Les Lézards de Vincent Mariette é uma curtas-metragem francesa de ficção presente na competição internacional do Córtex em Sintra que ontem terminou no Centro Cultural Olga de Cadaval.
Léon (Vincent Macaigne) e Bruno (Benoit Forgeard) são dois amigos que se encontram numa sauna depois do primeiro ter ali marcado um encontro com uma mulher pela internet.
Enquanto esperam que a mulher mistério apareça e que o primeiro impacto faça cair alguns dos pré-conceitos estabelecidos pelo físico de cada um, lembremo-nos que estão numa sauna apenas com uma toalha a tapar parte do corpo, etes dois amigos, podendo avançar para um conhecimento mútuo que ultrapasse essa barreira, estes dois amigos falam sobre as relações e sobre a vida num tom cómico que demonstra o quão descontraídos podem estar os dois amigos num local que poderia ser de certa forma desconfortável.
Mariette, que também escreveu o argumento desta curta-metragem, coloca estes dois homens num espaço ao qual, tal como dois lagartos (um animal de sangue frio que se adapta à temperatura ambiente, têm também eles de se adaptar ao espaço em que se encontram. Inicialmente desconfortáveis pela pouca roupa que têm num espaço onde podem ser observados por todos, a cumplicidade latente entre ambos desenvolve-se muito rapidamente num claro sinal de que estes dois homens são amigos de longa data e que tudo o que os rodeia vai, aos poucos, tornando-se quase invisível.
Por entre desabafos que têm tanto de mordaz como de cómico estas duas personagens fazem praticamente todo o trabalho de dar vida ao argumento de Mariette e fazendo com que o espectador quase ignore todo o espaço envolvente que, na prática, poderia ser qualquer outro lugar.
Les Lézards é assim uma inteligente curta-metragem de Mariette que tem o condão de dar vida a duas cómicas e algo excêntricas personagens, recriar todo um ambiente fraterno entre as duas excelentes interpretações de Macaigne e Forgeard, criar um segmento romântico no final entre uma personagem feminina mistério (será ou não ela que estavam à espera?) e recriar uma dinâmica corporal que, graças à direcção de fotografia de Julien Poupard que elimina todos os excessos de luz ou impede qualquer penetração de cor do espaço em que se encontram, faz das formas físicas daqueles dois homens muita da temática central de toda esta história que pretende ultrapassar as barreiras físicas que podem em diversas circunstâncias definir o tipo de relação que temos com os demais. Aqui, tal como os lagartos, eles (os corpos) adaptam-se ao espaço em que se encontram esquecendo todos os pequenos grandes detalhes que podem separar as pessoas e as relações, sejam elas de que natureza forem, entre os indivíduos.
Por entre o drama e a comédia, a amizade e os afastamentos, Vincent Mariette consegue dar vida a uma história que emociona tanto pela sua simplicidade como principalmente pela sua constante mensagem em que se afirma a necessidade involuntária de estabelecer relações interpessoais, nesta que é uma curta-metragem pré-seleccionada para os César da Academia Francesa de Cinema.
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8 / 10
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