Rei Inútil de Telmo Churro foi a última curta-metragem de ficção a ser exibida na competição nacional do Córtex, em Sintra e que nos conta a história de Tiago (Pedro Neto), um jovem de 18 anos que vive o seu drama pessoal ao suspeitar que vai chumbar pela terceira vez no final do secundário.
Entre a pressão da namorada para ir uma vez mais na viagem de finalistas a Paris e o ter de contar à sua simpática mãe que vai chumbar de ano, o desespero de Tiago leva-o, após anos de ausência, a visitar uma Igreja onde pede ajuda divina.
Enquanto por ela (des)espera, Tiago terá de tomar decisões que irão definir a sua vida percebendo assim que finalmente chegou a altura de aceitar algumas responsabilidades.
Longe de qualquer dramatização excessiva, Telmo Churro dirige aqui uma sentida e reconfortante curta-metragem que nos dá um olhar que, arrisco dizer, é terno e franco sobre uma das grandes transformações pelas quais todos os adolescentes passam ao "enfrentar" pela primeira vez uma idade adulta e as consequências que o futuro dali irão retirar.
Pelo meio de divertidas segmentos na escola para quem os professores já olham com alguma condescendência e irremediável desinteresse, "Tiago" acaba por ser o retrato de um espírito livre típico da adolescência mas que, ainda assim, assume em silêncio preocupações maiores que esconde dos demais. A sua vontade de passar de ano e dar por terminado o secundário ou as preocupações que trará à sua terna e dedicada mãe estão tão presentes como uma súbita espiritualidade que procura numa igreja que demonstram que quando tudo o resto "falha", Deus está sempre presente nos corações de todos. Momento este que se constitui como o mais cómico e bem disposto de todo este filme que não sendo juvenil, mistura elementos do género como um certo "despertar" da idade adulta e da percepção que a vida já não é apenas uma diversão sem limites.
Se Pedro Neto interpreta (e muito bem) um determinado e bem disposto, apesar de melancólico, "Tiago" com uma alma maior do que o mundo, não é menos verdade que toda a atmosfera de Rei Inútil nos remete para uma reflexão sobre as escolhas, as oportunidades e as ocasiões que uma altura tão reveladora" como o fim da adolescência proporciona (ou proporcionou) a qualquer um de nós, demonstrando que apesar de muitos não pensarem nela, a idade acaba por passar e as responsabilidades surgem de forma natural e espontânea não podendo delas fugir.
E se tudo nos leva a esses pensamentos mais sérios e de reflexão sobre o passado e sobre o que o futuro pode trazer, não deixa também de ser verdade que o comportamento ora semi-preocupado ora semi-descontraído que Pedro Neto transporta para uma curta-metragem que domina desde o primeiro instante, consegue fazer-nos crer que seja lá que futuro fôr esse que nos espera tudo, sem excepção, irá resolver-se da melhor forma e saímos da sala de cinema com a consciência de que tudo está simplesmente bem.
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8 / 10
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