domingo, 15 de fevereiro de 2015

Miami (2014)

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Miami de Simão Cayatte é uma curta-metragem de ficção portuguesa que foi exibida na secção competitiva nacional do Córtex - Festival de Curtas-Metragens de Sintra que termina hoje no Centro Cultural Olga de Cadaval, em Sintra.
Raquel (Alba Baptista) é um adolescente com grandes sonhos de fama. Depois de mais um casting em que é recusada, Raquel tem no seu pensamento um perigoso e obsessivo desejo que lhe irá mudar radicalmente a vida.
Simão Cayatte assina o interessante argumento de Miami no qual reflecte claramente sobre os tempos modernos em que a fama e as celebridades instantâneas são os desejos de muitos jovens que se sujeitam a intermináveis castings - por vezes até duvidosos - nos quais a rejeição precede um conjunto de portas fechadas que, por momentos, se pensaram abertas.
Os desejos mais ou menos ocultos de "Raquel" são claras manifestações de uma jovem cujo cérebro e claro discernimento já se perderam algures no caminho em que procurou essa fama - ou a sua ilusão - e a vontade de ser "alguém" que todos reconhecem e admirem. Foi neste mesmo percurso que perdeu também a normal interacção com os jovens da sua idade e com uma família que desconhecemos se não a incentiva ou se, por sua vez, ela o entende como tal, ou seja, como uma consequência da sua mente estar alheada às contrariedades da vida.
Neste percurso de perseguição a essa "fama" que não chega - pelo menos não da forma como ela mentalmente sã a procuraria - "Raquel" encontra a sua ruína e a perda total dos seus sentidos mais básicos, incluindo aqueles de Humanidade que destrói com o mais bárbaro dos actos. "Raquel", que poderia ter qualquer outro nome, é um rosto anónimo de muita juventude que persegue sonhos não impossíveis mas sim difíceis e trabalhosos de alcançar. Persegue-os de tal forma que para eles está disposta a cometer tudo e cujos resultados lhe conferem esse "estrelato" e o tal reconhecimento ainda que, ao mesmo tempo, destruam toda a sua vida futura.
A jovem Alba Baptista tem aqui uma interpretação notável e francamente inspirada como uma adolescente que entra numa clara ruptura consigo e com o mundo, indiferente àqueles que gostam dela ou que desejam a sua presença e que usa os mais fracos de forma selvática apenas para preencher a sua "quota" de fama e de ambição. Sem olhar a meios e sempre com um olhar conflituoso que mescla a ternura com a maldade, será seguro dizer que a jovem actriz dá à sua personagem a alma que a própria ousa perder.
Suavemente intensa, Miami é uma curta-metragem que se afirma pela forma tranquila como instala a desordem, o caos e até mesmo a morte sem se preocupar com o facto dela poder ser controversa mas também tão real por nos mostrar tão abertamente o lado obscuro da fama... ou da tentativa de a alcançar.
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8 / 10
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