quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Hunger (2008)

Fome de Steve McQueen é um brutal relato das últimas semanas de vida do activista Bobby Sands que perdeu a vida numa prisão depois da sua greve de fome no início dos anos 80.
Para dar vida ao activista irlandês foi escolhido o actor alemão Michael Fassbender, numa interpretação magnífica e repleta de humanismo como já há muito tempo não se verificava que venceu inúmeros prémios e que foi nomeado para tantos outros inclusive o European Film Award. Fassbender tem força e garra através das suas palavras e faz-nos ver através do drama que vive uma determinação enorme para com os ideais de Sands. Se disso alguma dúvida existisse, o discurso entre Sands e o Padre Moran (interpretado por Liam Cunningham) era disso exemplo perfeito.
Através de Fome vemos todo o caminhar destrutivo de uma violência não só física mas sobretudo psicológica efectuado no cativeiro de Bobby Sands e de outros presos. Assistimos a toda uma decadência da moral e do físico destes homens mas nunca ao abandono das suas convicções.
Não é um filme de discursos longos mas são decerto superiores na linha humana do seu conteúdo. Assistimos apenas a um grande monólogo, grande na sua extensão e maior ainda na sua mensagem, e portanto temos aqui acima de tudo um filme que contempla estados através da imagem e da expressão do olhar que os actores nos entregam.
Steve McQueen teve aqui um extraordinário trabalho de realização pois consegue retirar dos actores, de todos eles, o melhor que há em si, e entregando a Fassbender aquele que será possivelmente a interpretação da sua vida numa que é ainda uma curtíssima carreira como actor.
Grande é também a banda-sonora, uma das melhores do ano certamente, da autoria de Leo Abrahams e David Holmes num registo tranquilo e sóbrio mas de grande sentido de nos dar a entender que chegará o fim mas possivelmente não uma redenção.
Este filme consegue ser não só um grande testemunho histórico como um exemplo maior da luta pelos direitos fundamentais de um cidadão e claro, da forma como estes se podem perder rapidamente às mãos de outrém.
É aqui que vemos como na falta de outros recursos é o corpo, e não a mente, que se torna na última forma de reclamar esses mesmos direitos que caracterizam o ser humano. E percebemos também como algumas pessoas se dispõe a perdê-lo, ao corpo e como consequência à vida, em nome desses mesmos ideais.
Afirmo sem reservas que Fome é um dos grandes e estrondosos filmes do ano e que apesar de em grande parte ser um filme contemplativo consegue fazer um enorme ruído.




10 / 10


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