rituais pseudo-canibalísticos que defendem sem esquecer o desdém por uma sociedade que considerem menos evoluída mas que apresenta valores maiores - ainda que não cumpridos - ou o eterno estigma de que os terrestres mais não são do que passíveis receptáculos de um qualquer abuso sexual que satisfaça as necessidades "superiores" de uma raça que também o é, How to Talk to Girls at Parties centra todo um conjunto de elementos que levam o espectador a rir do resultado final... mas não pelos melhores motivos.
Perdida a esperança de que esta longa-metragem seja uma análise, mesmo que cómica, do movimento punk em que se analisa uma época pelos olhos daqueles que apenas a vislumbraram à distância, How to Talk to Girls at Parties transforma essa raça superior "vinda de longe" numa analogia parental para com as personagens terrestres como os inesperados "diferentes" que o poder paternal não consegue compreender. Se a isto juntarmos a explícita vontade de classificar os terrestres como exploradores de um planeta que definha com o passar dos anos então Cameron Mitchell conseguiu ainda filmar uma improvável história ambiental como que um aviso para as gerações futuras... "vocês comem tudo que um dia acabam por comer-se a vocês próprios"...
Como momento positivo destas quase das horas de cinema "alternativo" temos então a já referida reconstituição de época dos bairros e lares operários dos arredores londrinos às grandes mansões desertificadas fruto de uma época de colapso económico passando pelos trajes a maquilhagens característicos de uma geração em revolta sem esquecer, claro está, o excêntrico guarda-roupa quer de terrestres quer dos "extra" ambos futuristas - nem sempre pelos melhores motivos - para uma época em constante transformação.
De uma Elle Fanning nem sempre bem aproveitada - afina, para ser superior anda muito perdida - a um Alex Sharp em modo "o que estou aqui a fazer", são os secundários como Nicole Kidman como "Queen Boadicea" ou AJ Lewis como "Vic" que melhor encarnam não só o espírito de uma época como as personagens mais centradas deste conto e, no fundo, com mais sentido ou conteúdo numa história que se perde e atropela a cada minuto que passa transformando este tão esperado How to Talk to Girls at Parties naquilo que vulgarmente se poderia apelidar de um perfeito desastre. Ainda que se tenha tentado conferir-lhe uma alma (a filme e a personagens), esta perdeu-se tão ou mais depressa do que o sentido da obra nesse tal Universo que ninguém sabe quando ou onde (se é que) termina.
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4 / 10
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