terça-feira, 10 de setembro de 2013

Projecto V (2012)

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Projecto V de Bernardo Gomes de Almeida, também autor do argumento, é uma curta-metragem portuguesa de ficção que nos leva até uma animada noite numa discoteca onde Rita (Joana Metrass) se diverte com duas amigas.
Depois de pedir mais uma bebida naquela que parecia ser uma festa sem fim, somos levados para um cenário completamente diferente quando encontramos Rita enclausurada num claustrofóbico espaço ao qual não se lembra como ou com quem chegou. É então que Rita julga conseguir comunicar com mais pessoas para finalmente descobrir que está vítima de um perigoso predador com um desejo de vingança.
Esta curta-metragem consegue unir dois estimulantes factores que nos fazem ficar colados ao ecrã enquanto assistimos. O primeiro prende-se com o excelente ambiente de claustrofobia e medo que ela consegue recriar e o segundo, com este directamente relacionado, por não se prender com um qualquer susto fantasmagórico que recria mas sim por um medo real que pode fazer parte da vida de qualquer pessoa mais despreocupada e inocente.  Ou seja, quantos de nós já não escutaram uma ou outra notícia em que jovens inocentes desaparecem sem deixar rasto depois de uma noite bem passada com os amigos, apenas para aparecerem tempos depois sem qualquer memória ou com a sua integridade física afectada de alguma forma? Notícias estas que estão quase sempre relacionadas com abusos sexuais, físicos ou de tráfico de orgãos, ou até mesmo de um qualquer tipo de tortura ou rapto que nos deixa preocupados com uma qualquer inocente saída à noite onde o único e exclusivo objectivo é a diversão e o convívio com os amigos mas que, por uma qualquer inadvertência ou distracção, um indivíduo é drogado e desviado do grupo para depois desaparecer sem que ninguém nele note.
Assim o argumento de Bernardo Gomes de Almeida consegue pegar em situações reais e adaptá-las ao cinema através de uma história de tortura psicológica e vingança que nos prende ao ecrã e nos deixa completamente absorvidos pela magnitude e potencial veracidade da história que para lá da ficção consegue ser uma verdadeira história de terror por se assemelhar a tantas outras que já ouvimos e que nos preocupam pelas suas consequências. E uma vez mais, este argumento tem como o seu principal ponto forte o facto de pegar numa história ficcionada e transformá-la num relato que, noutro contexto e com outros detalhes, pode ser real... e é exactamente aqui que reside o seu verdadeiro terror. Não pela ficção que aqui pode ser relatada mas sim pela potencialidade que esta história tem em assemelhar-se a tantas outras do género, quase como um verdadeiro mito urbano (que não o é).
Os predadores existem, e como a própria designação de um indica, estão sempre à caça da sua próxima presa mais ou menos precavida, normalmente distraída com a sua própria vida e problemas (ou abstracção dos mesmos) sendo nesse exacto momento em que é apanhado desprevenido que é atacado e molestado com consequências que são quase sempre desconhecidas. E é aqui que o argumento volta a ter a proeza em equacionar uma potencial ligação entre predador e presa, sendo o primeiro motivado por sentimentos de revolta e vingança contra uma vítima que desconhece os seus "porquês".
O sentimento de clausura e de claustrofobia recriados durante esta curta-metragem são, também eles, dos pontos mais fortes da mesma e que são maravilhosamente transmitidos em primeiro pela enervante interpretação que Joana Metrass transmite ao incorporar a personalidade daquela jovem mulher presa e que apenas antevê o seu próprio desespero, como também a ela se junta uma exímia direcção de fotografia de Miguel Sales Lopes que com a sua escassa captação de luz consegue colocar o espectador juntamente com "Rita" dentro daquele espaço tão minúsculo e que consome a pouca energia que temos.
Se por um lado temos um desfecho relativamente esperado sobre o destino de "Rita", não deixa de ser menos verdade que já depois dos créditos finais somos levados a criar uma nova esperança sobre a sua condição e que nos abre uma "porta" sobre uma potencial (e merecida) continuação que esta curta-metragem poderia e deveria ter e que seria muito bem-vinda.
Como apontamentos finais apenas tenho a referir o facto de termos aqui um vilão quase anónimo, do qual escutamos uma voz que pode ser igual a tantas outras e que desta forma se cria um predador desconhecido, sem rosto, sem expressão e desprovido de sentimentos que actua com um intuito de vingança e de punição... o mais assustador de todos os tipos pois é deste que se desconhecem as motivações por mais erradas e desumanas que possam ser, e finalmente como nota final tenho de dizer que temos um novo mestre do suspense e terror psicológico em Portugal... e ele assina com o nome de Bernardo Gomes de Almeida, de quem irei aguardar os futuros projectos com franca expectativa.
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8 / 10
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