Fontelonga de Luís Costa marcou presença no primeiro dia da secção competitiva nacional da quarta edição do Córtex - Festival de Curtas-Metragens de Sintra, a decorrer no Centro Cultural Olga de Cadaval.
Este documentário em formato de curta-metragem só é "pequeno" pelo seu tamanho pois toda a sua concepção e mensagem são demasiado grandes para não lhe atribuir sem qualquer tipo de reserva uma caracterização que o coloque entre as grandes obras do cinema português. Se a isto juntarmos o facto de ser realizado por um jovem realizador, então aquilo que me resta acrescentar é que aguardo com muita expectativa todos os futuros trabalhos que Luís Costa ainda irá (espero) realizar.
Este pequeno (em duração apenas) documentário leva-nos para a aldeia de Fontelonga em Trás-os-Montes. Outrora uma aldeia muito povoada, agora é apenas uma memória quase apagada daquilo que em tempos fora, que sobrevive graças às recordações de uma das suas mais antigas habitantes que de forma cândida e emotiva as resolve partilhar.
É esta mesma partilha que faz o espectador não só identificar-se com as suas palavras e forma de comunicar como também acaba por assumir algumas dessas recordações como suas. Aos poucos nós próprios nos transportamos para aquele espaço percebendo a forma como ele em tempos fora um local cheio de vida, de momentos e de situações que transformaram aqueles que por lá passaram.
Com uma belíssima direcção de fotografia a preto e branco de Rui Ferreira e Luís Costa, sentimos que todas aquelas palavras e os seus intervenientes são, também eles, uma memória que apesar de uma intensa vitalidade se extingue lentamente e que é fortemente marcado pelos instantes finais que nos remetem para o cemitério onde tantos daqueles que deram vida a Fontelonga agora repousam.
Num marcante paralelismo com tantos outros lugares de Portugal que assistem lentamente à sua própria desertificação, e como tal também eles apenas uma longínqua memória da História, local e individual, Fontelonga marca pela sentida homenagem ao espaço, às pessoas que o povoam e principalmente à memória pois é ela que se constitui como o maior acervo da individualidade daqueles que por "ali" (seja qual fôr o local) passaram.
Fontelonga é uma obra que tanto nos emociona como nos obriga a recordar os nossos próprios espaços e locais, e que pela memória e pela forma sentida e por vezes bem disposta com que chega ao espectador faz dele um documentário que queremos recordar por muito tempo.
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