Compota de Lieven Debrauwer presente nesta segunda edição do Cinema Bioscoop - Festival de Cinema da Holanda e da Flandres, a decorrer no Cinema São Jorge em Lisboa é uma divertida e emotiva história familiar escrita por Debrauwer em colaboração com Jaak Boon.
Tuur (Rik van Uffelen) é um sapateiro que celebra o aniversário de casamento com Emma (Marilou Mermans), uma simpática dona-de-casa que cuida de tudo e todos. No momento em que toda a aldeia se prepara para uma enorme festa em sua honra, Tuur está longe de partilhar a emoção sentida pelos demais.
Depois de Tuur abandonar a festa, Emma descobre na manhã seguinte que ele não dormiu em casa, tendo ido para casa da irmã Josée (Chris Lomme) que todos haviam renegado de uma ou outra forma, especialmente Gerda (Viviane de Muynck), também sua irmã com quem vive devido à sua invalidez, e que fica completamente transtornada quando descobre que o seu irmão a foi visitar. Depois de alguma relutância Emma visita Tuur e Josée em casa desta e da sua namorada Odette onde ambas trabalham como mulheres de espectáculo num pequeno e reputado cabaret, descobrindo que ele está pouco interessado em regressar à sua casa e à sua vida de sempre. É então que Emma se depara com uma nova perspectiva sobre a sua condição de vida e principalmente sobre si enquanto mulher que nunca viu a sua própria independência.
Depois de ver este simpático filme belga a primeira expressão que me ocorre para o caracterizar é que se nota claramente ser o fruto de um trabalho de amor. Não só pela sua fascinante história que Debrauwer e Boon escreveram como principalmente pela sua componente humanista sobre a afirmação de uma mulher no seio da sua família onde, até então, tinha sido sempre considerada como um elo nulo, sem voz, sem personalidade ou vontades e que em detrimento próprio sempre trabalhou para ajudar os demais.
Marilou Mermans tem assim a interpretação dominante ao longo de todo este filme, e consegue cativar-nos apenas com a presença de um olhar quente, sensível e com uma determinação única capaz de prender o espectador que não pára de ter uma necessidade constante em saber o que irá sair das suas acções e dos momentos mais emocionalmente complicados.
Mermans é, durante toda esta história, apenas momentaneamente abafada pela interpretação de uma vibrante e excêntrica Viviane de Muynck que enquanto "Gerda", a sua cunhada inválida, consegue ter manifestar-nos tanto ódio como simpatia e fazer-nos rir ou chorar com a mesma intensidade. "Gerda" é uma mulher que viveu toda a sua vida fechada entre as quatro paredes de um quarto sem ter quem a amasse e a ela se entregasse, não podendo assim construir a sua vida independente, ser mulher e mãe. Isenta de amor (dado ou recebido), "Gerda" teve como seu único escape dominar a vida do irmão e da cunhada a todos os minutos que conseguia e, como tal, tornar-se insuportável ao seu olhar. De Muynck consegue, sem sair do mesmo espaço físico e apenas pela força do seu olhar, dos seus gestos e principalmente das suas palavras, ser o elo forte e dominante capaz de mover montanhas e destronar qualquer outro actor e as suas sólidas interpretações.
Ainda que com sólidas interpretações do restante elenco, é a presença destas duas mulheres que domina todo o filme, e os segmentos em que as duas interagem entre si é do mais puro drama (ou comédia) que se pode ter e sentimos todas as suas emoções à flor da pele incapazes de a elas ficarmos indiferentes, e no caso de De Muynck até somos acompanhados de uma invulgar e muito coreografada banda-sonora para refletir aquilo que da sua personalidade poderemos ter.
Longe de ser uma história dramática forte e com pensamentos profundos, que também os tem, Compota é acima de tudo um filme sobre a passagem dos anos, as escolhas que efectuámos e as pessoas que esquecemos (ou tentamos esquecer) no decurso da nossa vida, e principalmente sobre a forma como todas elas (escolhas, pessoas e opções) conseguiram de uma ou outra forma influenciar a nossa própria vida de forma irreparável sem que isso seja necessariamente bom ou mau... tendo simplesmente acontecido, e deixando-nos no final como uma invulgar sensação de missão cumprida onde reflectimos sobre os nossos próprios momentos de forma a perceber se estamos (ou não) a seguir um bom caminho.
