Countdown de Nattawut Poonpiriya é, longe de qualquer reserva, um dos filmes sensação do último dia do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa e que consegue arrancar não só algumas sádicas gargalhadas como também se constitui como um intenso filme de acção claustrofóbica.
Uma passagem de ano em Nova York pode constituir o sonho de qualquer um. Assim o encararam Jack (Pachara Chirathivat), Pam (Pattarasaya Kreuasuwansri) e Bee (Jarinporn Joonkiat), três jovens tailandeses que vivem e estudam na cidade e que se preparam para a noite das suas vidas.
Quando encontram os fragmentos de um pequeno cartão com um número de telefone de um dealer chamado Jesus, resolvem ligar-lhe e pedir que os abasteça para a tão aguardada noite. Depois de uma misteriosa sucessão de acontecimentos Jesus (David Asavanond) chega finalmente ao seu apartamento para os questionar sobre o seu passado e proveniência naquela que se iria transformar numa noite que jamais iriam esquecer e na qual seriam surpreendidos não só por aquela enigmática figura como também por uma estranha redenção que de outra forma poderia nunca chegar.
Poonpiriya além de realizar assina também o argumento desta história que tem tanto ou mais de comédia mordaz do que tem de terror, inserindo-nos num pequeno e tenso ambiente cuja direcção de fotografia de Niramon Ross parece querer fazer-nos regredir para um cinema de género dos anos 70 do século passado onde o espaço e acção mais tensos se desenvolvem num pequeno meio e a um ritmo que se poderia considerar alucinado repleto de incertezas e de inseguranças onde as principais personagens se encontram perdidas.
Se os actores que interpretam os três estudantes tailandeses em Nova York têm desempenhos pouco expressivos e por vezes até medianos com desfechos de certa forma previsíveis, não é menos verdade que o referido misto de tensão e comédia devem-se quase exclusivamente a uma genial composição de personagem de seu nome "Jesus" que o actor David Asavanond constrói numa pereita união de comédia, sátira e mensagem social que espelha alguma falta de valores e padrão moral da nossa sociedade. Asavanond consegue dar ao seu "Jesus" aquilo que pretendemos retirar de uma personagem assumidamente má isto é, se por um lado repudiamos toda a sua técnica de pressão e de intimidação, não é menos verdade que deixamos a sua postura de anjo vingador que reclama justiça para aqueles que foram esquecidos e oprimidos de alguma forma pelos outros três intervenientes assuma contornos de sedução para o espectador que são impossíveis de ignorar.
O actor, que recebeu o prémio de melhor actor na indústria tailandesa, espalha um misto de sensações ao introduzir uma personagem descontraída e relaxada que apenas quer fazer algum dinheiro e viver uma passagem de ano alheado de qualquer tipo de responsabilidades para, aos poucos, revelar-se como alguém repleto de ideias e modus operandi sádico, irónico e que não está ali para brincar... muito pelo contrário, ele prepara-se para dar a entender aos demais que veio para reclamar as suas almas e que não pára enquanto não as conseguir. Ainda que alguém que recorre, também ele, a um padrão moral francamente baixo, não é menos verdade que desde o primeiro instante que nos cativa e esperamos que ele se torne cem vezes pior do que aquilo que já revelou e aquele olhar parado no vazio consegue ser bastante revelador de que lhes está a estudar as almas e, como tal, intimidante conseguindo assim ser o centro de toda esta longa-metragem.
Ainda que algo mediano no seu apressado desfecho, Countdown (sobre)vive de uma bem executada composição da sua personagem principal e de todo um ambiente de época, apesar de decorrer na actualidade, que nos faz esquecer o mundo lá fora concentrando-nos única e exclusivamente no que está a ocorrer naquele assombroso apartamento onde ninguém pode chegar quando toda uma cidade de ruas cheias de pessoas se prepara para celebrar o futuro e deixar para trás todo um pasado mais complicado... de certa forma uma relativa ironia com as próprias posturas dos jovens tailandeses que têm, principalmente eles, o seu próprio passado para esquecer.
Dinâmico e macabro, graças a Asavanond, Countdown pode servir como uma interessante reflexão sobre as consequências que advêm dos actos do passado... Passado esse que mais cedo ou mais tarde aparece para reclamar as suas dívidas.
.Poonpiriya além de realizar assina também o argumento desta história que tem tanto ou mais de comédia mordaz do que tem de terror, inserindo-nos num pequeno e tenso ambiente cuja direcção de fotografia de Niramon Ross parece querer fazer-nos regredir para um cinema de género dos anos 70 do século passado onde o espaço e acção mais tensos se desenvolvem num pequeno meio e a um ritmo que se poderia considerar alucinado repleto de incertezas e de inseguranças onde as principais personagens se encontram perdidas.
Se os actores que interpretam os três estudantes tailandeses em Nova York têm desempenhos pouco expressivos e por vezes até medianos com desfechos de certa forma previsíveis, não é menos verdade que o referido misto de tensão e comédia devem-se quase exclusivamente a uma genial composição de personagem de seu nome "Jesus" que o actor David Asavanond constrói numa pereita união de comédia, sátira e mensagem social que espelha alguma falta de valores e padrão moral da nossa sociedade. Asavanond consegue dar ao seu "Jesus" aquilo que pretendemos retirar de uma personagem assumidamente má isto é, se por um lado repudiamos toda a sua técnica de pressão e de intimidação, não é menos verdade que deixamos a sua postura de anjo vingador que reclama justiça para aqueles que foram esquecidos e oprimidos de alguma forma pelos outros três intervenientes assuma contornos de sedução para o espectador que são impossíveis de ignorar.
O actor, que recebeu o prémio de melhor actor na indústria tailandesa, espalha um misto de sensações ao introduzir uma personagem descontraída e relaxada que apenas quer fazer algum dinheiro e viver uma passagem de ano alheado de qualquer tipo de responsabilidades para, aos poucos, revelar-se como alguém repleto de ideias e modus operandi sádico, irónico e que não está ali para brincar... muito pelo contrário, ele prepara-se para dar a entender aos demais que veio para reclamar as suas almas e que não pára enquanto não as conseguir. Ainda que alguém que recorre, também ele, a um padrão moral francamente baixo, não é menos verdade que desde o primeiro instante que nos cativa e esperamos que ele se torne cem vezes pior do que aquilo que já revelou e aquele olhar parado no vazio consegue ser bastante revelador de que lhes está a estudar as almas e, como tal, intimidante conseguindo assim ser o centro de toda esta longa-metragem.
Ainda que algo mediano no seu apressado desfecho, Countdown (sobre)vive de uma bem executada composição da sua personagem principal e de todo um ambiente de época, apesar de decorrer na actualidade, que nos faz esquecer o mundo lá fora concentrando-nos única e exclusivamente no que está a ocorrer naquele assombroso apartamento onde ninguém pode chegar quando toda uma cidade de ruas cheias de pessoas se prepara para celebrar o futuro e deixar para trás todo um pasado mais complicado... de certa forma uma relativa ironia com as próprias posturas dos jovens tailandeses que têm, principalmente eles, o seu próprio passado para esquecer.
Dinâmico e macabro, graças a Asavanond, Countdown pode servir como uma interessante reflexão sobre as consequências que advêm dos actos do passado... Passado esse que mais cedo ou mais tarde aparece para reclamar as suas dívidas.
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