La Otra Cena de Albert Blanch é uma curta-metragem espanhola de ficção e possivelmente uma daquelas que de toda a competição Fantástico da quinta edição do Piélagos en Corto - Festival Internacional de Cortometrajes de Ficción que melhor se insere na ideia que está inerente ao que se espera de um filme que sem ser sobrenatural nos remeta para um universo alternativo e diferente daquilo que conhecemos.
Naquilo que parecem ser as ruínas apocalípticas de uma cidade, um homem já desgastado pelas duras condições em que vive (José Maria Blanco) tenta regressar a casa para um importante jantar de véspera de Natal com a sua mulher (Fina Ruis), ao mesmo tempo que todos os habitantes da cidade parecem querer desesperadamente abandoná-la com o apoio das forças militares.
No meio de uma aparente e desesperante violência é quando chega a casa que se confronta com a maior dor e angústia que revelam qual o verdadeiro estado de uma sociedade que parece estar à beira do fim.
A curta-metragem de Albert Blanch é, graças ao competente e estruturado argumento de Marc Plana, uma das mais intensas que o género Fantástico poderia ter como sua representante na programação de Piélagos en Corto. Intensa por todo o ambiente que se faz sentir naquelas ruas assim como nos comportamentos de desespero e de insanidade que se fazem notar nas actuações das suas personagens, é também angustiante a imagem que é transmitida desta referida sociedade que se percebe ter ruído sem que, no entanto, sejam directamente revelados os porquês. O espectador é mantido em suspense nestas justificações, até bem perto do final, onde somos surpreendidos não pelos efeitos de uma qualquer guerra que destruiu a sociedade mas sim por um vírus que colheu milhares de vidas.
De inspiração marcada pelo universo 28 Days Later, de Danny Boyle, La Otra Cena cativa pela sua dinâmica pós-apocalíptica ao mesmo tempo que entrega um registo dramático que tem tão de convincente como desesperante por parte de José Maria Blanco que facilmente identificamos como aquele vizinho simpático que todos temos e que nos custa ver deixar-se levar por uma situação, e um mundo, que já pouco tem daquilo que conhecemos e que mais se assemelha a algo que "sobreviveu" a uma devastadora guerra. A sua direcção de fotografia da autoria de José Luis Bernal que capta um universo onde a própria luz é já uma miragem, carregando soturnamente todo o semblante dos seus actores e dos espaços aos quais estes tentam, ironicamente, dar vida e uma música original de Cesc Vilà que entrega um ambiente e dimensão muitos próprios a esta curta, são elementos apenas suplantados por uma perfeita junção das componentes técnicas nomeadamente a caracterização que esteve a cargo de Oscar Coma e África Pérez e pela direcção artística de David Faüchs e Fanny Espinet que nos mostram uma cidade perdida no meio de um conflito que, no final sabemos, ter consumido de forma invisível aqueles que "apanhou".
Com mensagem final, e talvez aquela que pelo meio do brilhante grotesco que La Otra Cena nos apresenta, temos de captar que no fim e num aparente mundo perdido, a única que pode salvar aquela escassa imagem que temos (que ele teve) do seu passado glorioso em que viveu e amou foi a única que, já tendo sido perdida, lhe garantiu um significado que a própria vida já não tinha.
Finalmente, e meramente como uma nota pessoal, quando nos questionamos sobre a qualidade das curtas-metragens do género fantástico que tantas vezes não saem glorificadas pela escassez de meios técnicos, aparecem filmes como La Otra Cena que nos comprovam que o talento, o real talento, existe na vontade e na criatividade daqueles que ambicionam fazer uma obra original sem se esquecerem de dar o seu cunho pessoal e contar uma história que esconda por detrás de imagens mais agressivas, um verdadeiro relato de entrega e de compaixão.
No meio de uma aparente e desesperante violência é quando chega a casa que se confronta com a maior dor e angústia que revelam qual o verdadeiro estado de uma sociedade que parece estar à beira do fim.
A curta-metragem de Albert Blanch é, graças ao competente e estruturado argumento de Marc Plana, uma das mais intensas que o género Fantástico poderia ter como sua representante na programação de Piélagos en Corto. Intensa por todo o ambiente que se faz sentir naquelas ruas assim como nos comportamentos de desespero e de insanidade que se fazem notar nas actuações das suas personagens, é também angustiante a imagem que é transmitida desta referida sociedade que se percebe ter ruído sem que, no entanto, sejam directamente revelados os porquês. O espectador é mantido em suspense nestas justificações, até bem perto do final, onde somos surpreendidos não pelos efeitos de uma qualquer guerra que destruiu a sociedade mas sim por um vírus que colheu milhares de vidas.
De inspiração marcada pelo universo 28 Days Later, de Danny Boyle, La Otra Cena cativa pela sua dinâmica pós-apocalíptica ao mesmo tempo que entrega um registo dramático que tem tão de convincente como desesperante por parte de José Maria Blanco que facilmente identificamos como aquele vizinho simpático que todos temos e que nos custa ver deixar-se levar por uma situação, e um mundo, que já pouco tem daquilo que conhecemos e que mais se assemelha a algo que "sobreviveu" a uma devastadora guerra. A sua direcção de fotografia da autoria de José Luis Bernal que capta um universo onde a própria luz é já uma miragem, carregando soturnamente todo o semblante dos seus actores e dos espaços aos quais estes tentam, ironicamente, dar vida e uma música original de Cesc Vilà que entrega um ambiente e dimensão muitos próprios a esta curta, são elementos apenas suplantados por uma perfeita junção das componentes técnicas nomeadamente a caracterização que esteve a cargo de Oscar Coma e África Pérez e pela direcção artística de David Faüchs e Fanny Espinet que nos mostram uma cidade perdida no meio de um conflito que, no final sabemos, ter consumido de forma invisível aqueles que "apanhou".
Com mensagem final, e talvez aquela que pelo meio do brilhante grotesco que La Otra Cena nos apresenta, temos de captar que no fim e num aparente mundo perdido, a única que pode salvar aquela escassa imagem que temos (que ele teve) do seu passado glorioso em que viveu e amou foi a única que, já tendo sido perdida, lhe garantiu um significado que a própria vida já não tinha.
Finalmente, e meramente como uma nota pessoal, quando nos questionamos sobre a qualidade das curtas-metragens do género fantástico que tantas vezes não saem glorificadas pela escassez de meios técnicos, aparecem filmes como La Otra Cena que nos comprovam que o talento, o real talento, existe na vontade e na criatividade daqueles que ambicionam fazer uma obra original sem se esquecerem de dar o seu cunho pessoal e contar uma história que esconda por detrás de imagens mais agressivas, um verdadeiro relato de entrega e de compaixão.
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