Histórias para Adormecer de Adam Shankman é uma longa-metragem de comédia da Disney que conta com a interpretação protagonista de Adam Sandler.
Skeeter Bronson (Sandler) tinha em criança o sonho de gerir o hotel do qual o seu pai era proprietário. No entanto, quando as despesas aumentam e este é obrigado a vendê-lo a um empresário de sucesso, Skeeter cresce apenas com a oportunidade de ser o biscateiro de serviço enquanto outros lucram com os dividendos que o hotel proporciona.
É quando parece que a sua vida já não tem hipótese de dar uma volta pela positiva que a sua irmã Wendy (Courteney Cox) lhe pede que toma conta dos seus sobrinhos. Sem grande escolha, Skeeter acompanha os sobrinhos todas as noites e, antes de dormir, uma história é contada para que eles adormeçam. Mas... o que acontecerá se algumas destas histórias começarem a tornar-se realidade?
A tentativa da Disney em recriar num filme de ficção um conjunto de histórias imaginadas e repletas de uma fantasia extrema, tão típica do estúdio, funciona de forma que quase arrisco dizer, desastrosa. Se por um lado os segmentos ditos "reais" em que "Skeeter" dá corpo ao homem sem objectivos, sonhos ou esperança num futuro que não se concretizou e que, como tal, o coloca como tantos dos demais, funciona de forma real e credível ao mesmo tempo que não esquece que estamos, afinal, perante um filme de família, não deixa também de ser verdade que os momentos em que priva com os seus sobrinhos e que lhe conta as histórias de embalar, estas (ou melhor as suas recriações) mais parecem momentos decadentes e sem graça que alguém foi obrigado a inserir no filme.
Às histórias, absurdas ou não é indiferente pois o seu propósito é, de facto, pôr as crianças a dormir, falta o essencial... a magia que lhes permite sonhar, ansiar, desejar e, considerando a sua idade, fantasiar com o impossível e com o improvável que para elas é uma certeza, o real e a perfeita imperfeição que desconhecem. Mais trágicas e de piada fácil, estes segmentos imaginados para o espectador são dolorosas, sem côr e apesar da explosão desta mesma por todos os locais, não conseguimos ter um único momento de credibilidade nos mesmos.
Então questionamo-nos sobre o que pensar de um filme onde é suposto a magia e a imaginação funcionar predominantemente mas onde é, no entanto, a realidade e a desilusão que conseguem não só tapar esse brilho como funcionar de forma mais eficaz? São os dramas, as desilusões, os sonhos perdidos, o alheamento da família mais próxima, a falta de trabalho e de vida sentimental de "Skeeter" que acabam por dominar o centro de atenção que esta história tem para contar e não tanto aqueles poucos momentos de fantasia, de sonho e de imaginação que tão bem caracteriza as produções da Disney. E mesmo estes momentos, pontuais ao longo da acção, acabam por não ser inspirados... não serem mágicos... e pouco retratarem do espírito de fantasia e quase alucinação que se esperam os mesmos.
Se a isto juntarmos um conjunto de actores relativamente mediáticos, destacando-se obviamente o próprio Sandler, que parecem estar aqui apenas para picar o ponto e receber um suposto cheque chorudo, estamos a meio de um Bedtime Stories que se torna cansativo, abusado e sem côr. Sandler quase roça o grotesco numa interpretação que está muito próxima do seu pior. Courteney Cox numa assumida participação especial como a irmã sisuda e também ela sem graça, faz-nos desejar pelos bons e velhos tempos da saga Scream onde conseguia, apesar do género, ter mais inspiração do que aqui. E finalmente Keri Russell que tem habitualmente um look genuíno e sensível entregando interpretações que se sentem humanas e tocantes tem aqui notórios momentos de indiferença e rudeza que tão mal a caracterizam.
Bedtime Stories é, ainda que bem intencionado, um filme fraco e extremamente frágil onde o seu propósito primeiro, e no fundo marca da Disney enquanto filme moralizador sobre o poder dos sonhos e da vontade de os tornar realidade, falha. Falha de forma que quase parece intencional e tão inspirada como o propósito que deveria fazer sentir nos seus espectadores onde, para além do tradicional filme de família, também esperam ver uma história que os faça pensar sobre os seus sonhos de criança, o seu mundo imaginado que tantos deixaram por cumprir e dessa forma, deixaram-se aos próprios por cumprir algures num tempo perdido que já não irão recuperar. E falha ainda na tentativa dos argumentistas Tom Herlihy e Matt Lopez de o transformar numa história romântica entre Sandler e Russell que, em muito tempo, demonstram a falta de química existente entre um par protagonista que aqui melhor funcionaria se o objectivo fosse em fomentar o "ódio" entre ambos.
Assim, e com a excepção de alguns cenários "regulares" (nunca magníficos), Bedtime Stories mais não é do que a forma de conseguir um salário chorudo e livre de grandes preocupações que sim... é possível que tenha obtido o seu retorno em bilheteira mas que não consegue com isso tornar-se numa história interessante e motivadora... consegue sim ser banal e aborrecida sem que, no entanto, pareça preocupar-se com isso.
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4 / 10
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