quinta-feira, 20 de junho de 2013

Alogicamente (2011)

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Alogicamente de André Viuvens e Nuno Martini é uma curta-metragem portuguesa de comédia e aquele que é um dos mais fortes trabalhos que vi este ano.
O que acontece quando se funde a ficção com a realidade? A resposta é simples... resulta numa hilariante e bem estruturada curta-metragem que surpreende pela originalidade e pelo divertimento nem sempre habituais.
Um realizador (Viuvens) e uma produtora (Catarina Guimarães) em reunião decidem qual das actrizes que passou pelo seu casting irá ser a protagonista do seu próximo filme. Depois dessa conturbada reunião terminar decidem ir a casa da jovem actriz que parece incontactável e falarem com ela sobre a sua disponibilidade e começarem assim as gravações.
No entanto, quando a alucinada mãe (Rita Sales) revela ser tão ou mais problemática que o próprio realizador graças a uma muito forte "amizade" que tem com o alcoól, e quando se descobre que afinal a jovem foi raptada, nada de bom poderia acontecer nos destinos destas figuras. Nada, a não ser uma enorme surpresa que nós espectadores temos já no final desta curta...
André Viuvens é a força motora deste filme ao produzir, co-realizar, escrever, compôr a música e interpretar numa bem disposta e também ela alucinada personagem que dava por si só um filme próprio completamente centrado em si. Não basta esta sua personagem dizer tudo quanto lhe vai pela alma da forma mais inesperada possível revelando assim ser uma daquelas personagens que, a ser real, seria bem complicado de se lidar, como também o faz com uma graça e humor que conquista a boa disposição dos espectadores logo no primeiro instante em que fala e é disso representativo aquela tão sui generis reunião com que este filme se inicia.
A seu lado temos uma muito controlada "produtora", aqui interpretada por Catarina Guimarães que tenta quase no limite das suas forças manter algum tipo de sanidade onde ela já se perdeu há muito. Com uma personagem tanto quanto possível tranquila, é interessante verificar como consegue manter o mesm equilíbrio do início até ao final da sua participação sem vacilar um único instante para um momento em que, também ela, perdesse o controle do seu rumo.
E se já não bastava a alucinação que é a interpretação de Viuvens, a meio caminho temos ainda a efusiva prestação de Rita Sales que não tem um único elemento de sanidade na composição da sua personagem (e ainda bem). Se já nos rimos com Viuvens, é impossível parar com a "mãe" composta por Sales que é do mais genial que vi nos últimos tempos. Não falo só da sua já referida amizade com o alcoól mas também da simples presença que tem... Desde o cabelo, ao discurso e a forma como se apresenta e encarna a sua personagem tudo, sem excepção, encontra um lugar certo no meio de toda a desordem.
E falar das personagens sem falar do raptor interpretado por Hugo Cunha seria praticamente uma injustiça. A dinâmica criada entre o seu "Raptor" e o "Realizador" de Viuvens é de tal forma harmoniosa que, não fossem opostos entre um suposto bem e o mal, mais parecia que estas eram de facto almas gémeas que, algures na sua vida se haviam separado, e para o confirmar basta vermos o diálogo entre ambos onde se tentam no nível de linguagem utilizada.
No final damos por nós a pensar num importante elemento que teria sido genial nesta curta-metragem... a presença dos castings na mesma... Se a reunião entre "Produtora" e "Realizador" foi tão verbal e fisicamente produtiva, o que seria se aqui estivessem presentes os castings que devem ter sido verdadeiras provas de fogo para as "actrizes" envolvidas.
Uma curta forte, consistente e com doses de humor capazes de criar a sua própria legião de fãs que fazem dela uma das mais fortes e intensas dos últimos tempos. E quanto à lógica... ela de facto não é precisa quando se apresenta algo tão consistente como aquilo que aqui temos.
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9 / 10
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1 comentário:

  1. Sem querer tirar credibilidade e mérito à restante equipa, do meu ponto de vista de cinefilo compulsivo, Hugo Cunha (anão-raptor) foi sem dúvida alguma quem melhor representou e definiu toda a curta.
    Actores com o calibre dele, são raros e extremamente necessários na industria cinematográfica.

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