Um filme possivelmente desconhecido da maioria por terras lusitanas mas que deveria ser apreciado pela sensibilidade com que a sua história é contada e pelas fortes e muito dominantes interpretações que o par feminino protagonista deposita nas suas personagens que facilmente nos conquistam.
.Tuur (Rik van Uffelen) é um sapateiro que celebra o aniversário de casamento com Emma (Marilou Mermans), uma simpática dona-de-casa que cuida de tudo e todos. No momento em que toda a aldeia se prepara para uma enorme festa em sua honra, Tuur está longe de partilhar a emoção sentida pelos demais.
Depois de Tuur abandonar a festa, Emma descobre na manhã seguinte que ele não dormiu em casa, tendo ido para casa da irmã Josée (Chris Lomme) que todos haviam renegado de uma ou outra forma, especialmente Gerda (Viviane de Muynck), também sua irmã com quem vive devido à sua invalidez, e que fica completamente transtornada quando descobre que o seu irmão a foi visitar. Depois de alguma relutância Emma visita Tuur e Josée em casa desta e da sua namorada Odette onde ambas trabalham como mulheres de espectáculo num pequeno e reputado cabaret, descobrindo que ele está pouco interessado em regressar à sua casa e à sua vida de sempre. É então que Emma se depara com uma nova perspectiva sobre a sua condição de vida e principalmente sobre si enquanto mulher que nunca viu a sua própria independência.
Depois de ver este simpático filme belga a primeira expressão que me ocorre para o caracterizar é que se nota claramente ser o fruto de um trabalho de amor. Não só pela sua fascinante história que Debrauwer e Boon escreveram como principalmente pela sua componente humanista sobre a afirmação de uma mulher no seio da sua família onde, até então, tinha sido sempre considerada como um elo nulo, sem voz, sem personalidade ou vontades e que em detrimento próprio sempre trabalhou para ajudar os demais.
Marilou Mermans tem assim a interpretação dominante ao longo de todo este filme, e consegue cativar-nos apenas com a presença de um olhar quente, sensível e com uma determinação única capaz de prender o espectador que não pára de ter uma necessidade constante em saber o que irá sair das suas acções e dos momentos mais emocionalmente complicados.
Mermans é, durante toda esta história, apenas momentaneamente abafada pela interpretação de uma vibrante e excêntrica Viviane de Muynck que enquanto "Gerda", a sua cunhada inválida, consegue ter manifestar-nos tanto ódio como simpatia e fazer-nos rir ou chorar com a mesma intensidade. "Gerda" é uma mulher que viveu toda a sua vida fechada entre as quatro paredes de um quarto sem ter quem a amasse e a ela se entregasse, não podendo assim construir a sua vida independente, ser mulher e mãe. Isenta de amor (dado ou recebido), "Gerda" teve como seu único escape dominar a vida do irmão e da cunhada a todos os minutos que conseguia e, como tal, tornar-se insuportável ao seu olhar. De Muynck consegue, sem sair do mesmo espaço físico e apenas pela força do seu olhar, dos seus gestos e principalmente das suas palavras, ser o elo forte e dominante capaz de mover montanhas e destronar qualquer outro actor e as suas sólidas interpretações.
Ainda que com sólidas interpretações do restante elenco, é a presença destas duas mulheres que domina todo o filme, e os segmentos em que as duas interagem entre si é do mais puro drama (ou comédia) que se pode ter e sentimos todas as suas emoções à flor da pele incapazes de a elas ficarmos indiferentes, e no caso de De Muynck até somos acompanhados de uma invulgar e muito coreografada banda-sonora para refletir aquilo que da sua personalidade poderemos ter.
Longe de ser uma história dramática forte e com pensamentos profundos, que também os tem, Compota é acima de tudo um filme sobre a passagem dos anos, as escolhas que efectuámos e as pessoas que esquecemos (ou tentamos esquecer) no decurso da nossa vida, e principalmente sobre a forma como todas elas (escolhas, pessoas e opções) conseguiram de uma ou outra forma influenciar a nossa própria vida de forma irreparável sem que isso seja necessariamente bom ou mau... tendo simplesmente acontecido, e deixando-nos no final como uma invulgar sensação de missão cumprida onde reflectimos sobre os nossos próprios momentos de forma a perceber se estamos (ou não) a seguir um bom caminho.
Um filme possivelmente desconhecido da maioria por terras lusitanas mas que deveria ser apreciado pela sensibilidade com que a sua história é contada e pelas fortes e muito dominantes interpretações que o par feminino protagonista deposita nas suas personagens que facilmente nos conquistam.
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