quinta-feira, 23 de junho de 2011

Rails & Ties (2007)

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Laços de Esperança de Alison Eastwood é um simpático drama com uma dupla de peso nos protagonistas... Kevin Bacon e Marcia Gay Harden.
Tom (Bacon) é um maquinista algo descontente com a vida, casado com Megan (Harden) recuperada de um cancro. Não têm filhos e a sua vida é vivida num silêncio cortante a que se foram habituando.
Um dia Tom no comboio onde servia como maquinista-chefe embate num carro que havia parado propositadamente na linha. Uma mulher morre mas Davey (Miles Heizer), o seu filho, sobrevive.
Aquilo que se passa em seguida é a passagem de Davey por um lar de acolhimento até que decide ir de encontro à casa do homem que, para ele, matou a sua mãe. Decidido a encontrar nele um homem horrível, uma ameaça à sua estabilidade e um inimigo, será que é isso que no final acaba por acontecer entre Davey e Tom?
Pelo contrário o que iremos ter é uma porta aberta por parte de Megan que vê em Davey o filho que nunca teve no seu casamento. Vê a criança que espera poder tomar conta e criar tal como se fosse do seu próprio sangue. E é aqui que entram as perguntas principais de toda esta história... A primeira que gira em torno das escolhas que fazemos ao longo da nossa vida e sobre a forma como elas a influenciam.
A segunda, e talvez aquela que consegue ser a mais importante... até que ponto é "nossa" família aquela que partilha o mesmo sangue ou aquela que nos cria e por quem criamos e estabelecemos laços de afectividade superiores a qualquer outra força?
Será mais "nossa" família aquela onde nascemos e que bem ou mal nos dá atenção... ou aquela que no percurso da "nossa" vida estabelecemos como sendo as pessoas junto das quais queremos viver e crescer?
Alison Eastwood, filha desse grande génio das emoções humanas que é Clint, tem para a sua estreia na realização uma obra não poderosa mas interessante. Aliás, eu diria mesmo que é um prenúncio de um caminho promissor de alguém que pretende dar continuidade a esse mesmo trabalho de relatar e contar boas histórias onde essas relações humanas sejam ponto fundamental.
Para isto Alison Eastwood já começou bem e com um duo de actores principais que faria invejar qualquer realizador. Tanto Kevin Bacon como Marcia Gay Harden dão um brilho especial às suas personagens. Bacon (Tom), de quem estamos habituados a ver interpretar o "mau" da fita, é aqui um homem amargurado pela vida cujos sonhos e ambições ficaram perdidos algures e cujo passar dos anos os fez não ultrapassar mas enterrar. Bacon não é o mau da fita. Antes pelo contrário. Aqui ele é simplesmente um homem a quem a vida não permitiu dar o melhor de si. E é com essa amargura e afastamento voluntário que fez da maioria das pessoas que o impediu sistematicamente de criar alguma espécie de laços à excepção daqueles que tem no seu casamento.
Por sua vez Marcia Gay Harden interpreta Megan, a mulher doce e afável que teve apenas um grande sonho na sua vida... ser mãe. Sonho esse que acabou por se pôr de lado, mas não esquecer, devido à sua gravemente debilitada saúde. O amor e a afabilidade presentes na sua personagem ganham um novo sentido quando ela conhece Davey, a tal criança sem rumo por ter perdido a mãe, mas que ela vê como o seu potencial filho do coração. Não será o seu desempenho maior enquanto actriz (Conhece Joe Black? sê-lo-à certamente), mas não deixa no entanto de mostrar a imensa capacidade afectiva que esta actriz consegue criar com as suas personagens muitas vezes reprimidas.
Um último apontamento positivo à banda-sonora do filme composta por Michael Stevens em parceria com Kyle Eastwood, mais um membro do clã, que uma vez mais incutem ao filme uma verdadeira atmosfera de sensibilidade e onde conseguimos claramente perceber que o que une estas diversas personagens é algo maior e que ultrapassa todas as adversidades... o amor.
Agrada-me encontrar estes pequenos filmes que passam quase despercebidos quer no mercado dvd quer nas televisões nacionais e que conseguem preencher na perfeição um serão cinematográfico no seu melhor nível. Totalmente recomendado para os apreciadores de um bom cinema dramático sem que, para isso, pensem que vão chorar baba e ranho.
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7 / 10
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