domingo, 9 de junho de 2013

Bons Meninos (2013)

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Bons Meninos de Ruben Jesus é uma curta-metragem portuguesa de ficção que num estilo inicialmente de entrevista documental, nos leva para uma escola onde professores e alunos respondem a um conjunto de perguntas que aos poucos vai definindo o seu próprio carácter e pensamento, ao mesmo tempo que nos mostra o passado de alguns dos seus intervenientes.
É então que é apresentado através de flashbacks o passado de um desses jovens (Ruben Jesus) que na iminência de perder a sua casa  e ser separado da sua irmã mais nova, se vê envolvido no negócio da droga como forma de poder pagar as dívidas do seu pai.
Calmo e pacato, com claros objectivos de sobrevivência e manutenção de uma certa estabilidade, conhece outro jovem (Martin Gilev) impulsivo e destemido sendo um o complemento do outro, conseguindo assim manter uma co-existência de aprendizagem e crescimento.
Vários foram os aspectos desta curta-metragem que captaram a minha atenção nomeadamente o argumento escrito por Ruben Jesus (que se assume como o motor da mesma estando por detrás de todas as vertentes da sua execução), que para além de uma simples história da adolescência, mostra um conto sobre o crescimento, sobre as responsabilidades e, acima de tudo isso, nos entrega (pensado ou não), um interessante relato sobre a sociedade, ou crise social, na qual actualmente vivemos e na qual o mais insuspeito dos indivíduos pode mais ou menos inadvertidamente "cair", sendo que seja a sua sobrevivência que é colocada em causa.
E para o confirmarmos basta pensarmos em alguns dos segmentos que são filmados muito em particular aqueles que os professores interpretam quando, num estilo de confessionário, entregam algumas das mais curiosas respostas que, em boa medida, representam não só o momento em que nos encontramos como uma certa consciência colectiva onde se equaciona que um bom tipo de criminoso será um político, onde se equaciona que uma pessoa perigosa mais não é do que aquela que não tem nada a perder ou que possui influência, que tem poder e uma alargada rede de contactos ou ainda que os valores universais, que no fundo mais não são do que os direitos fundamentais pelos quais qualquer sociedade ocidental se rege, mais não são do que "moldáveis" às realidades do momento, inconstantes e jamais verdades absolutas sendo tudo uma questão de "contexto".
Actual, demasiadamente actual, e como tal curioso quando alguém tão jovem como é o caso deste realizador, argumentista e intérprete já (in)conscientemente elabora um trabalho tão lúcido, sarcástico e mordaz sobre as condições do mundo e da sociedade à sua volta, lançando-lhes um olhar crítico, bruto e sem rodeios onde percebemos que para (sobre)viver com alguma dignidade temos de, por vezes, pisar um risco que, não nos definindo, irá para sempre deixar a sua marca na nossa própria consciência, e onde independentemente dos perigos ou caminhos menos correctos que possam cruzar a nossa vida, há que enfrentá-los sabendo quando e onde deveremos deles sair, e onde para além do medo o que nos define é sim a coragem com que enfrentamos esses mesmos riscos.
De destacar a química e a dinâmica criada entre o par protagonista, Ruben Jesus e Martin Gilev que através de um fundo essencialmente sério e crítico consegue ainda recriar alguns momentos onde através das suas próprias simplicidades em encarar o mundo, nos fazem sorrir pela sua entrega e naturalidade. No entanto, do duo há a destacar a interpretação de Ruben Jesus que, não sendo um actor profissional, consegue ter um francamente sólido desempenho e que poderia ter ido muito mais longe caso este trabalho fosse uma longa-metragem (que deveria ter sido), onde pudessem ser exploradas mais dinâmicas nomeadamente a relação com o seu pai e com os dois bem interventivos professores que entregam sólidos, e igualmente irónicos, testemunhos fruto de quem já tem alguma experiência e conhecimento do espaço e do tempo em que vive.
Destaque ainda para a direcção de fotografia de Luís Medeiros que capta a noite e o seu ambiente de uma forma crua e desprovida de artifícios onde todas as inocências finalmente se perdem bem como afasta qualquer ausência de luz e brilho dos rostos de todos os intervenientes retratando assim uma perda de qualquer esperança num dia melhor, independentemente de ser por ele que, de certa forma, se luta e pretende alcançar.
Não sendo aquilo a que se pode chamar de uma curta-metragem "profissional", não deixa de ser um intenso e sarcástico filme que prima pela sua actualidade, pela sua mensagem e sobretudo pela realidade e frieza com que retrata um mundo no qual muitos de nós jamais pensaríamos poder vir a viver e que nos atingiu com uma força que ou "matou" ou nos marcou. E é por esta capacidade de reter tanto em pouco mais de trinta minutos que Ruben Jesus tem, assumidamente, a sua prova de fogo superada e que marcará o seu ponto de viragem de um jovem e promissor realizador que terá (se continuar) certamente o seu lugar no meio e com muitas e importantes histórias por contar.
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"Entrevistador: Se fosse um criminoso, de que tipo seria?
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Professor: Hmmm... não sei... talvez político!"
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8 / 10
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