As Gémeas de Ben Sombogaarté uma longa-metragem holandesa nomeada ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro presente na segunda edição do Cinema Bioscoop - Festival de Cinema da Holanda e da Flandres, a decorrer no Cinema São Jorge em Lisboa, cuja adaptação do romance homónimo de Tessa de Loo nos conta a trágica história de duas irmãs gémeas na Alemanha da década de 20 do século passado.
O primeiro encontro que temos com as duas irmãs remonta aos seus seis anos
de idade quando perdem o pai e Lotte, que se encontra gravemente doente, é levada para viver com os tios na Holanda, enquanto Anna permanece na Alemanha para trabalhar na quinta de outro tio.
de idade quando perdem o pai e Lotte, que se encontra gravemente doente, é levada para viver com os tios na Holanda, enquanto Anna permanece na Alemanha para trabalhar na quinta de outro tio.
Com o eclodir da Segunda Guerra Mundial e com uma fronteira pelo meio a separá-las, somos levados a conhecer as condicionantes pelas quais cada atravessa e a forma como estas vão não só definir os seus destinos como principalmente a forma como essa mesma fronteira consegue exercer uma forte pressão que as irá opôr enquanto indivíduos que, noutras circunstâncias, iriam partilhar objectivos e ideais comuns.
A adaptação do romance feita por Marieke van der Pol consegue reter os elementos fundamentais de uma obra dramática, especialmente se considerarmos a envolvência de uma história que tem o seu centro no maior conflito que o continente europeu alguma vez viu, e consegue ser emocionante e consistente na sua procura de uma redenção entre aquelas duas crianças, jovens e mulheres que viveram uma vida afastada mesmo que no seu subconsciente estivessem sempre à procura do momento em que se poderiam reencontrar.
"Lotte" que começa por ser uma personagem mais frágil e debilitada aos poucos transforma-se na jovem e na mulher que é capaz de enfrentar os maiores desafios e provações por em primeiro lugar se encontrar afastada de uma irmã que amava e perto de familiares que desde criança lhe ocultaram a verdade da sua família. Com o tempo é esta mesma "Lotte" que não só consegue encontrar a sua jovem irmã como acima de tudo atravessa uma fronteira geográfica que a colocava numa situação frágil durante os difíceis e tenebrosos anos que o continente atravessava. A dar corpo a esta jovem, na qual se centra uma boa parte da acção deste filme e onde a sua própria personagem encontra a maior transformação e provação, temos uma enérgica e vibrante Thekla Reuten que personifica a imagem da jovem, mas frágil, heroína que se encontra nos dois lados de um barco a afundar. Dinâmica e com uma força e energia invejável, é nos seus braços que a maior parte da dramatização deste filme vive, e ela transporta-a para um bom porto.
Do outro lado, a interpretar a forte e dinâmica "Anna", temos uma perspicaz Sina Richardt que cresce num ambiente marcado desde muito cedo pela força do trabalho duro que iriam modelar muito da sua mentalidade enquanto jovem mulher numa Alemanha que procurava as fragilidades da população das franjas para constituir a sua fonte de apoio, e que vê na sua intérprete adulta Nadja Uhl o rosto de uma mulher que não consegue distinguir as diferenças das ideias pré-fabricadas que lhe são colocadas na cabeça como forma de procurar o bode expiatório que o regime lhe propõe (impõe?).
O reencontro já em idade avançada das duas irmãs é a personificação da tensão que se pode sentir entre duas mulheres que devido a um conjunto de mal entendidos e deformações de personalidade que os seus próprios meios lhes impuseram e Ellen Vogel enquanto "Lotte" e Gudrun Okras como "Anna", as duas actrizes mais idosas, são por um lado a força e a emotividade a conviverem num constante confronto e choque que termina como um redenção tardia mas esperada e emotiva que finalmente as aproxima ao final de décadas de afastamento.
A direcção de fotografia de Piotr Kukla consegue fazer-nos viajar para a Europa dos anos 30 e 40 do século passado, e colocar-nos no centro de tempos difíceis que jamais seriam apagados da memória colectiva dos seus povos, e a excelência da música original da autoria de Fons Merkies consegue incorporar muito do espírito e da mágoa que se fizeram sentir durante o mesmo período, transformando o filme não só numa interessante obra sobre o referido período como principalmente sobre a forma como diferentes meios e ambientes podem contribuir para a formação de uma opinião, de um pensamento e de uma ideologia que tanto pode ser nociva para aqueles que a praticam como para os demais sob os quais é praticada, mesmo que, como é aqui exemplo, os dois principais intervenientes tenham sido até certo ponto educados sob uma mesma mão.
