Aux Yeux de Tous de Cédric Jimenez presente na Festa do Cinema Francês a decorrer em Lisboa no Cinema São Jorge, é um interessante e inovador thriller que este realizador tão inteligentemente soube levar ao cinema a partir de um argumento que também escreveu em colaboração com Audrey Diwan e Arnaud Duprey.
O terminal de Austerliz, um dos mais movimentados de toda Paris. Uma bomba que explode. Um número infindável de vítimas.
Através dos milhares de câmaras de segurança espalhadas por toda a cidade, um hacker descobre as imagens do atentado, que fora entretanto conotado com a Al Qaeda, começando a interligar a presença de Nora (Mélanie Doutey), Sam (Olivier Barthelemy) e Otar (Francis Renaud) momentos antes daquele instante fatal na gare, e percebendo que por detrás do mesmo está muito mais do que o conveniente atentado islâmico que alguns pretendem fazer crer.
Para além do habitual filme onde a trama política serve como pano de fundo para todo um conjunto de trágicos acontecimentos, que aqui colocam a cidade de Paris no centro da nossa atenção, este filme equaciona também um interessante dilema que, muitas vezes, tendemos a esquecer, isto é, num mundo que está vigiado a todos os instantes e por todo o lado, quão difícil é encontrar provas que justifiquem os factos quando existe alguém realmente interessado nos mesmos?
Este filme que está todo construído, há excepção dos minutos finais, com base em supostas gravações de câmaras de vigilância colocadas nos mais diversos locais desde a gare de Austerlitz onde tudo começa, passando pelo metro, ruas mais ou menos movimentadas, caixas multibanco, edifícios governamentais ou até mesmo as tão inocentes webcam pessoais, a exímia edição de Marie-Pierre Renaud e Nicolas Sarkisian leva-nos a um brilhante conjunto de segmentos como se de facto seguissemos a todo o instante aqueles três intervenientes a cada passo que eles dão... por mais insignificante que possa parecer para os próprios... eles estão a ser vigiados, e todos os seus actos são registados.
É com isto que passamos à segunda importante questão que este filme nos coloca quando somos levados a questionar o quão privada é a nossa vida num mundo que é sistematicamente vigiado por um qualquer desconhecido em locais tão díspares como um hospital onde podemos estar a receber cuidados médicos, num metro através do qual nos deslocamos para o local de emprego ou até mesmo num café onde tranquilamente tomamos o nosso pequeno-almoço, sendo também neste exacto momento que percebemos que a noção de liberdade que tivemos é apenas uma vã miragem daquilo que ela na realidade é, podendo terminar quando alguém com mais recursos decide que ela chegou ao fim.
Teoricamente Aux Yeux de Tous pode não ter aquele final que esperamos para todas as personagens, apesar de na prática todas ficarem à mercê do destino que de facto merecem, mas não deixa de ser uma história vencedora pelas premissas que aborda, pela forma como as explora e principalmente por nos deixar pensar que o mundo real encontra-se bem longe daquilo que pensamos que ele é.
.
.
7 / 10
.
Sem comentários:
Enviar um comentário