sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Grand Central (2013)

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Grand Central de Rebecca Zlotowski foi o filme da última noite presente na Festa do Cinema Francês a decorrer em Lisboa no Cinema São Jorge, e que conta com a participação de dois dos grandes novos talentos da Sétima Arte francesa, ou seja, Tahar Rahim e Léa Seydoux.
Gary (Rahim) é um jovem perseguido por um passado que nos é desconhecido mas aparentemente turbulento que procura agora uma nova vida e um lugar para se fixar. É no momento em que encontra trabalho numa central nuclear que vive não só uma estabilidade financeira como também familiar ao ter naquele conjunto de homens com quem trabalho uma inesperada afinidade.
No entanto é naquela pacata existência que Gary conhece Karole (Seydoux), a mulher de Tony (Denis Ménochet), por quem sente uma química imediata e com quem desenvolve uma relação física e sentimental que até então lhe pareciam impossíveis.
É este amor que, apesar de perfeito, tal como as radiações com que é contaminado no seu local de trabalho, que colocam sob uma constante ameaça toda a sua existência naquele local mesmo que seja impelido pelos seus sentimentos a ali permanecer.
A realizadora Rebecca Zlotowski e Gaëlle Macé escrevem este argumento que nos leva ao seio de um ambiente pouco habitual para o género de filme que aqui se pretende recriar, ou seja, uma história de amor que se centra na relação "proibida" entre alguém proveniente de uma classe média baixa e operária que tem, de uma forma geral, a sua vida diariamente colocada em risco por vias da profissão que exerce. É este mesmo conjunto de pessoas que se assumem como renegados de uma sociedade que aparentemente os esqueceu e que deseja que assim continue, e cujo único escape que encontra é o ocasional encontro comunitário que têm todas as noites depois do trabalho. É nesta pequena comunidade que se assume conservadora e onde todos se conhecem e sabem os passos que os demais efectuam, para onde vão ou com quem estiveram que dois dos seus, "Gary" e "Karole", desafiam a ordem que foi estabelecida e inicial uma viagem de encontros escondidos onde a sua paixão assume contornos que para os demais são proibidos.
Se inicialmente "Karole" inicia esta relação como uma fonte de escape e de saciar o seu desejo carnal, com o intuito de poder constituir uma família com o seu marido "Tony" com problemas de fertilidade que facilmente podemos associar à profissão que exerce e à contaminação de que já é alvo, não é menos verdade que lentamente parece estar mais dependente sentimentalmente desta relação proibída do que aquilo que pretendia estar colocando mesmo em risco aquilo que teve como certo durante anos. "Tony", por sua vez, é um homem forte e rude que aparenta ser dono do seu próprio destino mas que, na realidade, vive ameaçado pela sua continuidade como homem de família e pai que parece não poder ser. Com risco de perder a sua mulher se lhe colocar qualquer tipo de imposição, prefere deixá-la saciar os seus desejos carnais e esperar que no final do dia ela regresse para si.
Tudo isto existe numa convivência pacífica até ao momento em que "Gary" chega às suas vidas e ameaça esta estabilidade "armada" colocando em questão todos os desejos e sentimentos que até então pareciam querer ser escondidos. Já com uma passado oculto mas que percebemos ser problemático pela sua enorme vontade de fugir bem como pela relação conturbada que aparenta ter com a sua família que não o deseja, "Gary" é um potencial risco que está prestes a explodir ao primeiro sinal de contrariedade mas que, ao mesmo tempo, abana a pequena comunidade que parecia morta e auto-excluída onde todos iam ter um descanso quase eterno de vidas passadas que, também eles, pretendem esconder.
É então neste seio que se estabelece o principal paralelismo desta história ao estabelecer uma relação entre o risco do trabalho e do amor que ambos sentem e exercem. Se por um lado o trabalho coloca em risco a sua saúde, tal como podemos constatar pela doença que assola vários membros que trabalham naquela central nuclear desde a infertilidade às febres ou fraquezas, não é menos verdade que existe na relação sentimental que "Karole" e "Gary" sentem um risco de instabilidade que a médio prazo não lhes irá garantir uma vida segura, tal como podemos constatar com a gravidez desta que faz despoletar toda uma série de acontecimentos.
Assim, e no final, o que aqui temos é um conjunto de vidas perdidas no espaço, esquecidos pelos demais (e também pelos próprios) que desejam essencialmente poder voltar a sentir, nem que seja a dor do abandono, como forma de garantirem uma percepção de que ainda existem e de que podem novamente sonhar, querer e principalmente desejar... uma vida melhor, uma segurança, um direito ou principalmente um amor que seja correspondido, e que as brilhantes interpretações de Rahim e Seydoux tão magnificamente conseguem transportar para esta história que, sem ser magnânime, consegue ser sobre pessoas com vidas mundanas e, como tal, reais.
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7 / 10
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