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O Estrondo II de Rúben Ferreira foi, para mim, a surpresa do momento. Habituado que estou a ver o intenso trabalho deste jovem realizador (e promessa) no âmbito das curtas-metragens, foi com espanto e agrado que ao começar a ver este novo filme reparado que ele ultrapassa os noventa minutos de duração, transformamdo-se assim na primeira longa-metragem do ano que, apesar de não estreada comercialmente, abre o panorama nacional de cinema.
Para quem já viu O Estrondo inicial já sabe o que o pode esperar nesta que agora se assume como uma saga (que duvido que fique apenas pelo segundo título) que coloca o realizador Rúben Ferreira numa nova parceria com Alexandre Santos, dupla esta que também assina o argumento da longa, e na qual este último persegue incansavelmente a sua "droga" preferida para mais uma "moca" divinal.
Os instantes iniciais deste filme são do mais explícito possível, e por momentos fariam corar qualquer pessoa mais sensível, no entanto esta saga d'O Estrondo começa a denotar positivas influências de um cinema popular, explícito e divertido que se assemelha a outros êxitos do passado, e igualmente vernaculares, como a saga britânica Carry On... ou o temporalmente mais recente João Broncas transalpino. A diferença é que enquanto estes eram claramente feitos com o objectivo de alcançar um público mais velho, O Estrondo português consegue facilmente alcançar uma legião de fãs mais adolescentes com um estilo de cinema que muitos irão considerar mais próximo e divertido.
O argumento de Rúben Ferreira e de Alexandre Santos, tem claros momentos de improviso e de espontaneidade que, na sua maioria, são bem conseguidos mas que por não serem posteriormente editados e coordenados com os momentos das restantes personagens criam, por ocasiões, uma sobreposição dos diálogos fazendo com que alguns se percam. Não sendo prejudicial para a trama e aventuras da dupla protagonista, é no entanto essencial que todos consigam coordenar os seus tempos e presenças, que é como quem diz, não sendo este um factor negativo precisa, obviamente, de ser aperfeiçoado.
Outro aspecto a salientar é a respectiva edição do filme para evitar algum constrangimento na continuidade da história como podemos constatar logo nos momentos iniciais quando vemos um segmento do "Alex" em que ele faz a barba mas, momentos depois quando já se encontra no bar... já ela está por fazer novamente. Não sendo um elemento essencial no filme não deixa ao mesmo tempo de ganhar alguma importância quando é dado devido destaque ao referido processo frente ao espelho.
Mas os momentos positivos são tantos que se sucedem a um ritmo alucinante que rapidamente nos esquecemos desses detalhes. Desde a forma como a mulher do gunão (carocho aqui para Lisboa) é tratado não só por ele como pelos raptores que fazem dela um verdadeiro saco de batatas, passando pela forma como os dois amigos se separam e o seu emocionante e sentido reatar de amizade, ou mesmo o chefe mafioso que impõe a ordem e respeito aos seus lacaios pelo medo, mas que depois gosta muito de passar tempo com um dos mesmos (que nada se importa) em prazeres mais "carnais", são delirantes e impossibilitam-nos de ficarmos muito tempo sem nos rir de tudo aquilo que vemos.
De salientar ainda pela positiva o facto deste filme ser um investimento independente feito com os esforços da equipa Dark Studios que o produz, e com a vontade inata que este conjunto de amigos tem em fazer cinema (até à data com as suas inúmeras curta-metragens), e onde toda a produção ficou com uma base de 600€ de investimento. Se pensarmos na legião de fãs que esta equipa já tem, com condições de exibição normais para uma longa-metragem, este dinheiro seria facilmente retribuído aos mesmos, senão mesmo ultrapassado, possibilitando-os assim de prosseguir com mais segurança para os próximos projectos. E quem disto duvida basta pensar na quantidade de visualizações que este filme já obteve no youtube onde está disponível.
Mesmo estando um pouco mais "tremido" em relação ao original, facto do qual normalmente padecem todas as sequelas, não deixa de ser reconfortante a ideia de que uma equipa independente e desconhecida dos meios habituais, consegue pelo seu esforço e trabalho ter os seus projectos lançados num mercado que se percebe querer vê-los. Pena é que, financeiramente falando, projectos como este que a Dark Studios apresenta não sejam recompensados. Por outro lado, com mais estudo e desenvolvimento de projectos, repito o que já disse noutras ocasiões, e o futuro deste jovem realizador será certamente risonho e pessoalmente falando aguardo não só pela continuidade destes como por novos projectos onde possa mostrar até onde irá a versatilidade dos mesmos.
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"Alex: A tua vida é só altos e baixos."
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6 / 10
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