sábado, 15 de junho de 2013

Dear God (1996)

.
Querido Deus de Garry Marshall, típico realizador de comédias românticas e que aqui nos apresenta uma longa-metragem com uma interessante premissa... O que aconteceria se os milhares de cartas endereçadas a Deus fossem finalmente respondidas?
Tom Turner (Greg Kinnear) é um vulgar vigarista que tudo faz para ganhar alguns dólares e ir passando pelos dias sem grandes preocupações. Quando num dos seus esquemas tenta vigarizar um polícia à paisana, Tom é detido e levado a julgamento onde tem de decidir entre uma de duas sentenças... ou cumpre pena de prisão ou encontra um trabalho honesto.
Quando decide encontrar um trabalho, longe estaria de pensar que seria no Posto dos Correios que o iria encontrar desiludindo-se quando percebe que vai para o departamento de correio impossível de entregar e cujos destinatários se encontram entidades tão variadas como o Pai Natal, o Coelho da Páscoa ou Deus. Quando Tom decide responder a uma das cartas cujo remetente é Deus e obtém a ajuda de alguns dos seus colegas, longe estaria de pensar que iria iniciar um movimento que para além de lhes dar algum conforto momentâneo, iria principalmente responder a alguns dos desejos de pessoas que se encontram sós e isoladas no mundo.
Mas neste mesmo mundo onde todos desconfiam das boas intenções alheias, Tom encontra-se uma vez mais a cumprir a sua tarefa de sempre... a vigarice.
Warren Leight e Ed Kaplan escreveram um interessante argumento que, em tons de comédia mais ou menos bem conseguida, disserta sobre problemas bem actuais das sociedades modernas, independentemente do facto deste filme já ter quase vinte anos. À sobrevivência nas sociedades actuais e principalmente nas grandes cidades onde tudo parece quase sempre tão impessoal e distante que faz com que todos os esquemas e modos de vida sejam "aceites" ou pelo menos tolerados, é ainda referência aquele que talvez seja o principal e mais preocupante problemas destas mesmas sociedades... a solidão. Nas grandes metrópoles espalhadas um pouco por todo o mundo, densamente povoadas e movimentadas durante as vinte e quatro horas que percorrem cada dia, é curioso encontrar aqueles que (sobre)vivendo no seu meio passam quase despercebidos dos olhares de todos os outros, dando assim "vida" à ideia de que estamos sózinhos no meio de tanta gente e que a ninguém podemos recorrer no meio de um qualquer problema. Daí ao vazio, ao desespero e a encontrar no suicídio como a única solução para uma vida sem sentido vai um pequeno passo que é igualmente abordado neste filme.
No entanto, apesar de temas tão sérios e delicados serem aqui abordados, não deixa igualmente de ser verdade que se tenta expô-los através de um olhar menos sério ou fatal, mas sim como uma etapa mais complicada mas da qual todos acabam por poder sair e por isso a comédia presente alivia a sensação de que estamos perante um filme onde a desgraça é senhora. Não obstante, e como forma deste filme poder ter resultado brilhantemente, seria necessário que a comédia aqui presente tivesse sido levada ao limite e onde a dinâmica entre as várias personagens presentes fosse suficientemente convincente para nos sentirmos "bem" com a mensagem de fundo.
Assim, aquilo que se verifica na sua maioria no presente filme, são um conjunto de momentos feito unicamente para evidenciar os talentos de um Greg Kinnear em franca ascenção mas que, na prática, pouco mais serve para além disso. A sua dinâmica com os restantes actores é quase nula, e nem mesmo o facto destes começarem a actuar em parceria com o seu "Tom" nos faz pensar que a certa altura esta química irá existir. Eles de facto actuam entre si e preenchem os espaços em branco que circulam perante as interpretações mas, no entanto, esta química ou dinâmica estão sempre ausentes da interacção que deveria existir entre as diversas personagens e actores. Todos estão lá, todos a querer ter graça mas, na prática, cada um puxa para seu lado e o filme é pequeno demais para que se pense que vai existir no momento seguinte essa confirmação.
O potencial existe e a personagem "Tom" de Kinnear é suficientemente interessante nesta dinâmica para nos fazer querer que este filme funcione, no entanto, algo fica perdido e à deriva durante a sua execução que não chegando a cumprir-se nos deixa com uma certa insatisfação perante aquilo que é e aquilo que queríamos que este filme tivesse sido, servindo assim na sua essência como um simpático filme de entretenimento mas não como aquela história agridoce sobre as sociedades, ou populações, contemporâneas solitárias e amarguradas que apenas tentam passar e sobreviver.
.
.
5 / 10
.

Sem comentários:

Enviar um comentário