(In)Sanidade de Isabel Pina é uma curta-metragem portuguesa de ficção que nos transporta para os tensos meandros de um hospital psiquiátrico onde uma mulher (Ana Mafalda) se encontra internada. Se por um lado percebemos que a sua situação psicológica não é a melhor, não deixa igualmente de ser verdade que aqueles que estão encarregados de tratar dela abusam da sua situação indefesa tornando o seu estado cada vez mais degradante e instável.
Se por um lado a enfermeira (Sandra Ferreira) a medica constantemente, não deixa de ser igualmente verdade que o enfermeiro (João Craveiro) a sodomiza sem conhecimento de ninguém. No entanto tudo irá ser desvendado quando, como consequência, o estado mental dela se degrada ao ponto de não suportar a companhia do doente (José Pedro Alfaiate) que se encontra também no seu quarto.
Quando o seu estado psicológico a leva a cometer um crime de sangue, irá alguém ser responsabilizado por não ter salvaguardado a sua segurança física e mental?
Isabel Pina e Sandra Ferreira escrevem este argumento e conseguem com ele elevar um dos seus principais elementos ao transmitir para o espectador uma desconfortável sensação de clausura e claustrofobia que retratam o estado de espírito não só dos doentes daquele hospital de uma forma geral mas, muito concretamente, o sentimento daquela mulher que tenta manter a todo o custo a última réstia de lucidez que sente ainda ter e com ela tentar manter controlo sobre o pouco que resta da sua vida.
A dar corpo a esta mulher temos Ana Mafalda que foi nomeada com esta interpretação ao prémio Shortcutz de melhor actriz no início deste ano, e que consegue captar e transmitir aquele exacto estado de espírito pelo qual percebemos estar a sua personagem a passar. Insegura, indefesa e incapaz de distinguir com total realismo a sua própria condição, bem como a do espaço que a rodeia, o seu olhar transmite-nos essa incerteza sobre aquilo pelo qual está a atravessar. Será que ela estará de facto a perder a noção da realidade ou estará num espaço que q quer forçosamente ali condicionada?
Se o argumento é competente e a interpretação principal nos transmite exactamente aquilo que esperamos do género de filme em questão, não é menos verdade que João Craveiro enquanto o sádico enfermeiro que faz o destino dos outros pelas suas próprias mãos, nos entrega uma interpretação sólida e franca sobre a real dimensão daquilo que esperamos poder ser um vilão... "Inocente" até que alguém consiga prova a sua culpa é algo que tem espelhado no seu rosto a cada momento em que é confrontado... No entanto desde cedo sabemos que de inocente não tem absolutamente nada.
Com música original de Tiago Inuit e uma direcção de fotografia de Tiago Cruz que captam não só a claustrofobia do espaço como principalmente a sentida na mente daquela mulher, esta curta-metragem sai vencedora como um interessante e eloquente trabalho sobre a real dimensão do aprisionamento no qual se pode encontrar uma mente refém de pré-conceitos estabelecidos sobre a loucura e a (in)sanidade como opostos directos de uma lucidez que pode estar na mais improvável das mentes.
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"Deus perdoa um crime de sangue, e o Diabo, o
que terá ele a dizer sobre isso?"
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7 / 10
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Ena, ena, muito boa crítica :)
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