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Luminita de André Marques foi mais uma das curtas-metragens presentes na secção competitiva nacional da quarta edição do Córtex, que decorre no Centro Cultural Olga de Cadaval em Sintra.
Esta co-produção luso-romena conta-nos a história de dois irmãos Gabriel (Dragos Bucur) e Emil (Damian Oancea) que não se falando há largos anos regressam à sua vila natal para o funeral de Luminita, a mãe. A tensa relação entre ambos sente-se desde o primeiro instante e não só terão de a enfrentar como também lidar com o luto da família, as suas obrigações enquanto filhos para unir os parentes mais distantes bem como os próprios sentimentos de perda e a forma como estes poderão afectar a relação entre todos.
O argumento desta curta-metragem é também escrito pelo realizador André Marques, que nos entrega uma sentida perspectiva sobre a perda, neste caso a de um progenitor a quem todos respeitavam, ao mesmo tempo que aborda as tensas relações entre uma família que há muito se sentia separada. Podemos verificá-lo na relação distante e fria entre os dois irmãos bem como numa das irmãs de "Luminita" que há muito não sabia dela apesar de viverem relativamente perto.
A dar vida a esa história temos dois actores muito presentes em toda a sua dinâmica, ou seja, Dragos Bucur e Damian Oancea que mais com os seus olhares do que com os seus diálogos nos mostram como a indiferença está presente na relação entre os dois irmãos ao ponto de quase se manifestar algum ódio por acontecimentos passados que não são clarificados mas que também não são essenciais. A perda, e o respectivo funeral que lhe está inerente, é o motivo principal senão único da relação que se prevê última entre todas estas personagens que anseiam por uma proximidade que jamais chegará, menos agora com a morte de um familiar que os unia incondicionalmente e a quem todos prestavam o máximo respeito.
Toda esta dinâmica entre "Gabriel" e "Emil" encontra-se ainda mais presente em todos os momentos graças a uma direcção de fotografia de Claudiu Ciprian Popa que elimina todos os focos de cor ou luz dos espaços envolventes tornando todo o ambiente espacial num local desprovido de vida dando assim ao espectador a clara noção de que não só nos encontramos num local onde a vida desaparece aos poucos como está, o próprio, a definhar como se esperasse a sua própria anulação.
André Marques consegue aqui criar uma dinâmica muito interessante sobre as relações humanas extremamente bem interpretada pelos dois actores principais e que nos cativa ao ponto de nos fazer querer saber mais sobre esta peculiar família e dos problemas que os levaram em tempos a separar-se, numa curta-metragem que se assume naturalmente como um dos mais fortes trabalhos que iremos ver neste certame.
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9 / 10
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