5 Broken Cameras de Emad Burnat e Guy Davidi é um documentário em formato longa-metragem realizado em co-produção pela Palestina, Israel, França e Holanda e que esteve nomeado ao Oscar na sua categoria na última cerimónia da academia norte-americana de cinema. Este documentário, que faz parte da selecção da Festa do Cinema Francês que agora decorre em Lisboa no Cinema São Jorge, Cinemateca e Instituto Franco-Português, conta-nos a história do próprio Burnat, um agricultor palestiniano que numa acção de não violência registou ao longo de vários anos todos os acontecimentos que decorreram na sua pequena aldeia de Bil'in e os confrontos que directa ou indirectamente o envolveram contra o exército israelita.
Um apaixonado pela arte de filmar, Emad Burnat desde muito cedo teve uma câmara nas mãos para registar tudo o que acontecia à sua volta, desde os seus acontecimentos privados passando pelas festas da aldeia e, mais tarde, o conflito que aos poucos dividida uma comunidade israelo-palestiniana.
Assim, e como o próprio título indica, as cinco câmaras a que se refere o título deste documentário são aquelas que possuiu ao longo dos anos e com as quais registou uma boa parte da sua vida e da dos seus filhos que cresceram no seio deste "hábito" de Burnat. As festas da aldeia, a sua vida familiar, a destruição das oliveiras por parte dos militares israelitas, a formação dos colonatos judaicos na Palestina bem como as constantes manifestações mais ou menos violentas que os populares realizavam estão, todos eles sem excepção, registados através do seu olhar inclusivé o período em que o próprio foi detido por filmar aquilo que, segundo a lei do mais forte, estava proibido de filmar.
Assim 5 Broken Cameras é, para além de um "simples" documentário, uma obra que nos mostra não um olhar pré-formatado sobre uma realidade que se pretende ser cuidadosamente apresentada mas sim um filme cujo principal objectivo é mostrar o olhar de um homem comum no seu dia-a-dia, no qual se destacou por ser o agricultor com uma câmara. Agricultor esse que numa dada altura decide mostrar a importância do seu espaço e da sua terra que aos poucos lhe foi retirada... ano após ano cada vez tinha o seu espaço mais limitado e, como o próprio diz a certa altura "a terra é, para além do sítio de onde retiramos a fonte de alimento, aquele que nos une"... que nos une a um espaço, a um local que nos entrega um sentimento de pertença e principalmente àquele onde, tal como as árvores, podemos referenciar como sendo o das nossas raízes.
Os objectivos principais deste documentário que, quer queiramos quer não, se prendem invariavelmente com o próprio conflito israelo-palestiniano, são assim cumpridos. Temos um olhar sobre "o outro lado", pouco habitual aliás, daquilo que decorre dia após dia, ano após ano, num conflito que parece não ter fim e que aos poucos consome não só as pessoas envolvidas como principalmente a réstia de dignidade que têm bem como essas mesmas já referidas raízes.
Interessante pela abordagem humanista que é dada ao retratar uma vida comum e banal de um homem como tantos outros mas que ao mesmo tempo peca por não nos inserir mais na vida daquela família, da qual apenas temos leves referências às diferentes etapas do crescimento dos seus filhos e da forma como o conflito em si influencia a percepção que o mais novo tem do mundo no qual nasceu e cresceu e, apesar de ser um documentário que nos cativa não é menos verdade que nos deixa uma vontade latente em poder ter um pouco mais que... não chega.
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