Sonata de Jon Ander Tomás é uma curta-metragem espanhola de ficção baseada na obra A Sonata de Kreutzer de Tolstoi que nos insere nos meandros da sedução entre um homem (Javier Server) e uma mulher (Marina San José) passando pelo seu casamento, falsamento satisfatório e um simples meio de conquistar uma "presa", e consequente vida conjugal.
Da sedução à conquista passando pelo sentimento de posse e pelo ciúme, esta curta-metragem com argumento escrito também por Jon Ander Tomás, tem uma interessante abordagem à perspectiva que cada um dos seus intervenientes tem sobre o amor. Se para Ele, a conquista, o desejo e o prazer carnal são os únicos motores da relação que passa depois a um degradar do sentimento, para Ela a relação inicial é apenas a porta de entrada para a dedicação, a entrega e o sentimento mais nobre de todos... o amor.
Assim, com perspectivas tão singulares e dispares sobre aquilo que cada um representa para o outro, qual o real destino que a relação destas duas pessoas poderá vir a confirmar?
Por muito que seja desejado por Ele que o amor apenas o seja como uma forma de satisfazer os seus desejos carnais mais imediatos. Desejo esse que será a forma mais eficaz de a matar, usando-a e afastando-a não querendo assim criar nenhuma relação mais íntima sentimentalmente mas que, ao mesmo tempo, confirma a conquista e o interesse, dissipando-os no exacto momento dessa confirmação, não deixando assim de ser menos verdade que durante toda esta curta-metragem se sinta uma ora interessante ora intensa e estranha química entre os dois intervenientes que confirma que o desejo/amor e vontade de sedução/posse estão intimamente ligados dependendo uns dos outros como se de uma sobrevivência animal se tratasse.
A química existente entre Server e San José é evidente, e apesar de muitos momentos os dois não se encontrarem fisicamente próximos, não deixa de ser menos verdade que todos os seus actos ocorrem em função daquilo que esperam a que o outro reaja, numa relação que aos poucos se anuncia destrutiva e que consome as respectivas energias.
Se Tomás compõe uma interessante história que apenas peca pela sua curta duração (aos poucos percebemos que queremos mais da intimidade e proximidade daquelas duas personagens), não é menos verdade que tecnicamente esta curta-metragem apresenta uns quantos aspectos dignos de destaque e excelência. Por um lado a direcção de arte pelas mãos de Jone Vitoria Sola e Beatriz Montares que recria na perfeição um ambiente dito de "época" que se realça e distingue pela caracterização de Marina Salvá, Irune Alfonso, Ainhoa Fernández e Ayshe Misheva que faz-nos sentir estar numa atmosfera moderna apesar da história ter mais de um século.
De destacar ainda a excelente direcção de fotografia por José Luís Bernal que capta os tons quentes e envolventes do ambiente geral dando-lhes um elevado cariz erótico (mas sério), que denota a tensão existente entre as duas personagens principais, não deixando de lado a constante imagem de que muito rapidamente aquela relação terá um fim trágico.
Uma interessante e bem elaborado filme que nos deixa uma vontade de que a sua duração pudesse ser mais longa e, como tal, as personagens fossem ainda mais exploradas juntamente com os seus vícios e elos de aproximação por muito pouco saudáveis que eles possam ser.
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7 / 10
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