Hércules - A Lenda Começa de Renny Harlin (EUA) - realizador de filmes como Cliffhanger (1993), Cutthroat Island (1995) ou The Long Kiss Goodnight (1996) - é o regresso às origens de uma das mais simbólicas lendas da mitologia grega aqui ainda longe de atingir a imponência que as histórias deixaram.
Traído pelo pai, lançado no exílio e vendido como escravo, Hércules (Kellan Lutz) luta contra o tempo e contra as adversidades para regressar ao seu reino e encontrar Hebe (Gaia Weiss), o amor da sua vida.
"Dono" de alguns emblemáticos sucessos de bilheteira dos idos anos '90, Renny Harlin parece não ter conseguido distanciar-se de tantos outros flops de bilheteira e da crítica lançando-se sistematicamente num processo de direcção de histórias que estão (aparentemente) condenadas a um qualquer fracasso iniciado quer no casting ou mesmo na excessiva vontade de incorporar um argumento que parece destinado a parodiar(-se) o conto ao qual pretendem dar vida ou mesmo no recurso a um sem fim de efeitos especiais que, em nada, parecem dignificar a história que aqui se pretende contar.
Dito isto, o que podemos encontrar neste The Legend of Hercules? Aquilo que pretende começar como um conto mitológico sobre as origens dessa lenda dos contos tradicionais gregos, cedo se desvanece numa história que, no fundo, ninguém conhece. Assim, recorrendo a muito do imaginário colectivo de qualquer espectador que tenha frequentado as aulas de História do ensino básico e secundário, o argumento da autoria do próprio Renny Harlin em colaboração com Sean Hood, Daniel Giat e Giulio Steve, adapta de forma totalmente livre aquilo que "pensa" ter sido a origem desse mito herculiano. Nesta perspectiva, o espectador cedo conhece a concepção do futuro herói e a traição palaciana da sua mãe com o fantasma de Zeus, o Rei dos deuses, após uma trama "diplomática" com Hera - outra deusa - para conquistar a paz nos reinos, sendo o espectador imediatamente transportado para aquilo que se pretende ter como âmago desta história, ou seja, o elemento amoroso que tradicionalmente comanda todos os contos deste género.
Mas, se as origens deste herói "moderno" (moderno apenas pela abordagem que aqui lhe é conferida) são rapidamente inseridas e esquecidas não pelo espectador mas sim por um argumento que pouco parece querer explorar esta dinâmica, também é uma realidade que o elemento romântico que se constrói é, também ele, atirado para esta longa-metragem como cimento para uma parede... sem qualquer ordem ou ritmo. Utilizando esta comparação, rapidamente compreenderá o espectador que... tal como essa parede... também a lenda de The Legend of Hercules é subitamente ignorada vetando este herói mitológico a um sem fim de banalidades e trivialidades que em nada o dignificam ou engrandecem.
Se desde cedo o espectador compreende que este argumento sobrevive à custa dos efeitos especiais que lhe dão alguma côr - e vice versa -, qualquer dúvida ficaria imediatamente dissipada quando observamos um conjunto de actores que pouco mais estão a fazer nesta longa-metragem para lá de exibir alguns (poucos) dotes físicos que comprometem todo o seu demais trabalho... ou, por outras palavras, para um público mais juvenil que possa aderir a esta "lenda"... para quê olhar para a História por detrás da história quando os abdominais de Kellan Lutz ou a beleza de Gaia Weiss parecem inundar em doses "pouco" generosas o ecrã?! Nesta medida, por muito adulterada que seja a história ou por muito irreal ou pouco coerentes que sejam as interpretações ou os factos aqui retratados - conquista de território, escravatura, traição palaciana e claro... a boa e esperada dose de mitologia clássica -, para quê preocupar em demasia quando se tem um pouco mais de "carne" à vista...
Ignorados que estão todos os elementos anteriores, um que não escapa ao olhar mais atento é o facto de alguns - praticamente todos - destes actores recitarem de forma muito leviana e pouco inspirada os seus diálogos criando toda uma interacção - entre os mesmos - que parece retirada de um momento declamatório com pouca convicção. Se tudo isto falha, questiona-se o espectador em que momento (se é que algum) residem os elementos positivos desta história... A resposta, não tão simples quanto poderia aparentar, permanece no mais óbvio e primário... os próprios efeitos especiais que recriam a imagem da Grécia Antiga ou nas mais ou menos elaboradas coreografias que colocam actores (e seus respectivos duplos) em recriações minimamente inspiradas de batalhas, duelos e combates. Retirados os mesmos e o espectador facilmente se aperceberá que se encontra perante um vazio e nulo colectivo que faz desejar ver regressar as já referidos obras dos anos '90 nas quais o realizador parecer ter tido inspiração criativa.
No geral o espectador apenas encontra em The Legend of Hercules um filme de entretenimento banal e facilmente remetido ao esquecimento. Apaguem-se ou não as luzes durante o seu visionamento, certamente ninguém irá dar pela sua falta confirmando que a lenda... não começa aqui.
.
.
.
3 / 10
.
Sem comentários:
Enviar um comentário