Gravidez de... Alto Risco de Albert Dupontel é uma longa-metragem francesa de comédia também protagonizada por Dupontel e por Sandrine Kiberlain que chegou a vencer o César de Melhor Actriz da Academia Francesa de Cinema na edição deste ano.
Ariane (Kiberlain) é uma juíza de valores austeros e severa conduta moral. A sua vida não se desvia para lá da sua profissão e dos seus deveros imediatos. Solitária mesmo na passagem para o novo ano, Ariane deixa-se levar pelos desafios de alguns colegas e cede juntando-se às celebrações. Embriagada passeia pelas ruas de uma Paris nocturna e praticamente deserta nas quais conhece Bob (Dupontel).
Meses depois Ariane encontra-se grávida... Sem saber como analisa todo o seu percurso e as suas memórias surgem graças às gravações das câmaras de vigilância e percebe o que realmente lhe aconteceu naquela noite. É então que Bob volta a entrar na sua vida depois de ser acusado de ter cometido um hediondo crime.
Se 9 Mois Ferme existe muito se deve ao génio de Albert Dupontel que não só interpreta como realiza e ainda escreveu o argumento premiado com o César deste filme que sendo simpático e bem disposto na sua abordagem a duas personagens que são os reais opostos um do outro. A "Ariane" de Kiberlain é uma mulher seca e apagada, auto-privada de todos os momentos que dão real significado à vida e que passa por ela sem realmente a viver ou experimentar mas que teve todas as oportunidades para fazer da sua vida algo de válido. Por sua vez, o "Bob" de Dupontel é um homem a quem a sorte não bateu à porta... de instituição em instituição e de abandono em abandono, "Bob" é um homem que se desligou da vida e que passa por ela com pequenos esquemas para sobreviver... até ao dia em que um deles corre, aparentemente, mal.
Depois de se "descobrirem" pelas trágicas circunstâncias que os vão unir e retirar do anonimato que até então tinham vivido um face ao outro, estes dois seres vêem as suas posições mudar. Se "Bob" seria facilmente considerado a presa de um regime que sempre o desprezou é ele que, no entanto, se transforma no carcereiro daquela mulher que considera ser a única capaz de o libertar de um sistema que agora o quer incriminar. Independentemente de ter ou não cometido o crime, cujos contornos descobrimos ao longo do filme, a realidade é que "Bob" se sente-se cada vez mais incapaz de dele se livrar enquanto "Ariane" se vê agora na ingrata profissão de se mostrar uma mulher capaz de sentir ou negá-lo e condenar um inocente a uma vida de prisão.
Ainda que vencedora do galardão máximo de interpretação da Academia Francesa, Sandrine Kiberlain tem aqui uma interpretação regular, especialmente se a considerarmos num grupo do qual faziam parte Bérénice Bejo em Le Passé ou Léa Seydoux em La Vie d'Adèle: Chapitres 1 et 2, sendo que o principal trunfo deste filme seja o seu argumento, também ele vencedor do César, especialmente devido à forma como consegue retratar assuntos tão sérios como a falta de liberdade e os problemas sociais que se perpetuam num sistema que não é realmente feito para todos assim como as auto-privações no sentir e nas relações interpessoais de uma forma ligeira, cómica, bem disposta e assumidamente divertida, muito graças a um conjunto de personagens secundárias que por entre os corredores dos tribunais e nas missões policiais conseguem desencantar comportamentos alternativos e praticamente surreais. No seio destas personagens secundárias, e ainda que também ele secundário dentro da própria trama, destaque ainda para um divertido tradutor de língua gestual interpretado pelo vencedor de Oscar Jean Dujardin.
9 Mois Ferme é um filme ligeiro, bem disposto e simpático que é, ao mesmo tempo, olvidável. Sedutor pela sua música original da autoria de Christophe Julien que o mergulha numa atmosfera de crime, mistério e comédia.
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"Ariane Felder: La famille est une tragédie écrite pour les parents et joué par les enfants."
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7 / 10
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