sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Can't Stop the Music (1980)

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Não Pode Parar a Música! de Nancy Walker (EUA) é a longa-metragem que relata a suposta formação do grupo Village People composto por Ray Simpson (Polícia), David Hodo (Construtor), Felipe Rose (Índio), Randy Jones (Cowboy), Alex Briley (G.I.) e Glenn Hughes (Homem de Cabedal).
Jack Morell (Steve Guttenberg) é um compositor que tenta firmar o seu nome no mundo do espectáculo. Com a ajuda de Samantha (Valerie Perrine) e de Ron (então Bruce Jenner), formam um grupo a partir de Greenwich Village em Nova York, a luta da sua afirmação até ao grande concerto em San Francisco.
Alan Carr e Bronte Woodard assinam o argumento de uma história que, no fundo, corresponde em muito ao ideal do "sonho americano" onde tudo é possível para todos aqueles que se exploram por ter sucesso na vida. Numa sociedade igualitária e livre de preconceitos - tão pouco a norte-americana -, este grupo de pessoas que forma um intenso laço de amizade, chegam das mais diversas proveniências e estabelecem aquilo que é a sua comunidade onde todos co-habitam com uma alegria de viver constante e nada... nada os poderá parar... nem a eles... nem à sua música.
Esta longa-metragem que pretende não só homenagear como principalmente celebrar essa intensa alegria de viver bem e depressa numa harmonia quase instável típica de uma sociedade saída de uma guerra no Vietname que durou trinta anos, perde muita da sua tentada dinâmica quando se sub-divide em pequenos sub-argumentos que primeiro tentam apresentar um sem fim de personagens - nem sempre úteis para a história - mas que aqui, de uma ou outra forma, se tentam afirmar como pertinentes e interessantes, fazendo do seu estilo de vida (nem sempre compensador ou desejado), o mote para toda uma evolução e crescimento pessoal através da tão amada (por todos) música.
A música não pode parar... dito e sentido por muitas das suas personagens, ainda que na sua maioria graças a um ritmo frenético, clara e obviamente exagerado, é a expressão de ordem de uma história que prima apenas por um aspecto... o desejo presente de todas as personagens em celebrar a união fora das normas de uma sociedade que, em boa medida, não os reconhece. Todos eles fartos dos seus trabalhos e ocupações medianas onde não só não brilham como não fazem transparecer o melhor de si próprios, encontram nesta inesperada comunidade artística a forma de se transformarem naquilo que realmente são, longe do preconceito e dos sucessivos "não" que a sua vida encontrou pelo caminho. Se até aqui o princípio de afirmação pessoal e individual até poderia ser convincente e interessante do ponto de vista de crescimento das personagens, certo é também que o já mencionado exagero e a hiper-positividade os condena, desde o primeiro instante, a um estado de pouco realismo dramático àquilo que pretendem retratar. Se a afirmação pessoal é um importante passo no desenvolvimento de cada indivíduo, aquilo que Can't Stop the Music garante ao espectador é que facilmente se chega lá simplesmente... acreditando.
Com interpretações igualmente exagerados onde ninguém para lá dos próprios Village People se safam - afinal, são os únicos para os quais o próprio exagero até os compensa e caracteriza -, em Can't Stop the Music todos parecem concentrados em revelar ao espectador uma incansável alegria de viver, uma necessidade de fazer acontecer e uma percepção do mundo de que tudo é fácil. Encontramo-lo no "Jack Morell" de Guttenberg, na "Samantha" de Valerie Perrine e sobretudo na interpretação do então Bruce Jenner como "Ron", um advogado saturado da sua posição ultra-conservadora - a ironia! - que também pretende ser o verdadeiro radical que o seu interior realmente sente... Be what you can be... but only if you are the only one who can be "it".
Exaustivo nos momentos ficcionados onde tanto o drama como a comédia são ora exagerados ora pouco convincentes ao ponto de parecer que todos os actores estão sob o efeito de algum alucinogénio, Can't Stop the Music prima apenas pelos momentos musicais exuberantes, bem coreografados e interpretados ou, no fundo, por aquilo que, eventualmente, apenas e só deveria ter sido... um musical. Um musical que celebrasse (mesmo que fosse de forma relativamente ficcionada), o percurso de formação dos Village People - principalmente até porque os próprios são actores desta longa-metragem - mantendo-se coerente com o espírito de uma jovem geração recentemente entrada nos seus vinte's e que fosse, de certa forma, o símbolo de algo novo... de uma nova esperança, de um novo fôlego, de um novo começo para aqueles que surgiam agora fora dos meandros de uma sociedade ultra-conservadora dos anos '70. No entanto, o rumo ultra-bem disposto e de alegria como palavra-chave das suas personagens faz com que toda esta obra - mesmo que um clássico da década de '80 - se resuma a um revigorante ocasional número musical onde todos pretendem vencer na vida... dando corpo e consistência ao seu sonho... não fosse esta concretização a própria noção do que é o "sonho americano".
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