No final, a mensagem principal que esta emocionante história escrita originalmente por Tessa de Loo nos transmite, é a força e o poder do amor, que conquista barreiras mesmo nos períodos mais difíceis, que faz com que se deseje proteger, tomar conta e abraçar aqueles com que mais de perto privamos e que constituem também eles o porto de abrigo que se procura. Aqueles que testemunham a nossa passagem, por mais curta que seja, e que são assim as provas da nossa existência. O amor que nos caracteriza, que nos marca e que nos define, mesmo que aos olhos dos demais possa parecer algo estranho, diferente e impossível. É esse amor que faz atravessar os mais abomináveis perigos, momentos e adversidades que, mesmo opondo aqueles que partilham laços de sangue, conseguem com o passar dos anos falar mais forte e mais alto do que qualquer diferença que os possa ter afastado e que é brilhantemente interpretado por um conjunto de actrizes que definem com força e perseverança toda a narrativa.
.A adaptação do romance feita por Marieke van der Pol consegue reter os elementos fundamentais de uma obra dramática, especialmente se considerarmos a envolvência de uma história que tem o seu centro no maior conflito que o continente europeu alguma vez viu, e consegue ser emocionante e consistente na sua procura de uma redenção entre aquelas duas crianças, jovens e mulheres que viveram uma vida afastada mesmo que no seu subconsciente estivessem sempre à procura do momento em que se poderiam reencontrar.
"Lotte" que começa por ser uma personagem mais frágil e debilitada aos poucos transforma-se na jovem e na mulher que é capaz de enfrentar os maiores desafios e provações por em primeiro lugar se encontrar afastada de uma irmã que amava e perto de familiares que desde criança lhe ocultaram a verdade da sua família. Com o tempo é esta mesma "Lotte" que não só consegue encontrar a sua jovem irmã como acima de tudo atravessa uma fronteira geográfica que a colocava numa situação frágil durante os difíceis e tenebrosos anos que o continente atravessava. A dar corpo a esta jovem, na qual se centra uma boa parte da acção deste filme e onde a sua própria personagem encontra a maior transformação e provação, temos uma enérgica e vibrante Thekla Reuten que personifica a imagem da jovem, mas frágil, heroína que se encontra nos dois lados de um barco a afundar. Dinâmica e com uma força e energia invejável, é nos seus braços que a maior parte da dramatização deste filme vive, e ela transporta-a para um bom porto.
Do outro lado, a interpretar a forte e dinâmica "Anna", temos uma perspicaz Sina Richardt que cresce num ambiente marcado desde muito cedo pela força do trabalho duro que iriam modelar muito da sua mentalidade enquanto jovem mulher numa Alemanha que procurava as fragilidades da população das franjas para constituir a sua fonte de apoio, e que vê na sua intérprete adulta Nadja Uhl o rosto de uma mulher que não consegue distinguir as diferenças das ideias pré-fabricadas que lhe são colocadas na cabeça como forma de procurar o bode expiatório que o regime lhe propõe (impõe?).
O reencontro já em idade avançada das duas irmãs é a personificação da tensão que se pode sentir entre duas mulheres que devido a um conjunto de mal entendidos e deformações de personalidade que os seus próprios meios lhes impuseram e Ellen Vogel enquanto "Lotte" e Gudrun Okras como "Anna", as duas actrizes mais idosas, são por um lado a força e a emotividade a conviverem num constante confronto e choque que termina como um redenção tardia mas esperada e emotiva que finalmente as aproxima ao final de décadas de afastamento.
A direcção de fotografia de Piotr Kukla consegue fazer-nos viajar para a Europa dos anos 30 e 40 do século passado, e colocar-nos no centro de tempos difíceis que jamais seriam apagados da memória colectiva dos seus povos, e a excelência da música original da autoria de Fons Merkies consegue incorporar muito do espírito e da mágoa que se fizeram sentir durante o mesmo período, transformando o filme não só numa interessante obra sobre o referido período como principalmente sobre a forma como diferentes meios e ambientes podem contribuir para a formação de uma opinião, de um pensamento e de uma ideologia que tanto pode ser nociva para aqueles que a praticam como para os demais sob os quais é praticada, mesmo que, como é aqui exemplo, os dois principais intervenientes tenham sido até certo ponto educados sob uma mesma mão.
No final, a mensagem principal que esta emocionante história escrita originalmente por Tessa de Loo nos transmite, é a força e o poder do amor, que conquista barreiras mesmo nos períodos mais difíceis, que faz com que se deseje proteger, tomar conta e abraçar aqueles com que mais de perto privamos e que constituem também eles o porto de abrigo que se procura. Aqueles que testemunham a nossa passagem, por mais curta que seja, e que são assim as provas da nossa existência. O amor que nos caracteriza, que nos marca e que nos define, mesmo que aos olhos dos demais possa parecer algo estranho, diferente e impossível. É esse amor que faz atravessar os mais abomináveis perigos, momentos e adversidades que, mesmo opondo aqueles que partilham laços de sangue, conseguem com o passar dos anos falar mais forte e mais alto do que qualquer diferença que os possa ter afastado e que é brilhantemente interpretado por um conjunto de actrizes que definem com força e perseverança toda a narrativa.
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