Clodette de Jose Pozo é uma curta-metragem andorrina de ficção presente na secção Nacional/Internacional da quinta edição do Piélagos en Corto - Festival Internacional de Cortometrajes de Ficción que terminou no passado dia 10 na Cantábria, em Espanha.
Uma mulher reformada (Mercé Sanz) passa horas intermináveis frente a um televisor e com o comando na mão. Este quase se assume como o seu melhor amigo pois permite-lhe ver o mundo sem sair do seu pequeno espaço.
No entanto, um dia, e para seu infortúnio ela fica presa num teleférico e sem poder pedir auxílio. Ali durante horas, recorda o seu passado recheado de memórias da sua juventude e infância.
María Canabal e José Pozo, o mesmo realizador do filme de animação El Cid: La Leyenda com o qual venceu o Goya na respectiva categoria, assinam um argumento que nos leva a viajar pela memórias e pelas recordações de uma mulher solitária. E não apenas solitária no presente onde já tem uma idade avançada mas sim um ser que percorreu o tempo sem se completar com a presença de outros. Acompanhamo-la em jovem mulher (Elisabet Terri) na qual passa ao lado das normais interacções de descoberta e cumplicidade, assim como em jovem criança (Ingrid Morell) na qual era, uma vez mais, a criança mais solitária do mundo.
É com este cenário por base que o espectador se coloca na sua posição onde se questiona sobre a francamente breve passagem por uma vida onde nem a sua vida tocou a dos demais nem nenhum testemunho da sua passagem permanece na memória de alguém. Quem a testemunho? Quem viu os seus feitos ou o seu dia-a-dia com alegrias e tristezas? Absolutamente ninguém. E isso prova a sua passagem naquele teleférico onde, tendo apenas levado o único "amigo" que a acompanha diariamente (o comando), pensando que teria um telemóvel, vê-se impossibilitada de pedir auxílio assim como ninguém dá pela sua falta até que o próximo dia chegue.
Tendo como ponto forte o estudo que se pode tecer sobre a solidão e o isolamento, Clodette sofre, no entanto, de um problema tão grave quanto aquele do qual se propõe "falar", ou seja, o seu próprio esquecimento.
Assim, sendo uma curta-metragem interessante do ponto de vista técnico com todo um ambiente que propicia a própria viagem do espectador para um cenário austero e frio típicos de uma memória apagada e distante para o qual muito contribui a direcção de fotografia de Jose Luis Pulido, não é menos verdade que a sua protagonista e o dinamismo que entrega à história, não conseguem torná-la(s) memoráveis ao ponto de nos fazer sentir que "sim... ali está uma interpretação notável" levando por sua vez o espectador a quase esquecer esta importante e tão presente história que afecta tantas pessoas de idade mais avançada como é o caso da solidão mas que é, ainda assim, captada de forma brilhante e original através dos silêncios e da incomunicabilidade existente durante toda a sua acção na qual a protagonista nunca verbaliza nenhum dos seus pensamentos. Todos, sem excepção, são apenas recuperados através da visualização da sua memória, e daquilo que o espectador depreende como sendo uma sua despedida da vida, solitária, sem testemunhas e esquecida.
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5 / 10
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