sábado, 14 de setembro de 2013

Countdown (2012)

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Countdown de Nattawut Poonpiriya é, longe de qualquer reserva, um dos filmes sensação do último dia do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa e que consegue arrancar não só algumas sádicas gargalhadas como também se constitui como um intenso filme de acção claustrofóbica.
Uma passagem de ano em Nova York pode constituir o sonho de qualquer um. Assim o encararam Jack (Pachara Chirathivat), Pam (Pattarasaya Kreuasuwansri) e Bee (Jarinporn Joonkiat), três jovens tailandeses que vivem e estudam na cidade e que se preparam para a noite das suas vidas.
Quando encontram os fragmentos de um pequeno cartão com um número de telefone de um dealer chamado Jesus, resolvem ligar-lhe e pedir que os abasteça para a tão aguardada noite. Depois de uma misteriosa sucessão de acontecimentos Jesus (David Asavanond) chega finalmente ao seu apartamento para os questionar sobre o seu passado e proveniência naquela que se iria transformar numa noite que jamais iriam esquecer e na qual seriam surpreendidos não só por aquela enigmática figura como também por uma estranha redenção que de outra forma poderia nunca chegar.
Poonpiriya além de realizar assina também o argumento desta história que tem tanto ou mais de comédia mordaz do que tem de terror, inserindo-nos num pequeno e tenso ambiente cuja direcção de fotografia de Niramon Ross parece querer fazer-nos regredir para um cinema de género dos anos 70 do século passado onde o espaço e acção mais tensos se desenvolvem num pequeno meio e a um ritmo que se poderia considerar alucinado repleto de incertezas e de inseguranças onde as principais personagens se encontram perdidas.
Se os actores que interpretam os três estudantes tailandeses em Nova York têm desempenhos pouco expressivos e por vezes até medianos com desfechos de certa forma previsíveis, não é menos verdade que o referido misto de tensão e comédia devem-se quase exclusivamente a uma genial composição de personagem de seu nome "Jesus" que o actor David Asavanond constrói numa pereita união de comédia, sátira e mensagem social que espelha alguma falta de valores e padrão moral da nossa sociedade. Asavanond consegue dar ao seu "Jesus" aquilo que pretendemos retirar de uma personagem assumidamente má isto é, se por um lado repudiamos toda a sua técnica de pressão e de intimidação, não é menos verdade que deixamos a sua postura de anjo vingador que reclama justiça para aqueles que foram esquecidos e oprimidos de alguma forma pelos outros três intervenientes assuma contornos de sedução para o espectador que são impossíveis de ignorar.
O actor, que recebeu o prémio de melhor actor na indústria tailandesa, espalha um misto de sensações ao introduzir uma personagem descontraída e relaxada que apenas quer fazer algum dinheiro e viver uma passagem de ano alheado de qualquer tipo de responsabilidades para, aos poucos, revelar-se como alguém repleto de ideias e modus operandi sádico, irónico e que não está ali para brincar... muito pelo contrário, ele prepara-se para dar a entender aos demais que veio para reclamar as suas almas e que não pára enquanto não as conseguir. Ainda que alguém que recorre, também ele, a um padrão moral francamente baixo, não é menos verdade que desde o primeiro instante que nos cativa e esperamos que ele se torne cem vezes pior do que aquilo que já revelou e aquele olhar parado no vazio consegue ser bastante revelador de que lhes está a estudar as almas e, como tal, intimidante conseguindo assim ser o centro de toda esta longa-metragem.
Ainda que algo mediano no seu apressado desfecho, Countdown (sobre)vive de uma bem executada composição da sua personagem principal e de todo um ambiente de época, apesar de decorrer na actualidade, que nos faz esquecer o mundo lá fora concentrando-nos única e exclusivamente no que está a ocorrer naquele assombroso apartamento onde ninguém pode chegar quando toda uma cidade de ruas cheias de pessoas se prepara para celebrar o futuro e deixar para trás todo um pasado mais complicado... de certa forma uma relativa ironia com as próprias posturas dos jovens tailandeses que têm, principalmente eles, o seu próprio passado para esquecer.
Dinâmico e macabro, graças a Asavanond, Countdown pode servir como uma interessante reflexão sobre as consequências que advêm dos actos do passado... Passado esse que mais cedo ou mais tarde aparece para reclamar as suas dívidas.
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8 / 10
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