Terrain Vague de Latifa Said é uma curta-metragem luso-francesa presente na competição oficial da vigésima-terceira edição do Caminhos do Cinema Português a decorrer em Coimbra.
Nos subúrbios de uma grande cidade, uma prostituta (Delphine Grandsart) refugia-se num bar depois de perseguida por algumas crianças. É observada em silêncio. No bar, um homem (Slimane Dazi) observa-a e, quando ela sai, segue-a. Ele deseja algo que ela é capaz de lhe dar... ou talvez algo mais.
Latia Said dirige e escreveu o argumento desta curta-metragem sobre a iniciação sexual de forma brilhante, por vezes emotiva e com ligeiras doses de humor que desarmam pela sua simplicidade e conferem às suas personagens uma invulgar dimensão humana capaz de as aproximar do seu público que, livre de julgamentos, as acolhem como suas.
A prostituta interpretada por Delphine Grandsart é, para lá de uma mulher marcada pelas circunstâncias da vida que, no fundo, o espectador desconhece, uma mulher que luta pela sua sobrevivência. Nada sobre o seu passado nos chega para lá de que será uma eventual vítima dos julgamentos efectuados pela sociedade que a condena sem a conhecer. Na teoria ninguém quer nada com ela e afastam-na desse seu mundo idílico onde todos são perfeitos... Mas, isenta de qualquer imperfeição, na prática ela é a mulher a quem todos recorrem para satisfazer os seus mais recônditos desejos e devaneios sexuais a troco de algumas notas. Humana, emotiva, sensível mas por vezes fria e rude, esta mulher nada entrega aos demais para lá do seu corpo... Nada... até encontrar um inesperado estranho que a persegue e dela se aproxima não com os habituais caprichos sexuais mas sim com um inesperado pedido...
Ele, num brilhante registo de Slimane Dazi, é um homem perdido no tempo e no espaço. Sem qualquer familiar ou amizade que o espectador lhe reconheça, é o breve encontro naquele bar que o faz aproximar-se de uma mulher que, tal como ele, está perdida no mundo que conhece. Mas, para ele, ela presta um serviço que lhe pode ser útil... um serviço que ele ousa a não encarar como todos os demais e que lhe pode iniciar numa vida que os seus cinquenta anos de idade (?) ainda não conheceram.
A empatia entre os dois, ainda que não imediata, despoleta uma relação que mesmo não confirmada pelo espectador, se assume como intensa, reveladora e transformadora... para ambos... Para ela por talvez encontrar naquele homem o primeiro que a respeita... para ele pela possibilidade de ter naquela mulher, alguém que o ame e para quem saiba poder, a qualquer momento, voltar e entregar-se permitindo-lhe ganhar a confiança que, até então, nunca conseguira encontrar.
Distante de uma realidade suburbana portuguesa tida como tradicional, Terrain Vague é uma magnífica curta-metragem com chancela nacional e, sem margem para reservas, um dos grandes filmes curtos deste último ano. Intensa pela forma como aborda a sexualidade - ou o seu início - já numa idade tão avançada e por aproximar a mesma de um meio mais rude, operário e que pouco tempo perde com a sensibilidade alheia, Latifa Said cria um intenso drama sentimental que, sem tabus, medos ou limitações explora a mais natural das necessidades humanas, o respeito (esperado) pelas trabalhadoras de sexo a quem todos recorrem mas que todos temem respeitar e finalmente abordando de forma exemplar a temática do amor (ou do romance) no mais improvável dos meios comprovando que estas histórias (ainda) existem e quando contadas com intensidade e empenho estão próximas de se aproximar daquele cinema que todos quereremos recordar.
Latia Said dirige e escreveu o argumento desta curta-metragem sobre a iniciação sexual de forma brilhante, por vezes emotiva e com ligeiras doses de humor que desarmam pela sua simplicidade e conferem às suas personagens uma invulgar dimensão humana capaz de as aproximar do seu público que, livre de julgamentos, as acolhem como suas.
A prostituta interpretada por Delphine Grandsart é, para lá de uma mulher marcada pelas circunstâncias da vida que, no fundo, o espectador desconhece, uma mulher que luta pela sua sobrevivência. Nada sobre o seu passado nos chega para lá de que será uma eventual vítima dos julgamentos efectuados pela sociedade que a condena sem a conhecer. Na teoria ninguém quer nada com ela e afastam-na desse seu mundo idílico onde todos são perfeitos... Mas, isenta de qualquer imperfeição, na prática ela é a mulher a quem todos recorrem para satisfazer os seus mais recônditos desejos e devaneios sexuais a troco de algumas notas. Humana, emotiva, sensível mas por vezes fria e rude, esta mulher nada entrega aos demais para lá do seu corpo... Nada... até encontrar um inesperado estranho que a persegue e dela se aproxima não com os habituais caprichos sexuais mas sim com um inesperado pedido...
Ele, num brilhante registo de Slimane Dazi, é um homem perdido no tempo e no espaço. Sem qualquer familiar ou amizade que o espectador lhe reconheça, é o breve encontro naquele bar que o faz aproximar-se de uma mulher que, tal como ele, está perdida no mundo que conhece. Mas, para ele, ela presta um serviço que lhe pode ser útil... um serviço que ele ousa a não encarar como todos os demais e que lhe pode iniciar numa vida que os seus cinquenta anos de idade (?) ainda não conheceram.
A empatia entre os dois, ainda que não imediata, despoleta uma relação que mesmo não confirmada pelo espectador, se assume como intensa, reveladora e transformadora... para ambos... Para ela por talvez encontrar naquele homem o primeiro que a respeita... para ele pela possibilidade de ter naquela mulher, alguém que o ame e para quem saiba poder, a qualquer momento, voltar e entregar-se permitindo-lhe ganhar a confiança que, até então, nunca conseguira encontrar.
Distante de uma realidade suburbana portuguesa tida como tradicional, Terrain Vague é uma magnífica curta-metragem com chancela nacional e, sem margem para reservas, um dos grandes filmes curtos deste último ano. Intensa pela forma como aborda a sexualidade - ou o seu início - já numa idade tão avançada e por aproximar a mesma de um meio mais rude, operário e que pouco tempo perde com a sensibilidade alheia, Latifa Said cria um intenso drama sentimental que, sem tabus, medos ou limitações explora a mais natural das necessidades humanas, o respeito (esperado) pelas trabalhadoras de sexo a quem todos recorrem mas que todos temem respeitar e finalmente abordando de forma exemplar a temática do amor (ou do romance) no mais improvável dos meios comprovando que estas histórias (ainda) existem e quando contadas com intensidade e empenho estão próximas de se aproximar daquele cinema que todos quereremos recordar.
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9 / 10
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