4M de Nelson de Castro e Wilson Pereira é
uma curta-metragem portuguesa de ficção que nos conta a história de
Diogo (Hugo Costa Ramos) e Estela (Sara Gonçalves), dois activistas que vivenciam uma penitência numa altura social, económica e moralmente conturbada.
Quando
Diogo é capturado e aplicada sobre ele a nova lei 4M, a pergunta que se
impõe prende-se com a impossibilidade das relações humanas e o futuro
dos cidadãos que estão assim impedidos de manifestar as opiniões
divergentes das impostas pelo governo.
O
argumento de João Farinha, Nelson de Castro e Wilson Pereira não
poderia ser mais ironicamente actual quando nos deparamos com uma
vontade secreta de banalizar a manifestação e o direito à mesma onde
numa sociedade que se assume cada vez mais individualista e
desinteressada para com os reais problemas que a afectam se conforma
lentamente com a "inevitabilidade" daquilo que lhe é imposto.
Numa
época, independentemente dela qual fôr, em que alguns dos mais
importantes direitos pelos quais toda a nossa sociedade se rege, devemos
questionar-nos sobre a relevância dos mesmos não só para a mesma como
principalmente para a consciencialização de classe e do próprio ser
Humano e, como consequência directa, até que ponto abdicar hoje de um
direito abre um precedente para outros serem questionados.
Esta
curta-metragem que me chegou às mãos muito recentemente, deixa-me assim
pensar sobre a sociedade em que vivemos e os perigos que afectam
diariamente a nossa forma de vida onde se incute constantemente uma
certa ideia de que manifestar é perigoso, que as manifestações e greves
não trazem benefícios (antes pelo contrário), e especialmente que se o
fizermos poderemos colocar em causa certas seguranças e garantias que
até à data nos têm sido "dadas", quando na prática todas elas foram
conquistadas no passado através da luta de muitos.
As
inspiradas e cúmplices interpretações de Hugo Costa Ramos e de Sara
Gonçalves encarnam assim na perfeição este sentimento de estarem por um
lado marcados pelo afastamento que lhes é imposto e assim impedidos de
socializar a uma distância que lhes permita solidificar a sua própria
relação, e por outro sentimos também que o clima da sociedade em que
vivem é fortemente austero e pouco livre, fazendo com que todos sintam o
receio de viver tranquilamente as suas opiniões e posições sociais e
políticas.
Destaque ainda para a
direcção de fotografia de Nelson de Castro que consegue conferir a esta
curta-metragem uma interessante atmosfera ao tempo e ao espaço em que se
vive, como se nos encontrássemos numa época diferente, mas não tão
distante quanto isso.
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8 / 10
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